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Inauguração do Memorial em Homenagem ao Professor Eduardo Lourenço em Almeida

A Câmara Municipal de Almeida, a Fundação Calouste Gulbenkian e a Galeria Ratton convidam para a inauguração do Memorial em Homenagem ao Professor Eduardo Lourenço, a decorrer hoje (dia 23 de maio), dia do aniversário do homenageado.

23 Mai 2022  |  17h30

Almeida

O elemento escultório, projectado pelo Arq. Tiago Montepegado | Galeria Ratton, composto por uma lâmina vertical totalmente revestida a azulejo da autoria da pintora Graça Morais insere-se no embasamento em blocos de granito, garantindo assim a continuidade visual e o enquadramento arquitectónico do Largo Prof. Eduardo Lourenço assim recentemente designado.

O memorial contou com o apoio da Fundação Calouste Gulbenkian e a participação do Dr. Guilherme d’Oliveira Martins que selecionou um conjunto de citações de Eduardo Lourenço que foram integradas na Intervenção Artística Azulejar da pintora Graça Morais.

A cerimónia contará com intervenções de Sr. Presidente da Câmara Municipal de Almeida, Dr. António José Machado; Fundação Calouste Gulbenkian, Dr. Guilherme d’Oliveira Martins; Jorge Maximino; Galeria Ratton, Ana Maria Viegas e Tiago Montepegado e a pintora Graça Morais. Seguido de um momento musical acompanhado por um porto de honra.

Por ocasião da cerimónia será distribuído um desdobrável, com design gráfico de João Brandão e fotografias de José Manuel Costa Alves.



HOMENAGEM A EDUARDO LOURENÇO – UM CIDADÃO DO MUNDO

O encontro com os outros é o verdadeiro encontro connosco *
Por Ana Viegas e Tiago Montepegado | Ratton Cerâmicas

Foi proposto pela Câmara Municipal de Almeida à Galeria Ratton a apresentação de uma proposta para a execução de um memorial em azulejo em homenagem ao Professor Eduardo Lourenço.

A artista seleccionada para executar a intervenção artística azulejar foi a pintora Graça Morais.

Graça Morais, referência incontornável da pintura contemporânea, sempre teve uma relação pessoal com Eduardo Lourenço que conhecendo e acompanhando sempre o seu trabalho, participou no catálogo da exposição “Graça Morais. La violence et la grâce“ na Fundação Calouste Gulbenkian em Paris (2017). Nessa belíssima entrevista feita por Ana Marques Gastão, Eduardo Lourenço fala da forte relação entre a pintura e a literatura e sobre a dimensão humana da pintura de Graça Morais “(…) A sua pintura não deve ser entendida como um conto de fadas, mas como um espaço onde a violência inerente à condição humana se expõe à possibilidade de dela escapar por um milagre a que chamamos «graça», que é o primeiro nome da artista”.

Esta intervenção artística de enorme responsabilidade vem juntar-se ao conjunto vastíssimo de Obras de Arte Pública que a Galeria Ratton tem promovido e executado com a pintora Graça Morais em Portugal e no estrangeiro.

A importância e simbolismo desta iniciativa impôs que a escolha do local para a implantação do memorial exigisse uma excepcional qualidade arquitetónica, encontrada no Largo do centro histórico da Vila de Almeida, junto ao antigo Palácio do Governador, posterior escola primária, onde Eduardo Lourenço fez o seu exame da 4ª Classe.

A obra única em azulejo da pintora reveste um elemento escultórico, projectado por Arq.Tiago Montepegado, composto por uma lâmina vertical em betão armado, com aproximadamente 4,5m de altura por 2,00m de largura e 28cm de espessura, que se projecta a partir de um embasamento em blocos de granito da região, idênticos aos existentes nos muros e construção circundantes. Implantado no topo sul, garante uma continuidade visual do conjunto contribuindo para rematar o desenho do largo.

O memorial revestido por azulejos com as cores e o traço de Graça Morais e o brilho que reconhecemos na relação sempre diferente que a exposição solar provoca ao longo do dia, funcionará como farol de referência que marcará o lugar desta homenagem ao Professor Eduardo Lourenço no largo que já tem o seu nome.

* Eduardo Lourenço – “O Labirinto da Saudade” (1978)

O OFICIANTE DO SABER
Por Graça Morais

Eduardo Lourenço, nome ímpar e maior da Cultura Portuguesa, dizia numa entrevista a Ana Marques Gastão, que eu era filha de Trás os Montes, a região mais arcaica de Portugal.

