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Património Material

Convento e Basílica de Mafra

Distrito: Lisboa
Concelho: Mafra

Tipo de Património
Património Material
Classificação
UNESCO - Património da Humanidade
Proteção Jurídica
Decreto de 10-1-1907, publicado a 17-1-1907; Decreto de 16-6-1910; Z.E.P., Portaria N.º 178/92, 2ª Série, N.º 127 de 2-6-1992
Identificação Patrimonial
Conjunto
Época(s) Dominante(s)
Moderna (Séc. XVIII)
Estilo(s)
Clássico, Renascença, Barroco
Uso atual
Núcleo Museológico e Culto Religiososo
Proprietário/Instituições responsáveis
IGESPAR
Equipa Técnica
Maria Margarida Montenegro (Diretora)
Descrição

Grande complexo arquitetónico barroco, é um dos maiores e mais exuberantes monumentos construídos em Portugal.
Existem algumas versões sobre a origem da criação do convento; a generalidade dos autores é de opinião que foi apenas o facto da rainha D. Maria Ana de Áustria, após três anos terem passado sobre o dia do seu casamento com D. João V, não ter garantido a descendência daquele monarca. Preocupado com esta situação, o rei teria aceitado o conselho piedoso de Frei António de S. José, que lhe confidenciou que o problema seria resolvido se prometesse a Deus mandar edificar um convento caso viesse a ter um herdeiro. O cumprimento do voto foi feito, pois a rainha dava, finalmente, um herdeiro ao reino - a princesa D. Maria Bárbara.
Outros autores evidenciam a ideia de que o projeto terá nascido devido, principalmente, a um programa providencialista incorporado pelo "Rei Sol" português, vindo a arquitetura do edifício a refletir tal simbolismo.

Inicialmente o projeto contemplava apenas um pequeno cenóbio que albergasse 13 frades, não sendo intenção do rei ligar a tão modesta construção a sua residência. Porém, a apresentação e desenvolvimento progressivo de projetos e encomendas, acabaram por alterar as ideias iniciais, passando sucessivamente o convento a ter programas mais ambiciosos - de 13 passou a destinar-se a 40 religiosos, depois a 80, até atingir a sua capacidade máxima; o objetivo da megalómana construção era então alojar 300 frades arrábidos, mas o projeto inicial viria ainda a ser objeto de variadas e profundas alterações. Todas estas reformas introduzidas, com as sucessivas obras em curso, tornariam complexa a construção do cenóbio, facto este agravado quando o monarca a partir de dada altura, em que o conjunto tinha alcançado alguma monumentalidade, decidiu associar aí a sua residência, o patriarcado e a corte.
Para orientar os trabalhos e traçado da construção, foi convidado o arquiteto germânico João Frederico Ludovice, apesar de a nomeação de arquiteto régio lhe ter sido dada somente após a morte de D. João V, em 1750, pelo novo rei D. José I. A primeira pedra foi lançada a 17 de novembro de 1717, com grande pompa. Na realização do 41º aniversário do "Magnânimo" (rei D. João V), em 22 de outubro de 1730, teve lugar a sagração da Basílica (as festas duraram oito dias), apesar da obra se encontrar ainda longe da sua finalização; nessa altura trabalhavam ali 52000 homens, dos quais 7000 eram soldados que tinham por missão o policiamento. O monumento todo construído com mármores da região de Pero Pinheiro e Sintra, possui excecionais dimensões (a frontaria tem uma extensão de 220 m) e compreende diversas partes, embora reunidas numa unidade, que ocupam uma área de 40000 m²: a Basílica, dedicada a Santo António, o Convento e o Palácio. A obra não se apresenta uniforme e diferencia-se significativamente do restante barroco nacional.

