“Imaginar o futuro da Europa exige que todos nós ultrapassemos o inconsequente. Precisamos de acreditar que outros futuros podem ser construídos. Temos que insistir em espaços onde esses futuros possam ser imaginados e concretizados, onde todos os seres humanos e não-humanos possam prosperar. Onde todos nós pertençamos.”
Naomi Russell, espaço agora now   

Com foco na construção de um continente solidário e diverso, o pavilhão itinerante Liquid Becomings termina a sua jornada na capital portuguesa com propostas de arte, música, performance e literatura, e muitos encontros, numa celebração artística ancorada em temas como a sustentabilidade, a democracia e a inclusão social, de 7 a 9 novembro.

Num eixo que compreende a zona oriental e norte da cidade, nomeadamente a Doca do Poço do Bispo, a Biblioteca de Marvila, o Clube Oriental de Lisboa e a Quinta Alegre, a programação multidisciplinar que remata o The European Pavilion 2024: Liquid Becomings pretende promover o diálogo entre artistas e comunidades locais, mas, acima de tudo, aproximar as pessoas, debatendo e imaginando o que a Europa pode e deve ser.

O evento arranca ao início da tarde de 7 de novembro com dois momentos distintos: na Quinta Alegre, com a abertura da exposição que apresenta os materiais recolhidos (notas, desenhos, filmes, sons) durante as quatro viagens realizadas pelos rios Danúbio, Vístula, Reno e Tejo, com a presença dos artistas e curadores integrantes das tripulações; e, na Doca do Poço do Bispo, convida-se o público a participar na montagem do barco MS-Fusion Ultra, criado pelo colectivo austríaco MS-Fusion, que tem como centro da sua atividade a realização de residências artísticas e científicas ao longo do Danúbio.

Um pouco mais tarde, dão-se as boas-vindas às tripulações que transportam as bandeiras do seu rio e que, de seguida, desfilam entre a Doca e o Clube Oriental de Lisboa, na companhia da performance do grupo de percussão Bloco Secretinho. Depois de penduradas as insígnias criadas pelo artista visual Siniša Ilic na fachada do Clube, entram em cena as Batucadeiras das Olaias para um concerto que antecipa um jantar comunitário servido por membros de diferentes comunidades estrangeiras a viver em Lisboa. A noite continua em modo festivo com os DJ sets de Lil Bukkake, que, vinda diretamente da Califórnia, mistura estilos de todo o mundo, da pop à cúmbia, e do também investigador, produtor cultural e artista transdisciplinar Didi, que, na pista de dança, se conecta com os ritmos e manifestações artísticas afrodiaspóricas.

Até sábado, o The European Pavilion 2024: Liquid Becomings | Imagining the Future of Europe mantém-se à tona enquanto “um ato de resistência para conquistar tempo para experimentar o que significa pensar e sentir em conjunto, para refletir sobre pertença e o potencial de futuros coletivos”, como evidencia Naomi Russell, co-fundadora do movimento artístico espaço agora now, que este ano desenvolve o Liquid Becomings em parceria com as organizações internacionais Teatro Meia Volta (Portugal), FLOW (Polónia), MS-Fusion (Áustria) e United Artist Labour (Sérvia).

Tal como os rios que correm e que “são fronteiras, pontes, obstáculos, soluções”, o Liquid Becomings une instituições culturais, artistas e comunidades, como no concerto resultante da oficina conduzida pelo rapper e ativista Valete com alunos de uma turma de 9.º ano da Escola EB23 Pintor Almada Negreiros, comissionado pelo projeto. O espetáculo, intitulado Putos di Kebrada, acontece a 8 de novembro, pela tarde, nessa mesma escola, numa partilha de ideias, sentimentos e experiências transformada em performance musical. Segue-se uma audio-caminhada sensorial, poética e reflexiva com direção artística da atriz e encenadora Paula Diogo, Terra Nullius, e um serão, no Clube Oriental, que inclui um concerto da compositora e intérprete sérvia Marija Balubdžic e uma Roda de Samba com o colectivo feminista Gira, que também apresenta a sua colaboração com Balubdžic.

No fecho desta celebração artística, a 9 de novembro, todos os caminhos indicam para a Biblioteca de Marvila, onde o aclamado escritor Gonçalo M. Tavares revela o texto encomendado para a ocasião, em torno dos temas que envolvem o continente europeu e o seu futuro. “Fábulas da Maldade para uma Europa Líquida” será lido pela atriz Tita Maravilha, com uma performance visual da artista Adriana Proganó, que reage à leitura em tempo real. A sessão termina com uma conversa entre os três criadores. Mais tarde, no Clube Oriental, tem lugar o espetáculo tornado experiência imersiva Silent Disco, de Alfredo Martins, director artístico do Teatro Meia Volta e curador do evento final em Lisboa do The European Pavilion 2024: Liquid Becomings. Pelo espaço vazio da discoteca, o público forma uma comunidade temporária, guiada pelo uso de auscultadores, num momento que especula sobre a natureza do clubbing como um ato de resistência. 

