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Centro UNESCO para a Arquitetura e a Arte Religiosas nasce no Alentejo

Formar e prevenir contra a destruição do património religioso, uma herança cultural em risco.

Ermida de Nossa Senhora de Guadalupe, Vila de Frades

 

A Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura (UNESCO) é a organização de cúpula do património cultural, tendo intervenção pioneira em diversos campos, sobretudo ao nível da cooperação internacional, decisiva para a proteção de heranças culturais em risco. Com sede em Paris, está a consagrar uma atenção crescente ao património religioso, também ele a braços com sérios problemas. Em Portugal acaba de ser criado o Centro UNESCO para a Arquitetura e a Arte Religiosas, que vai ter a base em Santiago do Cacém. Este organismo não-governamental, fruto da colaboração de mais de três dezenas de especialistas na herança religiosa não só do Cristianismo, mas também do Judaísmo e do Islão, representa igualmente um reconhecimento do trabalho pioneiro que tem vindo a ser feito, em terras do Baixo Alentejo, na defesa do património sacro, enfrentando com determinação alguns dos seus adversários: os pseudo-restauros por santeiros e curiosos, as obras feitas sem acompanhamento técnico, os furtos, o vandalismo ou, simplesmente, o desleixo e o abandono.

Há muito que este território se destaca pelos resultados obtidos na salvaguarda e valorização das suas igrejas históricas. Um trabalho orientado por um regulamento próprio, de 1993, e que assenta, em larga medida, na interação do Departamento do Património Histórico e Artístico da Diocese de Beja (DPHA) com autarquias, organismos descentralizados do Estado, associações e “forças vivas” da região. “Isto só é possível graças ao entusiasmo de muitos voluntários, cuja dedicação se mostra indispensável para restaurar e manter abertos monumentos, conservar obras de arte e organizar museus”, salienta o historiador da arte José António Falcão, que é responsável pela coordenação do novo Centro da UNESCO. E acrescenta: “Os recursos são escassos, mas a experiência realizada no Sul do Alentejo demonstra que, mediante uma combinação estratégica das técnicas e materiais tradicionais com os meios que a tecnologia coloca ao nosso alcance, é possível dar passos importantes na defesa de um património em risco”.

Cobrindo uma vasta área que se estende do Atlântico até à raia da Andaluzia, Beja é a segunda maior diocese do país, em área, mas é também a mais desertificada. A região possui um notável património sacro, que integra testemunhos das Três Religiões do Livro, pelo que não se torna difícil encontrar vestígios judaicos ou muçulmanos em lugares de culto cristãos. O DPHA, fundado em 1984 pelo bispo D. Manuel Franco Falcão (um engenheiro de formação, que não hesitou em dialogar com as forças tidas tradicionalmente como mais adversas à Igreja e estabelecer pontes para o futuro da região), tem vindo a estudá-lo e valorizá-lo através de um conjunto de iniciativas que não esquecem esse pano de fundo ecuménico. A rede museológica diocesana, hoje com oito pólos, dispersos em pontos-chave da região, as exposições de arte, cruzando arte antiga e arte contemporânea, ou o Festival Terras sem Sombra, que une o património à música sacra e à biodiversidade, são algumas das suas valências.

 

Disseminação de boas práticas patrimoniais a partir do Alentejo

A UNESCO mostrou interesse em tornar mais conhecidas estas e outras experiências levadas a cabo na região alentejana, como uma base para a disseminação de boas práticas, alargadas à sociedade civil e às comunidades locais, visando a preservação dos bens culturais. O representante da Comissão Nacional da UNESCO, embaixador Jorge Lobo de Mesquita, destacou, em Santiago do Cacém, numa cerimónia realizada a 19 do corrente, “o empenho das entidades alentejanas em criar um organismo que polarize, mobilize e dinamize a reabilitação de património religioso, que tem um grande significado para Portugal. É necessário concentrar recursos e saberes para esta salvaguarda e colocá-la ao serviço de uma cartografia da cultura da paz e da defesa da identidade, com um projeto que ligue o passado e o futuro”. Como pano de fundo está o próprio desenvolvimento do território, segundo lembrou Lobo de Mesquita, evocando o exemplo do Caminho de Santiago, hoje alvo de uma intensa redescoberta nesta e noutras regiões.

O Centro UNESCO para a Arquitetura e a Arte Religiosas resulta de uma parceria entre a Comissão Nacional da UNESCO, o Departamento do Património Histórico e Artístico da Diocese de Beja, a Pedra Angular – Associação dos Amigos do Património da Diocese de Beja e a Real Sociedade Arqueológica Lusitana, a que se associou também a Câmara Municipal de Santiago do Cacém. Outras instituições nacionais e estrangeiras já manifestaram o desejo de participarem na recém-criada estrutura da UNESCO, que ocupará dois espaços da Tapada do Castelo, a capela de São Jorge e a casa de chá, que fazem parte do antigo palacete Avillez, junto à igreja matriz da cidade. As iniciativas do novo centro, focadas em tarefas de documentação, formação, informação, registo e sensibilização do património religioso, virão a decorrer de uma forma descentralizada.

Álvaro Beijinha, presidente da Câmara Municipal de Santiago do Cacém (CMSC), reconhece “uma importância muito grande” na fundação deste Centro. “Termos a chancela da UNESCO em Santiago do Cacém é motivo de orgulho. Esta é uma parceria entre várias entidades, onde a CMSC também se integra, embora não seja subscritora do protocolo, mas disponibilizou os edifícios para sediar o Centro. É o reflexo também da longa parceria que nós temos tido com Departamento do Património Histórico e Artístico da Diocese de Beja”. O Presidente da CMSC ressalva igualmente a “disponibilidade total para abraçar este projeto” manifestada pela autarquia “desde a primeira hora”.


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