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Núcleo Arqueológico

Conjunto Arquitetónico e Arqueológico de Idanha-a-Velha

Distrito: Castelo Branco
Concelho: Idanha-A-Nova

Localização
Idanha-a-Velha, situa-se numa raquete do rio Ponsul, uma pequena elevação com a cota de 205 m. Os solos dominantes são da classe B.
Tipo de Património
Núcleo Arqueológico
Classificação
Monumento Nacional
Proteção Jurídica
67/97, de DR 301 de 31-12-1997
Identificação Patrimonial
Conjunto
Tipologia original
Conjunto edificado - Urbano
Valor patrimonial
Valor Arqueológico - Valor Histórico - Valor Etnográfico - Valor Urbanístico
Uso atual
Aldeia com uma população de cerca de 100 habitantes
Descrição

Idanha-a-Velha, está sobre a sede da civitateas Igaeditanorum.
O arqueólogo D. Fernando de Almeida, chamou atenção para o facto de Estrabão (geógrafo grego do século I a. C.), Pompónio Mela e Plínio (geógrafos latinos do século I d.C.) não terem mencionado nem a Egitânia, nem a civitas Igaeditanorum, nem os Igeditanos. Jorge de Alarcão sugere que alguns achados indicam que o sítio teve uma ocupação anterior à época romana, mas até à atualidade não existem provas consistentes.

O primeiro documento que atesta uma ocupação do local está datado de 16 a.C. Trata-se de uma epígrafe onde se menciona que Quintus Iallius, cidadão de Emerita Augusta da tribo Papíria, ofereceu um relógio de sol aos Igeditanos, nas pessoas dos seus quatro magistri, todos com nome céltico. Este conjunto de dados permite alguns esclarecimentos sobre a história deste sítio na época em que o documento foi produzido. O primeiro é o facto de não se tratar de um município romano, uma vez que não era administrada por duoviri ou quattuorviri, mas por magistri, próprio de uma vicus ou aldeia. O segundo, reforçado por outras epígrafes, manifesta-se no nítido predomínio do elemento onomástico céltico. Uma dúvida que se coloca é quem seria Quintus Iallius. Muito pravavelmente um alto funcionário do Império como sugere D. Fernando de Almeida.

Outra questão sobre a qual há muitas dúvidas é a do nome latino da sede da civitataes. O mesmo autor coloca em dúvida a autenticidade de epígrafes mencionadas, no século XVII, por frei Bernardo de Brito na Monarquia Lusitana, onde se menciona Igeditanor, Igeaditan, para designar a povoação. Jorge de Alarcão defende que o seu nome latino ainda é desconhecido, uma vez que os topónimos documentados se referem à designação do território. Um padrão descoberto em S. Salvador, dez kilómetros a norte de Idanha-a-Velha, datado de 2 a.C., que serviu para marcar o limite das terras dos Igaedit[ani] com o dos Lancienses Oppidani, sugere que um nome poderia ter sido Igaeditania. Outra denominação é sugerida por uma inscrição de 3 ou 4 a.C., dedicada a "Caius Cesar", onde se menciona civitas Igaeditanorum. Do ano 105, a ponte de Alcântara, conserva no Arco do Triunfo, uma inscrição, onde surgem por ordem geográfica o nome dos povos que contribuiram para a sua edificação. O primeiro município mencionado foi dos Igeditanos. Só no século VI, volta a surgir uma designação.

Na ata do concílio de Lugo de 569, menciona-se Ad Egitaniensem tota Egitania e a assinatura do bispo nas referidas atas foi de Adorius Egitanae Ecclesiae Episcopus subscripsi. Num munisma cunhado na época do rei Recaredo, que subiu ao trono em 586, surge gradia Egitania. No século XII, num documento de 1165, aparece a designação "Ydania" e noutro de 1197, refere-se ainda Egitania. Esta forma perdeu-se no século XIII porque no foral de 1229 está escrita a formúla "Ydanha" que no século XVI, no foral novo, é já do toponimo "Hidanha-a-Velha". A formula Egitania sobreviveu na designação dos seus habitantes e sobretudo para nomear o bispado da Guarda, como diocese "egitaniense".

