Teatro
O Som e a Fúria
Uma produção do TeatroMosca, a partir do romance homónimo de William Faulkner

10 Set a 12 Set 2015
Teatro da Politécnica
Rua da Escola Politécnica, 56, 1250-102 Lisboa
O Som e a Fúria
A partir do romance homónimo de William Faulkner
Adaptação de Alexandre Sarrazola
Direção artística de Pedro Alves
Produção teatromosca
A partir do romance homónimo de William Faulkner
Adaptação de Alexandre Sarrazola
Direção artística de Pedro Alves
Produção teatromosca
«O Som e a Fúria» é o segundo espetáculo de uma trilogia que o teatromosca dedica à literatura americana (em 2013 apresentou «Moby Dick» de Herman Melville e em 2015 será a vez de «Fahrenheit 451» de Ray Bradbury).
Com «O Som e a Fúria», Faulkner acentua, com desdenhosa energia, o caráter denso e obscuro da sua prosa. O texto, dividido em quatro seções distintas, centra-se na ruína da família Compson, antigos aristocratas do Sul dos Estados Unidos que, num ambiente de desintegração e constrangimento, lutam para lidar com a dissolução da sua família e da sua reputação. A primeira parte, referente ao dia 7 de abril de 1928, é narrada por Benjy, o filho mais novo dos Compson, surdo-mudo e idiota, e através dos seus monólogos – num labirinto de pensamentos inarticulados e nebulosos com imprevistos golpes de luz que fazem intuir atos de violência e sangue – o leitor deverá (re)construir toda a ação. A segunda secção, relativa ao dia 2 de junho de 1910, é narrada por Quentin Compson, irmão mais velho de Benjy, e mostra-nos os acontecimentos que levaram ao seu suicídio. Na terceira secção, de 6 de abril de 1928, Faulkner escreve do ponto de vista de Jason, o cínico irmão de Quentin e Benjy, que, após o falecimento do pai, se assume como pilar económico da família. A quarta secção, que decorre um dia após os acontecimentos descritos na primeira secção, é a única que não é narrada na primeira pessoa; centra-se, principalmente, em Dilsey, a velha criada negra da família e observadora privilegiada da destruição dos Compson.
Não parece haver foco central na narrativa, apesar de os três primeiros narradores centrarem as suas atenções em Caddy, a única filha dos Compson. Mas a perda da virgindade de Caddy Compson não é verdadeiramente o foco da tensão do texto. O que interessará mais será, porventura, o significado que os seus três irmãos atribuem a esse acontecimento. Para cada um deles, Cady significará algo diferente. E cada um deles olhará para ela e para as suas ações de modo diferente. Cada um cria a sua verdade privada, o seu mundo fechado. A deficiência de Benjy será disso um bom exemplo, tal como o suicídio de Quentin ou o isolamento calculista de Jason. As personagens, mais mergulhadas no passado e nas suas memórias do que no presente e no imediato, não agem, são levadas a agir, e cada um constrói o seu próprio pequeno mundo privado, isolando-se cada vez mais. A própria casa dos Compson parece um símbolo desse isolamento, cada quarto mais como um mausoléu privado. Somente a cozinha de Dilsey parece ter vida. Cada um dos irmãos de Caddy apresenta a sua “verdade” e a distorção da verdade. A última secção do texto dá-nos o ponto de vista de uma pessoa interessada mas não envolvida nos eventos. Através do ponto de vista distanciado da negra Dilsey, completamos a viagem, que se inicia no mundo privado da família Compson, para a esfera pública que é representada pela cidade de Jefferson. E essa mudança é acompanhada por uma gradual mudança do fluxo de consciência dos três primeiros narradores para uma narrativa mais linear e convencional do último narrador. Na última parte, emergimos do mundo fechado dos Compson para percebermos que Caddy não chega nunca a existir verdadeiramente no texto para além das memórias e imaginação das outras três personagens. Caddy não ganha voz própria e é revelada através do olhar dos outros. E acaba por ser Dilsey quem criará ordem a partir da desordem; ela é o documento, a prova viva, de tudo o que aconteceu naquela família.
