Teatro
Órfãos de Dennis Kelly
Até onde estaria disposto a ir na defesa de um familiar? Este podia ser o mote de Órfãos, peça de Dennis Kelly que, desde a estreia em 2009, nunca mais deixou de ser encenada um pouco por todo o mundo.
20 Nov a 13 Dez 2025
Helen (Inês Barros) e Danny (Tiago Moreira) estão a desfrutar de um momento apaixonado na vida de casal quando são surpreendidos pela chegada abrupta de Liam (Fábio Costa), irmão de Helen, manchado de sangue do tronco para cima. À dúvida sobre o que terá acontecido, seguem-se incertezas sobre como proceder face às explicações contraditórias de Liam. Com diálogos impressionantemente bem concebidos, a trama desenrola-se através de uma sucessão de argumentos, lapsos e falácias, típica dos thrillers psicológicos cuja marca essencial é o suspense que garante tensão do princípio até ao fim.
A entrada em cena de Liam é o motor de arranque de uma discussão sobre a volatilidade dos laços familiares, as fracturas sociais, a criminalidade, o aborto, os efeitos da imigração, o racismo, a tortura, a alienação da consciência moral e dos valores que a sustentam. Tal como o título indica, estamos perante um objecto em que o desamparo e o abandono são marcas essenciais, ainda que não devam ser lidas de modo literal. A orfandade aludida na peça dá-se tanto no plano familiar como no plano social. Disse o próprio Dennis Kelly, em entrevista a Lyle Brennan (The Skinny), que o título «se refere a uma sensação de nos sentirmos órfãos dentro da sociedade.» (2009).
Uma das dimensões mais interessantes neste trabalho do dramaturgo inglês é precisamente o modo como nele se processa o encontro entre uma sociedade corrompida pela violência, pela cultura do ódio, e uma família num momento de disrupção motivado pelo confronto com a realidade. Em Órfãos não vislumbramos nenhuma tentativa de nos convencer do que quer que seja. A situação abordada é antes exemplo de como nenhuma pessoa está a salvo da barbárie e da crueldade.
Com tradução e encenação de Henrique Fialho, Órfãos conta com a interpretação de Fábio Costa, Inês Barros e Tiago Moreira, cenografia de José Carlos Faria e desenho de luz de Hâmbar de Sousa.
Mais informações em teatrodarainha.pt.