A história de Idanha-a-Velha coloca ainda muitas dúvidas. D. Fernando de Almeida surgere que estabelecimento no local remonta a cerca de 60 a.C. quando Júlio Cesar e os exécitos romanos levaram o povos guerreiros dos Montes Hermínios a se estabelecerem nas terras baixas. Não existindo provas concretas sobre o momento em que se deu a ocupação das margens do rio Ponsul, a inscrição de 16 a.C. onde se menciona doação do relógio de sol aos Igeditanos na pessoa dos quatro magistri com nomes célticos, permite concluir por uma origem céltica das populações e que tinha a organização administrativa de uma vicus ou aldeia, pelo que se pode afirmar que nesta data Idanha-a-Velha já estava dotado de orgãos administrativos, próprios do mundo romano. Entre 3 e 4 a.C. a inscrição que a civitas Igaeditanorum, consagrou a Caius Caesar, prova que se tratava de uma localidade dotada de um território, em que um dos limites é comprovado pelo marco descoberto em S. Salvador, dez kilómetros a norte de Idanha-a-Velha.

A inscrição de Idanha-a-Velha na tribo Quirina, leva a colocar a hipótese, de que esta urbe foi elevada à categoria de municipium durante a dinastia dos Flávios. Nesta época a cidade viveu o seu período áureo. Encontrava-se numa áera fértil do ponto de vista agrícola, onde ainda hoje dominam os solos da classe B. Por esta sede de civitas, passava uma via comunal que partindo de Emérita Augusta, passava pela ponte de Alcântara e pela ponte de Segura, dirigindo-se para Viseu e Bracara Augusta. Como noutras civitas da Lusitânia, em Idanha-a-Velha, terá sido durante a época em que foi promovida a municipio, objeto de uma renovação urbana. Infelizmente ainda não estão suficientemente estudados os edifícios e a sua estrurura urbana para sustentar esta afirmação.

No século IV, á semelhança de outras cidades do Império, foi erguida uma nova muralha que diminuiu consideravelmemte o perímetro da cidade. O caracter apressado desta estrutura defensiva é atestado pelo tipo de materiais utilizados. Na muralha podemos encontrar bases de colunas, fustes, capitéis, cantaria em mármore, etc, que pressupõe a demolição de casas e o aproveitamento dos materiais de construção.

No século V, Idanha-a-Velha, perdeu os vínculos administrativos com o Roma na sequência das Invasões Bárbaras. D. Fernando de Almeida levanta a hipótese que os Suevos no decorrer da sua expansão para a Bética (410 e 420), terão conquistado e destruído Idanha-a-Velha. No entanto, segundo o mesmo autor, a cidade rapidamente se recompôs e foi escolhida para sede de um bispado suevo. A primeira menção a Idanha-a-Velha como centro episcopal, data de 569, comprovada com a presença do prelado Egitaniense no Concilio de Lugo. Deve datar deste século a catedral, embora Jorge de Alarcão tenham dúvidas. O território desta diocese, segundo D. Fernando Almeida, incluia, mais ou menos um território limitado pelos rios Zêzere, Tejo e Douro.

No século VI, com a conquista do reino Suevo pelos Visigodos, passou para o domínio destes. Durante a soberania desta reino, Idanha-a-Velha atingiu grande notariedade, tanto no domínio eclesiástico, como político-económico. Entre os governos dos reis visigodos Recaredo (586-601) e Rodrigo (710-711), esta cidade cunhou moeda o que evidencia, nas palavras de D. Fernando de Almeida, uma economia próspera.