O Convento propriamente dito, está disposto em redor de um grande pátio de planta quadrangular, onde se inclui o Jardim do Buxo de estilo clássico; as diagonais e mediatrizes do quadrilátero são ocupadas por ruas que convergem no ponto central formado por um lago em mármore. Fazem parte do Convento a Sala do Capítulo, a Biblioteca, o refeitório, a cozinha e as celas dos religiosos. Foi dotado com dois claustrosde feição clássica, que ocupam a área à direita e à esquerda da basílica, tendo cada um deles planta quadrangular, com 26 metros de lado onde se inscrevem sete arcos divididos por colunas dóricas, percorridos superiormente por balaustrada. A Biblioteca (Casa da Livraria), instalada no longo e belíssimo salão (com perto de 84 metros de comprimento por 9,6 metros de largura) concebido por Manuel Caetano de Sousa, possui um acervo com aproximadamente 36000 volumes, alguns considerados verdadeiras preciosidades pela sua raridade. As estantes só foram feitas quando os Cónegos Regrantes de Santo Agostinho vieram para o Convento, em substituição dos Franciscanos, em 1770, por ordem do Breve de Clemente XIV e a solicitação do Marquês de Pombal. A ordem franciscana só regressaria ao Convento, em 1792, para pouco tempo depois o abandonarem devido à ocupação francesa em 1807. O pavimento da Casa da Livraria é totalmente preenchido por um xadrez de mármores azuis e brancos e a cobertura é feita por uma abóbada de estuques apainelados tendo ao centro uma cúpula fechada em mármore com decoração constituída por festões e representação solar.

O Palácio é composto por duas alas separadas, respetivamente, o Palácio do Rei, a Sul, e o Palácio da Rainha, a Norte, sendo os dois rematados por torreões(disposição usual dos aposentos reais, mais tarde modificada por D. Fernando II, que adotou a fórmula contrária). Os maciços torreões limitam a fachada do monumento e alcançam uma altura de 50 metros; dividem-se em quatro corpos, cuja traça foi inspirada na Casa da Índia do Terreiro do Paço (Lisboa). A própria área de interseção, onde o Palácio é interrompido pela Basílica, pertence-lhe e inclui toda a frente do andar nobre, cujas janelas permitem grande entrada de luz, na galeria chamada Sala da Benção, totalmente revestida por mármores azuis, pretos, amarelos, brancos e vermelhos, sendo a cobertura formada por uma abóbada cilíndrica apainelada. Tem abertas três tribunas que ficam defronte dos vãos, no lado Este, com magnífica perspetiva sobre a nave da igreja, donde a Família Real assistia ao culto.
Desde que o rei D. João V decidiu aqui instalar-se, que Mafra foi procurada por diferentes ocasiões para retiro espiritual, repouso ou lazer da Família Real - a Tapada que ficava junto ao Palácio, proporcionava caçadas aos javalis, veados e gamos; o aquartelamento real permitia assistir aos exercícios militares; estes fatores e outros, tornavam o Palácio lugar de preferência de reis, principes e infantes; assim, não surpreende que a ele estivessem ligados, de uma forma particular, monarcas como - D. João V, D. João VI, D. Pedro V, D. Luís, D. Carlos, que fizeram refletir o seu gosto pessoal e vivência, nas inúmeras e requintadas salas que se sucedem no Palácio, ligadas por impressionantes corredores (entre as divisões do Palácio e do Convento, contam-se cerca de novecentas salas e quartos, onde se inscrevem aproximadamente cinco mil portas e janelas).
A Sala do Trono apresenta o teto artisticamente pintado por Domingos Sequeira, sendo esta elegante divisão complementada com outros motivos de valor - mobiliário, tapeçarias e lustres. A Sala de Jantar ou da Caça possui mobília decorada com cabeças e hastes de veado e gamo, tendo no teto, suspenso ao centro, um grande lustre com análoga decoração. A Sala de Música mostra instrumentos pertencentes a D. Carlos, que lhe foram oferecidos quando realizou uma viagem aos Açores em 1901; de salientar também um quadro alusivo a Santa Genoveva, da autoria de António Ramalho. De interesse, na Sala dos Camaristas, a pintura a fresco da autoria de Cirilo Wolkmar Machado, artista convidado em 1796 a trabalhar em Mafra, onde viveu durante onze anos. Uma das paredes desta sala (a Este) tem ao centro a representação da deusa Fecundidade, tema provavelmente alusivo ao nascimento da Princesa; as outras paredes apresentam ainda cenas com figuras mitológicas, tendo o teto uma composição circular com as quinas no centro, rodeadas por idênticas alegorias. Outras obras deste pintor podem ser vistas no Oratório Real da Senhora do Livramento (no lado Sul) e em diversas Salas, designadamente, dos Destinos, Descobertas, Trono, Diana e Faetonte. No Quarto das Rainhas, ou de D. Maria II, encontra-se uma cama estilo império e um berço dos príncipes. Situada no torreão afeto aos aposentos da rainha, a Sala da Tocha, é ornada por frescos com representações mitológicas, tendo, igualmente interesse, uma cena sobre pano de arrás, com Alexandre da Macedónia recebendo a rainha das Amazonas.