O primeiro grande desafio neste espetáculo começa por ser trabalhar sobre um texto onde nada acontece realmente. A trama não evolui de forma tradicional. As personagens e as ações parecem estar cristalizadas, não há futuro, o presente é sempre um acontecimento passado, monstruoso e incompreensível, e, no entanto, tanto parece ter acontecido. Os momentos surgem, ficam suspensos e desaparecem. Por exemplo, o momento exato do presente de Quentin é o minuto infinitésimo da sua morte, tentando escapar às suas memórias porque, com o suicídio, pretende apagar a traição de Caddy que, no fundo, só existe na sua memória. De facto, não é senão o Tempo que parece assumir-se como verdadeiro foco do texto de Faulkner, fazendo da questão da forma e da técnica (tão estranha e sofisticada ainda hoje) um assunto inevitável na abordagem que dele pretendemos fazer.
FICHA ARTÍSTICA E TÉCNICA
Texto | William Faulkner
Direção artística |Pedro Alves
Adaptação | Alexandre Sarrazola
Direção de movimento | Daniel Cardoso
Interpretação | Filipe Araújo, João Cabral e Ruben Chama (atores), Catarina Correia, Margarida Costa e Inês Pedruco (bailarinas) e Ruben Jacinto (músico)
Assistência de direção | Mário Trigo e Maria Carneiro
Cenografia | Pedro Silva
Figurino | Carlos Coxo
Design gráfico | Alex Gozblau
Direcção técnica | Carlos Arroja
Vídeo | Ricardo Reis
Fotografia | Catarina Lobo
Assessoria de imprensa e gestão | Joaquim René
Hairstyling | Sara Vargas (Señorita Scarlett)
Produção | teatromosca
Coprodução | Quorum Ballet, Theatro Circo de Braga, Arte Institute (NY), Embaixada dos EUA, Festival de Teatro Setúbal/Teatro Estúdio Fontenova e Festival Internacional de Teatro do Alentejo/Lêndias d’Encantar
Parcerias | Festival Les Eurotopiques, Biblioteca da Faculdade de Letras da UL, Biblioteca da Faculdade de Letras da UP, Biblioteca Universidade de Aveiro, Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade Nova de Lisboa, Teatro Meridional, Câmara dos Ofícios, Teatro Experimental de Cascais e Teatro Art’Imagem/Festival Fazer a Festa
Financiamento | Governo de Portugal | Secretário de Estado da Cultura – DGArtes
Apoios | Câmara Municipal de Sintra, 5àSEC, Junta de Freguesia de Agualva - Mira Sintra, Instituto do Emprego e da Formação Profissional, Fundação GDA, Teatro Nacional D. Maria II, Chão de Oliva e Artistas Unidos
Media Partners | Saloia Tv, Jornal Hardmusica, Gerador e Correio de Sintra Agradecimentos | João Pedro Frazão
Espetáculo com a duração aproximada de 130 minutos (sem intervalo)
Para maiores de 14 anos
Com «O Som e a Fúria», Faulkner acentua, com desdenhosa energia, o caráter denso e obscuro da sua prosa. O texto, dividido em quatro seções distintas, centra-se na ruína da família Compson, antigos aristocratas do Sul dos Estados Unidos que, num ambiente de desintegração e constrangimento, lutam para lidar com a dissolução da sua família e da sua reputação. A primeira parte, referente ao dia 7 de abril de 1928, é narrada por Benjy, o filho mais novo dos Compson, surdo-mudo e idiota, e através dos seus monólogos – num labirinto de pensamentos inarticulados e nebulosos com imprevistos golpes de luz que fazem intuir atos de violência e sangue – o leitor deverá (re)construir toda a ação. A segunda secção, relativa ao dia 2 de junho de 1910, é narrada por Quentin Compson, irmão mais velho de Benjy, e mostra-nos os acontecimentos que levaram ao seu suicídio. Na terceira secção, de 6 de abril de 1928, Faulkner escreve do ponto de vista de Jason, o cínico irmão de Quentin e Benjy, que, após o falecimento do pai, se assume como pilar económico da família. A quarta secção, que decorre um dia após os acontecimentos descritos na primeira secção, é a única que não é narrada na primeira pessoa; centra-se, principalmente, em Dilsey, a velha criada negra da família e observadora privilegiada da destruição dos Compson.