A conquista muçulmana da Penísula Ibérica, marcou o inicio do declinio de Idanha-a-Velha. Conta uma lenda que após a a batalha de Guadalete o rei Rodrigo se teria aí refugiado e inclusivamente mandado cunhar moeda. A cidade não parece ter estado o lado de Vitiza e dos seus aliados Árabes e em 713, segundo D. Fernando de Almeida, foi conquistada e destruída. As informações que nos chegam da cidade após a sua conquista pelos árabes são muito incipientes.O bispo parece ter-se refugiado nas Astúrias e Idanha-a-Velha não voltou a ter bispo residente, embora se mantivesse o título porque em 899 no documento da doação régia por ocasição da Consagração da Igreja de Santiago de Compostela surge o nome de Teodomiro, bispo da diocese egitaniense.

As conquistas de Afonso VI, colocaram o território de Egitaniense na orbita cristã, estando integrado no início da nacionalidade nos domínios de D. Afonso Henriques. Este rei doou a área entre o Tejo, o Zêzere e o Erges aos Templários, incluindo Idanha-a-Velha. Em 1197 parece que D. Sancho I tentou restabelecer a diocese de Egitânia mas o bispo separou-se da cidade estabelecendou-se em 1203 na recém-fundada cidade da Guarda. A implantação da cidade, num vale que permitia poucas possibilidades de defesa não permitia segurança ao Bispo cuja diocese se situava, "grosso modo" ao longo da fronteira com o Reino de Leão e Castela, entre o Tejo e o Douro. Em 1229 o rei D. Sancho II, outorgou foral, que não contribuiu para reanimar a localidade, cujo o valor estratégico na nova realidade política era muito diminuto.

As escavações realizadas a partir de 1955, sobre a direção de Fernando de Almeida, tiveram particular incidência na áera da catedral.
Os vestígios arqueológicos pode ser agrupados em três grupos: o primeiro grupo é formado pelo conjunto epigráfico; o segundo grupo é representado pelo conjunto de estruturas onde se destaca a Muralha, o complexo da Catedral, a Ponte, o Templo de Vénus/Torre de Menagem, e outros vestígios onde se podem incluir a Barragem, o forno, possíveis vestígios dos balneários, etc.; o terceiro grupo será a leitura da evolução da malha urbana onde podemos incluir elementos patrimoniais com interesse etnográfico.


Estado de Conservação
Intervenções e Restauros

Escavações realizadas entre 1955 e meados dos anos 70 e dirigidas por D. Fernando de Almeida. Estas intervenção arqueológica incidiram principalmente na área da catedral. Na atualidade há uma equipa cujo responsável é Vasco Mantas.

Programas e Projetos
Programa de Recuperação de Aldeias Históricas de Portugal
Morada
Postiguinho de Valadares
6060-262
IDANHA-A-VELHA
Bibliografia
ALARCÃO, Jorge de, O Domínio Romano em Portugal, Lisboa: Europa-América, 1988.

Idem, Roman Portugal, vol. II, Gazetteer, Warminster: Aris & Phillips LDT, 1988.

ALMEIDA, Fernando de, "C. César, Principe da Juventude, Honrado em Idanha-aVelha" in Revista da Faculdade de Letras, Lisboa: 1955, pp 178-185.

Idem, Egitânia História e Arqueologia, Lisboa: 1956.

Idem, "Arte Visigótica em Portugal" in O Arqueólogo Português, 2º série, 4, Lisboa: 1962, pp 5-278.

Idem , "Aras Inéditas, Igeditanas, dedicadas a Marte in Revista da Faculdade de Letras, Lisboa: 3ª série, 6, 1962, p 68-78.

Idem, "O Baptistério Paleocristão de Idanha-a-Velha (Portugal)" in Boletim del seminário de Estudios de Arte y Arqueologia, 31, 1965, p 134-136.

Idem, "Templo Romano em Idanha-a-Velha" in Actas e Memórias do I Congresso Nacional de Arqueologia, II, Lisboa: 1970, pp 133-139.

Idem, Ruínas de Idanha-a-Velha. Civitas Igaeditanorum. Egitânia, Lisboa: 1977.

LOPES, Flávio (coord.), Património Classificado - Arquitectónico e Arqueológico - inventário, vol. I, IPPAR, Lisboa, 1993

Data de atualização
31/10/2012
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