A Basílica, que recorda a de S. Pedro de Roma, fica no centro da frontaria do monumento, compreendida entre os torreões; dá-lhe acesso, uma escadaria de três lanços de sete degraus cada um. O frontispício exibe em cima, a meia altura, a varanda «De Benedictione», sobre três sacadas de balaústres separadas por seis colunas compósitas, tendo junto S. Domingos e S. Francisco. Possui amplo frontão triangular em calcário branco, decorado em meio-relevo, no tímpano, de jaspe, com a Virgem, o Menino e Santo António. Apresenta-se flanqueada por duas imponentes torres sineiras que albergam os carrilhões. Executados em Antuérpia, custaram na época, a fabulosa soma de quatrocentos contos cada um; foram inaugurados no dia da sagração da Basílica. Esta ligação da música e da arquitetura, particularmente reunida neste monumento, é reforçada pela existência no interior da igreja de seis belíssimos orgãos que podiam tocar em conjunto, e que se erguem respetivamente, quatro no cruzeiro e dois que se encontram nos lados da capela-mor; todos eles substituiram os primitivos (utilizados no ato da sagração da Basílica) e foram feitos entre 1792 e 1807 pelos artistas António Xavier Machado e Joaquim Peres Fontanes.
A entrada do templo é antecedida por uma galilé com três arcos e seis colunas jónicas, tendo nas faces laterais catorze grandes nichos que guardam imagens de santos ou fundadores de várias ordens, em mármore branco de Carrara, sendo algumas assinadas e datadas (1731-32). Toda esta imaginária foi executada em Roma, salientando-se as estátuas de S. Vicente, de S. Sebastião e S. Bruno. A igreja em estilo clássico, possui uma nave com 33,5 por 12 metros, onde se abrem, de cada lado três capelas; o transepto muito amplo, com 46,3 metros, tem no topo de cada um dos braços, inserida uma capela com retábulo, e a capela-mor de 16,3 metros de profundidade, exibe capelas colaterais. Ao centro ergue-se o zimbório. Os retábulos em mármore, foram trabalhados pela Escola de Escultura de Mafra, que esteve sob a orientação do Mestre italiano Alessandro Giusti, cabendo, posteriormente, a direção ao seu discípulo - Machado de Castro. Inclui um explêndido conjunto de imaginária, trabalhado em mármores italianos por grandes artistas da época. A Sacristia alberga ricos arcazes de madeira do Brasil e um pequeno altar com uma tela alusiva a S. Francisco, da autoria de Inácio Bernardes; junto fica a casa do Lavabo com quatro monumentais lavatórios.

Intervenções e Restauros

Efetuadas intervenções, entre maio e julho de 1993, na Sala dos Camaristas, tendo como objectivo a conservação da pintura a fresco do seu teto.

