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Azulejaria de Lisboa

Lisboa concentra naturalmente, apesar das vicissitudes históricas e dos terríveis desastres naturais, uma quantidade tão vasta de painéis de azulejaria que poderíamos dizer que a vida de um lisboeta está sempre ligada a um destes elementos.


«Embora a origem do azulejo não seja portuguesa, em nenhum outro país do continente europeu como em Portugal este material recebeu um tratamento tão expressivo e original, bem adaptado aos vários condicionalismos económicos, sociais e culturais específicos, nem foi utilizado de maneira tão complexa e dilatada, com fins que transcendem largamente um mero papel decorativo.»
Esta afirmação de José Meco, historiador da arte do azulejo em Portugal, resume a importância que o azulejo teve neste país.

Ao registo que protege a sua casa dos incêndios, a uma «alminha» numa esquina, a um santinho da devoção, ao painel de grandes dimensões trazido de um palácio para o fundo de uma rua, juntam-se as grandes composições historiadas que cobrem o interior das igrejas.
São tão abundantes os azulejos espalhados pela cidade, que através deles poderíamos fazer uma história dessa arte, isto sem referir, claro está, o Museu Nacional do Azulejo que cumpre o objetivo de percorrer e expor na íntegra todos os momentos da história da azulejaria.

Desde as primeiras experiências de azulejos do tipo chamado "majólica" (pintados livremente, sem compartimentos a limitarem as diferentes cores dos esmaltes) regista-se em Lisboa a maior quantidade conhecida no país, o que sugere ter sido a capital a concentrar as primeiras oficinas desta arte.

Dos Matos, pioneiros da majólica em Portugal, é famoso o magnífico revestimento da capela de São Roque na igreja com a mesma invocação, assinado por Francisco e datado de 1584. Sempre em São Roque, e ainda dos finais do século XVI (1596), é o tapete de padrão de ponta de diamante que cobre, por exemplo, dois vãos simétricos de portas fechadas do coro baixo, um alçado do braço do transepto e a sacristia. Este motivo de diamante popularizou-se no século XVII, e vamos encontrá-lo em panos de parede de igrejas de todo o país. No entanto, a decoração de tipo tapete não se limitou a estes motivos, e para ver padrões de florões de tons amarelos, azuis e brancos podemos continuar na sacristia de São Roque (melhor dizendo, antessacristia).

É evidente que a azulejaria do século XVII não se limitou aos motivos de tapete. São muito conhecidos os frontais de altar, com reminiscências têxteis inspiradas no Oriente, reproduzindo uma fauna exótica de animais simbólicos, como no caso dos frontais da antessacristia da Igreja do Convento da Graça ou do Claustro de Santa Teresa de Carnide.

No final do século XVII e inícios do século seguinte assistimos ao triunfo do gosto pelas composições figurativas monocromáticas em azul e branco. Determinante para introdução desse gosto, é a figura de Gabriel del Barco responsável pela sua difusão. Da produção deste pintor, amigo do ainda desconhecido pintor a óleo Marcos da Cruz e o primeiro azulejista a entrar para a elitista irmandade de São Lucas, são uns painéis transferidos para o Palácio da Independência ao Rossio.

Contemporâneos de Barco e demonstrativos da introdução do novo gosto são grandes painéis historiados importados da Holanda, de que se destacam os das igrejas dos Cardaes (pintados por Jan van Oort em Amsterdão) e da Madre de Deus (do mesmo Jan van Oort e Cornelis Van der Kloet). Gabriel del Barco antecede o período da grande produção joanina onde pontua a família Oliveira Bernardes, tendo à cabeça António que nos deixou magníficas composições cheias de dinamismo e qualidade plástica adquirida na sua formação de pintor. O caso de um teto do Convento das Mercês é bem demonstrativo da capacidade de transferência que este verdadeiro pintor conseguiu, ao criar em azulejos os efeitos experimentados na pintura a óleo.

Depois do terramoto de 1755 foi necessário que as oficinas laborassem ao ritmo da reconstrução da cidade, daí que os exemplares de feição chamada pombalina e rococó produzidos em série sejam do mais recorrente em toda a cidade.

No século XIX assiste-se a uma verdadeira renovação de modelos e de programas que teve na figura algo kitsch do “Ferreira das Tabuletas” o seu mais alto expoente.

O azulejo, talvez por influência novorriquista dos “brasileiros” de torna viagem, extravasa os interiores onde habitualmente se abrigava para cobrir fachadas e passar a estar presente em todos os momentos da vida dos portugueses. O mais emblemático exemplar, pela exuberância, é a fachada historiada em tons laranja de um edifício do Largo Rafael Bordalo Pinheiro, ao lado do Teatro da Trindade. A intenção de preservar esta arte que os portugueses tinham acarinhado como especialmente sua, reforça-se no século XX, em que os revivalismos se vão suceder, num nacionalismo (como é o caso exemplar de Jorge Colaço que, como podemos ver na Casa do Alentejo, experimentou novas técnicas mas manteve uma temática tradicional) que dificilmente permite introdução da modernidade. Esta só surgirá com expressão pública de grande relevo nos painéis da Avenida do Infante Santo, de Maria Keil, ou no conjunto de azulejos que decoram o Palácio da Justiça no alto do parque Eduardo VII com assinatura de Jorge Barradas, Querubim Lapa e de Júlio Resende. Mais recentemente, merece referência uma iniciativa privada de saudar, que é a decoração das estações de metropolitano, cada uma entregue a um artista contemporâneo.

Como programar percursos que abrangessem esta miríade de exemplos seria praticamente impossível, optámos por selecionar três onde se incluem alguns dos mais ricos e importantes casos da azulejaria nacional.

Percursos: 
Dois têm o seu início no Rossio, derivando o primeiro no sentido Nordeste, atravessando o bairro histórico da Mouraria (e Santa Clara). O outro segue à beira rio, passa pelo bairro histórico de Alfama e pela zona Oriental onde se instalaram as primeiras casas nobres em Lisboa. Um terceiro sai do Chiado e, passando por S. Roque vai terminar na Capela das Albertas no Museu Nacional de Arte Antiga, passando pelo Bairro Alto e pelo Bairro da Madragoa.
Todos eles são percursos para um dia, com paragens para descanso. 

AZULEJARIA DE LISBOA (Roteiro 1)
AZULEJARIA DE LISBOA (Roteiro 2)
AZULEJARIA DE LISBOA (Roteiro 3)

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