Também Eduardo é filho das Beiras, região rude e primitiva povoada de anjos e de mitos.

Quando tive o privilégio de ser convidada para criar uma obra a realizar em azulejos em homenagem da Vila de Almeida ao seu sábio, senti um receio profundo de não conseguir oferecer-lhe em pintura o que ele me tinha oferecido em palavras sobre a minha obra.

Comecei por desenhar e pintar sobre uma enorme folha de papel a imagem que serviria de modelo para o painel de azulejos a colocar mais tarde no Largo, agora chamado de Eduardo Lourenço.

Resolvi desenhar o espaço em branco com presenças cheias de simbolismo:

1- A menina representa a infância de Eduardo na sua terra natal S.Pedro de Rio Seco.

2- O menino de olhos abertos para o Mundo que o rodeia ao lado de uma figura maternal-Mãe-DeusaSabedoria.

3- No alto do painel represento Eduardo Lourenço, o filósofo sentado sobre ramos de Loureiro, simbolizando a imortalidade.

Na face oposta, representei ao nível do nosso olhar Eduardo Lourenço de perfil olhando e interrogando o Mundo.

Algumas das suas frases sábias ficam inscritas no painel como testemunho da sua obra monumental.

Na parte superior do painel surge um anjo sorridente que continua a iluminar o Sábio num diálogo Eterno.

Desejo que a figura de Eduardo Lourenço, com este simples e luminoso painel de azulejos permaneça na memória de quem o vê e de quem o lê com um sentimento de pertença e de gratidão.

É maravilhoso saber que, no meio de fragas e de giestas, nasçam sábios que marcam para sempre a história da Humanidade.

Lisboa, 9 de Novembro 2021

EDUARDO LOURENÇO OU A ALMA DO INTERIOR
Por Guilherme d’Oliveira Martins

Em S. Pedro de Rio Seco está a origem de tudo em Eduardo Lourenço, de uma atitude de dúvida e de espanto. «A saída dessa aldeia foi a saída para o mundo exterior, a saída sem regresso». E a Guarda, primeiro destino, tornou-se como se fora Nova Iorque, o sinónimo do mundo. «A interioridade é um mito porque estávamos sempre no exterior de nós próprios». Tudo era verdade na aldeia - «três mil anos de herança», desde o neolítico. «Nunca saí desta idade média onde todas as coisas, todas as vozes, todos os rostos eram naturais». Depois, vieram Lisboa e o Colégio Militar. Lisboa era o sítio ideal para acreditar que as caravelas continuavam a existir. Na Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra, na biblioteca, encontrou Nietzsche, continua com Kierkegaard, entusiasma-se com Hegel e estuda Husserl. Joaquim de Carvalho e Sílvio Lima tornam-se referências que o marcam pelo sentido crítico. «Heterodoxia» surge, assim, como algo de natural. Trata-se de um domínio, um território que o colocou “fora dos campos delimitados por qualquer ortodoxia, de qualquer género que fosse». Vitorino Nemésio fala de saber e amor da exatidão, «escrito com um nervo e uma elegância que farão inveja a muitos prosadores brevetados». Quase nos admiramos pela clarividência, que o curso histórico confirma. Quando sai de Portugal, recusa a condição de exilado. É apenas emigrado. «Como é que um homem nascido em S. Pedro de Rio Seco pode ser outra coisa que não português?».

O seu método será o de olhar de dentro, mesmo estando de fora. Paris, Hamburgo, Heidelberg, Montpellier, Salvador da Bahia. Depois, Grenoble, Nice, Vence. Mas o jovem professor continua atentíssimo ao que se passa em Portugal. São fundamentais os seus textos em «O Tempo e o Modo». Sentem-se os sinais da transição, lenta, com sintomas contraditórios. Eduardo Lourenço procura compreender Portugal nesse momento crucial de 25 de abril de 1974, em que a liberdade chega com o fim do império. E escreve não para recuperar o país, que não perdeu, mas para o «pensar» com a mesma paixão e sangue-frio intelectual com que pensava quando «teve a felicidade melancólica de viver nele como prisioneiro de alma». Em «O Labirinto da Saudade», publicado na revista “Raiz e Utopia”, diz ser chegada «a hora de fugir para dentro de casa, de nos barricarmos dentro dela, de construir com constância o país habitável de todos. Não estamos sós no mundo, nunca o estivemos». A conversão cultural necessária passa por um olhar crítico sobre o que somos e o que fazemos. Como todo o Ocidente tornámo-nos Todo o Mundo e Ninguém, como em Mestre Gil. E hoje Portugal, Europa e o mundo obrigam a repensar o destino como vontade, seguindo a lição perene de Antero de Quental e dos seus, porque o ensaísta, cultor do desassossego tem no seu código genético a herança da síntese fantástica que liga o grito dos jovens de Coimbra e do Casino Lisbonense ao impulso futurista do Orpheu. E assim empunha o estandarte europeu: «A cada um sua utopia. Utopia por utopia, como europeu desiludido mas não suicida, prefiro ainda a de uma Europa apostada em existir segundo o voto dos que há meio século a sonhavam, não como uma continuidade óbvia de um passado “europeu” sem identidade, mas como aposta numa Europa, empírica e voluntariosamente construída pelas “várias europas” que são cada uma das suas nações».