Não parece haver foco central na narrativa, apesar de os três primeiros narradores centrarem as suas atenções em Caddy, a única filha dos Compson. Mas a perda da virgindade de Caddy Compson não é verdadeiramente o foco da tensão do texto. O que interessará mais será, porventura, o significado que os seus três irmãos atribuem a esse acontecimento. Para cada um deles, Cady significará algo diferente. E cada um deles olhará para ela e para as suas ações de modo diferente. Cada um cria a sua verdade privada, o seu mundo fechado. A deficiência de Benjy será disso um bom exemplo, tal como o suicídio de Quentin ou o isolamento calculista de Jason. As personagens, mais mergulhadas no passado e nas suas memórias do que no presente e no imediato, não agem, são levadas a agir, e cada um constrói o seu próprio pequeno mundo privado, isolando-se cada vez mais. A própria casa dos Compson parece um símbolo desse isolamento, cada quarto mais como um mausoléu privado. Somente a cozinha de Dilsey parece ter vida. Cada um dos irmãos de Caddy apresenta a sua “verdade” e a distorção da verdade. A última secção do texto dá-nos o ponto de vista de uma pessoa interessada mas não envolvida nos eventos. Através do ponto de vista distanciado da negra Dilsey, completamos a viagem, que se inicia no mundo privado da família Compson, para a esfera pública que é representada pela cidade de Jefferson. E essa mudança é acompanhada por uma gradual mudança do fluxo de consciência dos três primeiros narradores para uma narrativa mais linear e convencional do último narrador. Na última parte, emergimos do mundo fechado dos Compson para percebermos que Caddy não chega nunca a existir verdadeiramente no texto para além das memórias e imaginação das outras três personagens. Caddy não ganha voz própria e é revelada através do olhar dos outros. E acaba por ser Dilsey quem criará ordem a partir da desordem; ela é o documento, a prova viva, de tudo o que aconteceu naquela família.
O primeiro grande desafio neste espetáculo começa por ser trabalhar sobre um texto onde nada acontece realmente. A trama não evolui de forma tradicional. As personagens e as ações parecem estar cristalizadas, não há futuro, o presente é sempre um acontecimento passado, monstruoso e incompreensível, e, no entanto, tanto parece ter acontecido. Os momentos surgem, ficam suspensos e desaparecem. Por exemplo, o momento exato do presente de Quentin é o minuto infinitésimo da sua morte, tentando escapar às suas memórias porque, com o suicídio, pretende apagar a traição de Caddy que, no fundo, só existe na sua memória. De facto, não é senão o Tempo que parece assumir-se como verdadeiro foco do texto de Faulkner, fazendo da questão da forma e da técnica (tão estranha e sofisticada ainda hoje) um assunto inevitável na abordagem que dele pretendemos fazer.
FICHA ARTÍSTICA E TÉCNICA
Texto | William Faulkner
Direção artística |Pedro Alves
Adaptação | Alexandre Sarrazola
Direção de movimento | Daniel Cardoso
Interpretação | Filipe Araújo, João Cabral e Ruben Chama (atores), Catarina Correia, Margarida Costa e Inês Pedruco (bailarinas) e Ruben Jacinto (músico)
Assistência de direção | Mário Trigo e Maria Carneiro
Cenografia | Pedro Silva
Figurino | Carlos Coxo
Design gráfico | Alex Gozblau
Direcção técnica | Carlos Arroja
Vídeo | Ricardo Reis
Fotografia | Catarina Lobo
Assessoria de imprensa e gestão | Joaquim René
Hairstyling | Sara Vargas (Señorita Scarlett)
Produção | teatromosca
Coprodução | Quorum Ballet, Theatro Circo de Braga, Arte Institute (NY), Embaixada dos EUA, Festival de Teatro Setúbal/Teatro Estúdio Fontenova e Festival Internacional de Teatro do Alentejo/Lêndias d’Encantar
Parcerias | Festival Les Eurotopiques, Biblioteca da Faculdade de Letras da UL, Biblioteca da Faculdade de Letras da UP, Biblioteca Universidade de Aveiro, Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade Nova de Lisboa, Teatro Meridional, Câmara dos Ofícios, Teatro Experimental de Cascais e Teatro Art’Imagem/Festival Fazer a Festa
Financiamento | Governo de Portugal | Secretário de Estado da Cultura – DGArtes
Apoios | Câmara Municipal de Sintra, 5àSEC, Junta de Freguesia de Agualva - Mira Sintra, Instituto do Emprego e da Formação Profissional, Fundação GDA, Teatro Nacional D. Maria II, Chão de Oliva e Artistas Unidos
Media Partners | Saloia Tv, Jornal Hardmusica, Gerador e Correio de Sintra Agradecimentos | João Pedro Frazão
Espetáculo com a duração aproximada de 130 minutos (sem intervalo)
Para maiores de 14 anos