A artista, reconhecida pelo seu extraordinário trabalho de resgate da canção afro-peruana em combinação com a divulgação dos poetas latino americanos, apresenta em “Palabras Urgentes” uma forte mensagem que usa a mais poderosa das armas de combate à injustiça: o conhecimento.

Premiado pela revista “Songlines” o disco está carregado de simbolismo, por ter sido lançado no mesmo ano em que se comemoraram os 200 anos de independência do Peru mas também porque Susana Baca o gravou como forma de protesto e debate, encorajando à celebração da vida e à revindicação de causas e ideais, numa homenagem aos que lutaram por um mundo melhor.

Ouvindo-a neste registo, que sucede ao belíssimo “À Capella” (2020) com que arrecadou o seu 3º Grammy Latino, percebemos que Susana Baca persiste em aprofundar as raízes musicais que sempre a acompanharam sem, porém, deixar de se abrir a novas perspetivas sobre a sua própria linguagem, como a do produtor Michael League, dos Snarky Puppy - ele que em Portugal, lembremos, renovou a nossa própria noção do fado ao colaborar com Gisela João.

Não é que Susana Baca, aos 78 anos, precise de mais motivos para que lhe aplaudamos um percurso riquíssimo, coroado por várias distinções, pela edição de inúmeros discos e pelo lançamento recente de “Yo Vengo a Ofrecer Mi Corazón”, o seu livro de memórias. Mas, como todos os grandes artistas, esta senhora que nasceu numa família de músicos e se dedicou toda a vida a conhecer a fundo a história do seu Peru, ao ponto de assumir o cargo de Ministra da Cultura em 2011, não cessa de se questionar a si e à humanidade, arrastando-nos a nós nesse mesmo exercício vital.

Hoje, é a própria que nos alerta para os tempos difíceis que estamos a passar e que nos incita, através da sua música, a viver de acordo com os princípios do amor e da verdade. É neste espírito de comunhão e de celebração que Susana Baca chega a Portugal, em 2023, para três datas que serão certamente especiais. Em palco testemunharemos não só o legado e a generosidade de uma das últimas divas da música latino americana, mas também a poetisa, a investigadora, a ativista, a mulher total que é Susana Baca.

  

Un album aussi militant que poétique F.I.P.