Em memória de Roberto Aliboni

[Na fotografia: Roberto Aliboni, Maria do Rosário Vaz, Álvaro Vasconcelos e George Joffé na Conferência Anual do EuroMeSCo de 2006]

Uma grande tristeza: a perda de um grande amigo, de um grande intelectual, de um grande democrata. Tantas memórias de mais de 30 anos de cumplicidade, de projetos comuns euro-mediterrâneos. A quem o IEEI muito ficou a dever. Fica um grande legado, indispensável para compreender o mundo árabe, na sua enorme diversidade.

Álvaro de Vasconcelos, Antigo diretor do Instituto de Estudos Estratégicos Internacionais

Roberto Aliboni foi um dos pilares do Istituto Affari Internazionali. Entrou para o Instituto como investigador especializado em questões económicas e de desenvolvimento pouco depois da sua fundação, no final dos anos 60, mas há muito que fazia parte do grupo de jovens que se juntaram em torno de Altiero Spinelli desde o final dos anos 50, integrando a Juventude Federalista. Desse pequeno grupo, Spinelli recrutou os primeiros investigadores para dar corpo ao seu Instituto incipiente, completando-o com alguns outros de antecedentes culturais e políticos semelhantes: Gerardo Mombelli, Riccardo Perissich, Massimo Bonanni, Stefano Silvestri, Bona Pozzoli e Roberto Aliboni.

Estudante no Colégio Montana, na Suíça, e depois estudante de Direito na Universidade La Sapienza, Roberto, chamado Billi pelos colegas e amigos desde os tempos de escola, era sobretudo um estudioso e um investigador refinado. Na verdade, nunca gostou muito do trabalho administrativo como diretor do Iai, que teve de suportar de 1979 a 1987, quando entregou o cargo a Gianni Bonvicini.

Billi sempre foi um homem de cultura e de leituras extensas, mas a sua carreira científica centrou-se sobretudo no Mediterrâneo, verdadeiro centro dos seus interesses profissionais. Desde cedo, em ligação com Stefano Silvestri, promoveu uma secção de investigação sobre esta área geopolítica no Instituto.

Trata-se de uma área de extraordinário interesse para o nosso país, embora nunca tenha sido verdadeiramente explorada pelas forças políticas e pelos governos italianos. Precisamente por esta razão, dispor de um think tank com competências nesta área representava um valor não negligenciável para aqueles que precisavam de aprofundar as questões económicas e estratégicas do território.

Desde o início, a ideia era colocar o Iai em contacto com todos os institutos existentes nas duas margens do Mediterrâneo. Esta tarefa não foi nada fácil por duas razões. A primeira era encontrar parceiros credíveis em países governados maioritariamente por sistemas autoritários e com pouco ou nenhum interesse pela investigação. Por conseguinte, muitas vezes os interlocutores eram investigadores individuais, jornalistas, altos funcionários e mesmo alguns políticos, com base em relações essencialmente pessoais, que Billi cultivava com grande cuidado e delicadeza. A sua empatia com as realidades locais era tal que, por vezes, para sua grande diversão, era confundido com um habitante local. Em algumas votações, em reuniões no mundo árabe, o seu apelido, Aliboni, foi mudado para Al Banna, um apelido bem conhecido de origem palestiniana….

A segunda razão era fazer com que a maioria dos parceiros árabes “digerissem” a presença de um think tank israelita. Apesar de todas estas dificuldades, a Comissão de Estudos do Mediterrâneo (MeSCo) nasceu em 1994, com base no trabalho desenvolvido pelo IAI desde 1972, com a ideia de aprofundar o projeto de uma possível Conferência para a Segurança no Mediterrâneo, segundo o velho modelo da CSCE que tinha tido bastante sucesso nas relações entre o Ocidente e a URSS. Este projeto foi patrocinado pelo Governo italiano, sobretudo quando o Ministro dos Negócios Estrangeiros era Gianni De Michelis.

Na senda deste ambicioso compromisso cultural e político, alguns anos mais tarde, Aliboni elaborou com Álvaro de Vasconcelos, diretor do Instituto Português de Estudos Estratégicos Internacionais (IEEI), uma dimensão mais alargada da rede, incluindo institutos da UE. O EuroMeSCo nasceu com o objetivo de envolver no diálogo toda a União, cujos interesses no Mediterrâneo deviam ser melhor abordados e concretizados. Nesta vasta rede, que ainda hoje funciona, o trabalho de Aliboni deve ser não só recordado, mas também cultivado pelos jovens investigadores do Iai que Billi introduziu gradualmente no circuito euro-mediterrânico, de Silvia Colombo a Andrea Dessì e Francesca Caruso.

Com estes dois últimos jovens estudiosos, Aliboni, mesmo nos últimos anos de grande sofrimento físico devido a doença, quis partilhar a sua paixão pelo Mediterrâneo, trabalhando com eles nos capítulos do ISMed nos três últimos anuários das Economias Mediterrânicas, publicados pelo Il Mulino. Porque uma das grandes qualidades deste nosso amigo e colega, com o seu ar aparentemente rude, era precisamente a de cuidar dos jovens investigadores, orientando-os para a complexidade dos estudos mediterrânicos e criando assim uma sólida continuidade no Iai. Todos nós o recordaremos com gratidão e saudade.

Texto original publicado em italiano na página do Istituto Affari Internazionali

Sugerimos a leitura dos artigos disponíveis no acervo documental do IEEI – Instituto de Estudos Estratégicos e Internacionais, sobre o trabalho desenvolvido por Roberto Aliboni em parceria com o IEEI.
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