Programas e Projetos
Concertos de carrilhões aos Domingos à tarde.
Modo de funcionamento

Palácio - todos os dias, exceto 3ª feiras, das 09h30 às 17h30 (última entrada 16h45)

Biblioteca (leitores - por marcação prévia) - segundas, quartas, quintas e sextas-feiras, das 09h30 às 13h30 e das 14h00 às 16h00

Dias de Encerramento: terças-feiras e nos dias 1 de Janeiro, Domingo de Páscoa, 1 de Maio, Quinta-feira da Ascensão/Espiga (Feriado Municipal) e 25 de Dezembro

Tempo médio da visita - aproximadamente 1h30

Basílica - todos os dias, excepto 3ª feiras:
09h30 - 11h00 / 11h15 - 12h30 / 14h00 - 16h00 / 16h15 - 17h30

Missas na Basílica de Mafra - terça-feira a sábado às 18h00, domingo às 11h30

Acessibilidade

Não acessível a pessoas com mobilidade reduzida.

Não é permitida a entrada de animais, exceto cães-guia.

Nota - Não é permitida a entrada de malas de viagem, mochilas, volumes grandes ou objetos contundentes.


Estacionamento

Na zona exterior do Monumento, fachadas norte e sul.


Loja

Tem o mesmo horário de funcionamento do museu.

Réplicas de peças da coleção, porcelanas, vidros e cristais, pratas e casquinhas, jóias, postais, linha infantil, publicações.

Morada
Palácio Nacional de Mafra, Terreiro D. João V
2640 Mafra
Telefone
(+351) 261 817 550
Fonte de informação
CNC / Patrimatic
Bibliografia

CALAZANS, José Carlos, «A Casa da Livraria do Palácio Convento de Mafra» in Boletim Cultural '92, Mafra, Câmara Municipal de Mafra, 1993.

GANDRA, Manuel J., «A ideia do Monumento de Mafra: Arquitectura e Hermetismo» in Boletim Cultural '94, Mafra, Câmara Municipal de Mafra, 1995.

Idem [org. e notas], «Memórias e Memorialistas: 2. A obra de Cirilo Volkmar Machado no Palácio Nacional de Mafra, apresentada pelo próprio» in Boletim Cultural '95, Mafra, Câmara Municipal de Mafra, 1996.

GIL, Júlio; CALVET, Nuno, As mais belas Igrejas de Portugal, vol. II, Lisboa/São Paulo, Verbo, 1989.

Idem, Os mais belos Palácios de Portugal, Lisboa/São Paulo, Verbo, 1992.

LOPES, Flávio (coord.), Património Classificado - Arquitectónico e Arqueológico - inventário, vol. II, Lisboa, IPPAR, 1993.

LUCENA, Armando de, Monografia de Mafra, [Mafra], Comissão Municipal de Turismo, [1944].

MENDONÇA, Margarida; LOURENÇO, Ana Paula; PIMENTEL, Teresa, «Sala dos Camaristas do Palácio Nacional de Mafra. Estudo e tratamento da pintura a fresco do seu tecto» in Boletim Cultural '93, Mafra, Câmara Municipal de Mafra, 1994.

MONTENEGRO, Maria Margarida [coord.]; OLIVEIRA, Isabel M. Yglesias de; SANTOS, M. Fernanda Monteiro e CORDEIRO, M. Gabriela [investigação], «Subsídios para a História do Palácio Nacional de Mafra» in Boletim Cultural '94, Mafra, Câmara Municipal de Mafra, 1995.

PIMENTEL, António Filipe, «Real Basílica de Mafra: Salão de Trono e Panteão de Reis» in Boletim Cultural '93, Mafra, Câmara Municipal de Mafra, 1994.

PIRES, Lemos, «Plantas anotadas do Monumento de Mafra» in Boletim Cultural '94, Mafra Câmara Municipal de Mafra, 1995.

RODRIGUES, Teresa Maria, «Guias do Palácio Nacional de Mafra: Descrição bibliográfica» in Boletim Cultural '94, Mafra, Câmara Municipal de Mafra, 1995.

Data de atualização
15/06/2023
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