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Património Imaterial

Lanço da Cruz inscrito no Inventário Nacional do Património Cultural Imaterial

País: Portugal
Distrito: Viana do Castelo
Concelho: Valença

© Câmara Municipal de Valença
Tipo de Património
Património Imaterial
Classificação
Inventário Nacional de Património Imaterial
Descrição
A festa do Lanço da Cruz, ou Troca das Cruzes na designação local, é para a comunidade de Valença a que melhor traduz as relações de irmandade com a vizinha Espanha, refletindo a alegria e a multiculturalidade do Alto Minho.

O Lanço da Cruz realiza-se anualmente na segunda-feira a seguir ao Domingo de Páscoa (Pascoela), no Rio Minho e respetivas margens, portuguesa e espanhola.

A manifestação acontece ao entardecer, com o culminar da visita pascal que percorre a freguesia de Cristelo Covo. Após a chegada do Compasso Pascal ao Parque Natural de Nossa Senhora da Cabeça, o pároco de Cristelo Covo juntamente com a Cruz Pascal adornada, a caldeirinha e as pagelas, e os mordomos que acompanharam o Compasso Pascal, entram numa embarcação.

Segue-se um passeio fluvial até ao encontro do barco espanhol, que faz o percurso contrário com o pároco de Sobrada e respetiva comitiva. Durante o trajeto, as embarcações dos párocos são acompanhadas por barcos que transportam os gaiteiros em representação da margem espanhola, e bombos em representação da margem lusa. Populares de ambos os países participam também nesta travessia do rio, com os seus barcos.

Chegados ao centro do rio Minho, o padre português benze as redes, as embarcações e o próprio rio. A tradição dita que esta bênção assegura um ano de boa pescaria e sem nenhuma morte. De seguida, o pescador que leva as redes benzidas procede ao seu lanço, iniciando a pescaria que reverte para pagamento de um folar ao pároco português.

Após o ato religioso, o padre português encontra-se com o padre espanhol e trocam as cruzes: a Cruz espanhola é dada a beijar na embarcação portuguesa, acontecendo o mesmo com a Cruz portuguesa que é dada a beijar à comitiva espanhola. Esta Troca das Cruzes, um dos mais significativos momentos de toda a festividade, é celebrada com abraços e gritos de alegria.

A embarcação espanhola ruma depois para o parque da Senhora da Cabeça. A chegada é acompanhada pelo grupo de gaitas de foles, e o padre espanhol dá a Cruz a beijar aos milhares de fiéis que o aguardam. Entretanto, na Sobrada, o padre português é recebido pela multidão que lhe oferece o “roscón” de Páscoa, doce típico galego. Depois deste convívio, padre e comitiva regressam a Portugal. A procissão segue até à Capela de Nossa Senhora da Cabeça, para recolhimento da Cruz.

Encerra-se assim esta festividade, sendo de destacar a mistura de línguas, sons e ritmos que se experienciam. Este ambiente mantém-se noite dentro, animado por gaitas galegas, bombos, castanholas e concertinas, que transformam esta manifestação numa romaria galaico-minhota.

A organização do Lanço da Cruz cabe à Comissão Fabriqueira de Cristelo Covo, à Associación Cultural Lanzo da Cruz, ao Pároco de Cristelo Covo e ao Pároco de Sobrada. Esta articulação de ações tem em consideração os sócios da Associação de Pescadores da Ribeira Minho, sediada na freguesia vizinha de São Pedro da Torre (concelho de Valença), que conta com 120 sócios e 63 embarcações (todos os pescadores de Monção a Lanhelas) nos quais estão inseridos todos os pescadores de Cristelo Covo.

A proposta foi apresentada pelo Núcleo Museológico de Valença, sob tutela da Câmara Municipal de Valença, tendo por base o trabalho de investigação e documentação coordenado pelas técnicas Isilda Salvador e Brigite Pereira, com a colaboração da mestranda em Património Cultural, Patrícia Correia, e colaboração de várias entidades e personalidades da União de Freguesias de Arão, Cristelo Covo e Valença, da paróquia de Cristelo Covo, dos vários elementos da Comissão Fabriqueira de Cristelo Covo, da Associação de Pescadores da Ribeira Minho, bem como de entidades do concelho galego de Sobrada, como a Associación Cultural Lanzo da Cruz e a historiadora Natália Jorge Pereira, entre outras.

A inscrição do Lanço da Cruz no INPCI reflete os critérios constantes no artigo 10.º do Anexo ao Decreto-Lei n.º 149/2015, de 4 de agosto, com destaque para a importância da manifestação enquanto prática religiosa identitária das comunidades transfronteiriças da União de Freguesias de Valença, Cristelo Covo e Arão, concelho de Valença (Portugal), e da freguesia de Sobrada, concelho de Tomiño (Galiza – Espanha).
Fonte de informação
Património Cultural, Instituto Público
Data de atualização
11/06/2025
Agenda
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São Luiz Teatro Municipal 14 Jun a 22 Jun 2025

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