Património Imaterial
Danças Rituais dos Pauliteiros nas Festas Tradicionais de Miranda do Douro

A inscrição das Danças Rituais dos Pauliteiros nas Festas Tradicionais de Miranda do Douro no INPCI reflete os critérios constantes no artigo 10.º do Anexo ao Decreto-Lei n.º 149/2015, de 4 de agosto, destacando a importância da manifestação do património cultural imaterial enquanto reflexo da identidade da comunidade envolvente, a sua profundidade histórica e evidente relação com outras práticas inerentes à comunidade.
Não se consegue precisar a origem das danças dos pauliteiros ou de paulitos, podendo tratar-se de uma sobrevivência da denominada “dança de espadas”, segundo alguns danças pírricas de origem helénica introduzidas pelos Romanos na Península Ibérica.
As danças ou lhaços, designação em língua mirandesa que engloba a coreografia, o texto e a melodia que os dançadores executam, sucedem-se segundo uma ordem que inclui uma entrada assinalada pelo gaiteiro. De seguida anuncia-se o lhaço, com a execução de alguns compassos, para que os dançadores identifiquem a melodia. Segue-se a exibição do lhaço, repetido quatro vezes, e o culminar do mesmo com uma dança que se designa por “bicha”.
São oito as festas em que as danças rituais mirandesas dos pauliteiros marcam uma presença assinalável, nomeadamente São Brás e Santa Bárbara (Cércio), Festa dos Moços ou S. João Evangelista (Constantim), Nossa Senhora do Rosário (Palaçoulo, Póvoa e S. Martinho), Santa Bárbara (Prado Gatão), Santo Isidro Lavrador (Quinta do Cordeiro), Festa do Menino Jesus e Nossa Senhora do Rosário (Póvoa).
Na constituição dos grupos de Pauliteiros junta-se o Gaiteiro, um tocador de caixa e um tocador de bombo. Na aldeia de Constantim junta-se-lhes um Tamborileiro ou “Tamboriteiro”, como é designado nas terras de Miranda. As danças rituais dos pauliteiros nas referidas Festas distinguem-se de outras exibições que têm lugar fora destas práticas de cariz religioso e que evidenciam, sobretudo, o valor performativo de um espetáculo que adquiriu reconhecimento social.
Na Festa dos Moços ou S. João Evangelista, o dia começa com rondas de peditório, em que pauliteiros e gaiteiros percorrem as ruas da aldeia, acompanhados pelos “mordomos” e convidando todos à participação. Já na missa, interpretam-se danças do reportório dos pauliteiros, como por exemplo a dança de laços - “Ato de Contrição”, também designado “Senhor Mio” - e toques de gaiteiros como “Elevação da Hóstia”, “Queremos Deus” e “Miraculosa”. As danças que encerram a festa religiosa e abrem a dimensão “lúdica e profana” também constituem momentos estruturantes desta festividade.
Num contexto de transmissão dinâmica, os mais velhos partilham com os mais novos as memórias consolidadas a partir de sucessivas participações ao longo da vida nas celebrações. Como agentes mais ativos de transmissão são referidos os “festeiros”, a comunidade mais velha de homens e mulheres, nos quais se integram pauliteiros, elementos integrantes das antigas mordomias e a comunidade em geral. No caso dos pauliteiros são transmissores os ensaiadores, que por norma são antigos melhores dançadores.
O pedido de registo das Danças Rituais dos Pauliteiros nas Festas Tradicionais de Miranda do Douro no INPCI foi apresentado pela Câmara Municipal de Miranda do Douro, que providenciou investigação associada a esta prática religiosa, abrangendo o domínio da história e a aplicação de métodos e técnicas de pesquisa em antropologia, com o objetivo de alcançar conhecimento relevante sobre os modos das suas expressões e representações culturais, recriadas anualmente pelas comunidades e indivíduos que nelas constroem formas de pertença social e de identidade coletiva.