A peça dialoga com os 20 anos do CCVF para questionar o lugar do teatro não só como a máquina de memória dissecada por Marvin Carlson, mas como o palco assombrado a que exigimos imaginação para andar em frente.

Uma pergunta que serve já como assombração: se os fantasmas à nossa frente são tão translúcidos, porque é que não é através deles que vemos o nosso futuro? E quanto ao Teatro: pode a força da promessa, como nos adianta Marina Garcés, servir-se dele para interromper verdadeiramente o tempo?

Em palco raramente se coloca mais do que fantasmagorias do real, neste caso imaginadas em torno da figura de Chalino Sánchez, o malogrado ‘rey del corrido’ do México, bem como da vida e da figura muito viva de Rebeca Cunha, atriz vimaranense.

O que significa receber um papel? Para Chalino, significou a morte, quando um espectador lhe entregou um papelinho, na primeira fila de um concerto em Culiacán, em 1992. O cantor limpou o suor da testa e decidiu continuar a cantar, ignorando a didascália que prometia a sua morte. Acabou baleado.

Nós, faríamos o quê? E se, no Teatro, está o tempo tão urdido e ensaiado de antemão, como pode o futuro desenrolar-se neste lugar? É uma pergunta antiga.

O próprio processo de criação acaba por redundar numa manta composta por ideias cosidas umas em cima das outras, por pontas soltas, ideias não materializadas. Uma manta cerzida com novas entradas, e assim sucessivamente. Parte do que fica para trás acaba por ser, também, uma promessa por cumprir.

De resto, este é o primeiro espetáculo de Bruno dos Reis como diretor artístico do Teatro Oficina, fechando um último ciclo de programação com o mote "nova vida para velhos fantasmas".

Levado a cena no Grande Auditório Francisca Abreu (CCVF), esta criação com texto e encenação de Bruno dos Reis conta com ainda com a assistência e direcção de actores de Nuno dos Reis, apoio à dramaturgia por Simão Freitas, a interpretação de Ana Carolina Fonseca, Daniel Seabra, Duarte Melo, Jacinto Cunha, João Cravo Cardoso, Iúri Santos e Martinha Carvalho e Rebeca Cunha.

Os bilhetes para assistir a esta estreia absoluta têm o valor de 10 euros ou 7,5 euros com desconto, podendo ser adquiridos online em oficina.bol.pt e presencialmente nas bilheteiras dos equipamentos geridos pel’A Oficina como o Centro Cultural Vila Flor (CCVF), o Centro Internacional das Artes José de Guimarães (CIAJG), a Casa da Memória de Guimarães (CDMG) e a Loja Oficina (LO).