De 7 a 9 de novembro, num convite aberto ao público, The European Pavilion 2024: Liquid Becomings | Imagining the Future of Europe revela o resultado da exploração do continente europeu por meio dos seus rios, redefinindo a relação entre a arte, os seus criadores e a diversidade das comunidades.

Programação completa disponível em liquidbecomings.eu

The European Pavilion 2024: Liquid Becomings 

Iniciado pela Fundação Cultural Europeia (ECF), o The European Pavilion coloca a questão da Europa e do seu futuro em destaque através de projetos e comissões artísticas. Com base na convicção de que precisamos de mais espaços culturais que transcendam fronteiras nacionais, procura explorar e imaginar o que a Europa é e o que pode ou deve tornar-se. 

A edição inaugural decorreu em Roma, em 2022, reunindo mais de 60 artistas, académicos e ativistas. Este ano, com Liquid Becomings, o The European Pavilion assume uma forma nómada, navegando pelos maiores rios da Europa e culminando num festival em Lisboa. Inspirado pela simbologia da água, Liquid Becomings reflete a fluidez da identidade europeia e as diversas comunidades que a compõem, promovendo diálogos criativos entre artistas e as comunidades locais.

O projeto é composto por quatro embarcações sustentáveis e conta com a participação de 37 artistas de diversas disciplinas, como as artes visuais, teatro, música e design. Cada embarcação navega por um rio europeu – Danúbio, Vístula, Reno e Tejo – realizando residências artísticas e encontros públicos ao longo da viagem. As principais atividades incluem performances, workshops e debates que incentivam novas perspetivas sobre o que a Europa pode e deve ser. Cada barco, com uma tripulação de cerca de cinco artistas, dois curadores e um capitão, funciona como um espaço para explorar novas formas de convivência e futuros especulativos.

Os temas curatoriais – "Ruínas e Monstros", "Perímetros", "Coexistência" e "Corpos e Políticas" – foram desenvolvidos especificamente para cada rota fluvial, proporcionando tanto direção como flexibilidade para novas descobertas e diálogos. Selecionado unanimemente por um júri independente após uma convocatória em 2023, o projeto é desenvolvido pelo colectivo independente espaço agora now em parceria com o Teatro Meia Volta (Portugal), FLOW (Polónia), MS-Fusion (Áustria) e United Artist Labour (Sérvia).

The European Pavilion 2024: Liquid Becomings é uma comissão da European Cultural Foundation e resulta de uma colaboração entre organizações internacionais liderada pela Stichting Passaros, dos Países Baixos, e a rede espaço agora now: Teatro Meia Volta (PT), MS Fusion (AU), United Artist Labour (SE), FLOW (PL). Tem curadoria de Bojan Dordev, Laura Kalauz, Maria Magdalena Kozlowska, Siniša Ilic, Alfredo Martins, Annette Mees e Naomi Russell. O projeto conta com o apoio adicional da Fundação Calouste Gulbenkian, DGArtes e República Portuguesa, da Embaixada do Reino dos Países Baixos em Belgrado, dos Founding Friends of espaço agora now, do Instituto Adam Mickiewicz com co-financiamento do Ministério da Cultura e do Património Nacional da Polónia, da Câmara dos Deputados do Ministério da Cultura e do Património Nacional da Polónia, da Câmara Municipal de Lisboa, da Quinta Alegre. Para mais informações, visite: theeuropeanpavilion.eu 

agora now 

agora now é uma plataforma independente dedicada à experimentação pública e ao desenvolvimento de artistas nas artes performativas. Fundada por um movimento crescente de artistas, produtores e ativistas culturais, a plataforma visa criar novas conexões entre artistas e cidadãos, promovendo ações públicas e uma imaginação radical para o futuro. É o principal projeto da Dutch Foundation Stichting Passaros. espacoagora.space 

European Cultural Foundation

A European Cultural Foundation (ECF) foi fundada em 1954 com a visão de uma Europa unida onde os cidadãos e cidadãs se sintam orgulhosamente europeus. Um lugar onde possam viver, expressar-se, trabalhar e sonhar livremente, na diversidade e em harmonia. Desde então, a ECF promove um sentimento europeu no desenvolvimento e apoio a iniciativas culturais que permitem partilhar, experienciar e imaginar a Europa. A sua missão é tão urgente agora como era na altura. culturalfoundation.eu