Só a heterodoxia permite entender o nosso cadinho, sem saudosismo, indo ao encontro do diálogo entre culturas, ligando a razão e o sentimento, percebendo a alternância cíclica do otimismo e do pessimismo. Mas é a “maravilhosa imperfeição” que tudo anima. «É a vida mesma que nos biografa – por isso é a nossa vida – e escrevendo-se em nós nos autobiografa sem que a ninguém, salvo essa vertiginosa musa, possamos imputar tão extraordinária façanha». Com um dom de usar as palavras para melhor as adequar ao mundo da vida, o ensaísta não esconde que a essência do género que cultiva, tem a ver com a confissão na primeira pessoa do singular. «Nisso quem está a menos, somos nós, e a vida tão excessivamente a mais que só a conhecemos por nossa nos intervalos em que a temos como se de outro fosse. Só os outros nos tiram retratos e só a coleção aleatória destas vistas ocasionais dos outros sobre nós ocasionalmente arquivadas, se isso valesse a pena, para termos mais tarde e acabada a vida que não nos tem, seria então um “autorretrato”».

MONUMENTO A EDUARDO LOURENÇO. BALUARTE DA IDENTIDADE
Por António José Monteiro Machado, Presidente da Câmara Municipal de Almeida

Eduardo, nome que desde a infância se ouvia como identitário da nossa Riba Côa, cultor das memórias e da lusofonia, impregnado de encanto pelas vetustas pedras graníticas da aldeia onde nasceu. Lourenço, nome dos letrados florentinos que cultuaram o renascimento das artes, das letras e do pensamento, refletidos no simples menino oriundo de S. Pedro do Rio Seco, terra onde nasceu e se fez sepultar, lado a lado aos progenitores e dos que em vida amou.

Foi a 1 de dezembro de 2020, feriado nacional que evoca a Restauração de 1640, que Eduardo Lourenço faleceu e o seu nome ecoou além-fronteiras. Em sede de Reunião de Câmara, por unanimidade discutiu-se sobre a importância de evocarmos a personalidade mundial do eminente Eduardo Lourenço, símbolo da cultura e pensamento português. Decidiu-se posteriormente erguer um monumento, elogio que os almeidenses tinham para perpetuar o nosso Baluarte da Identidade lusíada, com a mestria da artista Graça Morais, sob a orientação e produção da Galeria Ratton, e com o acompanhamento do então Vicepresidente, José Alberto Morgado, responsável pelo pelouro da Cultura.

Após contatos e diligências desenvolvidas, alargadas a outros intervenientes neste delicado processo, com destaque para o Professor Doutor Guilherme d’Oliveira Martins, Administrador da Fundação Calouste Gulbenkian, o projeto foi-se consolidando, erguendo-se no Largo que recebeu o nome de Professor Eduardo Lourenço, entre os baluartes de Santo António e S. Pedro. Consiste numa base de grandes blocos graníticos, evocando os barrocos da sua aldeia, onde se eleva uma armação retangular em cimento, totalmente revestida em material cerâmico policromado. A figuração e as cores simbolizam a sabedoria de um homem ímpar. Pode-se ler neste painel frases que ilustram o seu pensamento universal, nunca esquecendo que ilustram as mulheres e homens do território, imortalizados na obra sublime Labirinto da Saudade.

Eduardo voltou à sua origem, prendendo-se à terra de onde partiu para mais tarde voltar, cumprindo-se o desígnio português de sermos habitantes do mundo.
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