Exposições
NOISE de Ana da Silva
A PORTA 33 apresenta NOISE de Ana da Silva, artista madeirense e figura central do pós-punk internacional, cuja obra singular articula música, pintura e experimentação contemporânea.
6 Dez a 29 Abr 2026
NOISE, de Ana da Silva: onde som e imagem se fundem
6.12.2025 — 29.04.2026
Curadoria: Miguel von Hafe Pérez
“A música também é pintura”, afirma Ana da Silva, artista madeirense e figura central do pós-punk internacional, cuja prática cruza gesto, escrita, som, composição e imagem. Como descreve a autora Jenn Pelly, o seu “estilo lírico, poético e inovador de criar ruído com a guitarra” atravessa igualmente a sua obra visual, onde pinta com ruído e faz ressoar textura pictórica através da palavra e da guitarra.
A exposição NOISE, patente na PORTA 33, reúne séries inéditas e obras recentes, acompanhadas por fotografias, cartazes, capas de discos, arquivos pessoais, livros, vinis e objetos que revelam a profunda continuidade entre as linguagens visual e sonora da artista. Entre os trabalhos apresentados, numa das pinturas da série Noise ouve-se Shouting Out Loud A Woman Alone (2024). A capa de Island — o álbum que Thurston Moore definiu como “o melhor LP de 2018, sem qualquer competição” — evidencia a colaboração entre Ana da Silva e a artista de música eletrónica Phew, num azul vibrante que convoca diálogos inesperados. Peças icónicas, como a blusa “Madeira”, usada no primeiro concerto das The Raincoats em 1977, reforçam a genealogia afetiva, feminista e irreverente que marca o pós-punk expandido pela artista.
Para o curador Miguel von Hafe Pérez, trabalhar com a artista é “um privilégio”, pelo modo como “encara a possibilidade da arte se ancorar em princípios de fuga à convencionalidade e à necessária inscrição divergente no universo da cultura tão burocraticamente gerida”. Nas suas obras plásticas, observa ainda, “frases e palavras das letras criadas para a banda, descontextualizadas e em diálogo com a imagem, ganham uma espessura paradoxalmente mais aberta”. Nos trabalhos mais recentes, “as formas vão aparecendo em fundos texturados, de variações sensíveis que vão de um existencialismo inquietante ao mais exultante lirismo”. Ana da Silva construiu, conclui, “uma idiossincrática voz onde a palavra, o conceito e representação sempre exprimiram sentimentos pessoais tornados intemporais pela sua universalidade ecoante”.
A exposição revisita também o impulso inaugural da sua criação. Aos 15 anos, no Louvre, o impressionismo abriu-lhe novas formas de ver. De regresso à Madeira, ainda isolada pelas dinâmicas culturais do Estado Novo, pediu à mãe material de pintura, um gesto germinal que se tornaria indissociável da sua estética visual e sonora.
NOISE afirma esse percurso como uma prática de fronteira: uma obra aberta, generosa, que permite que o ruído de Ana da Silva continue a criar novas escutas e novas percepções do presente.
A exposição NOISE integra as celebrações dos 35 anos de programação contínua da PORTA 33 - Associação Quebra Costas Centro de Arte Contemporânea, uma das instituições independentes mais consistentes do país, dedicada à criação, investigação e mediação em arte contemporânea.

