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Luisa Cunha destacada pela Bienal de São Paulo

Luisa Cunha foi distinguida com o Grande Prémio de carreira da Fundação EDP Arte 2021 em abril.

© Galeria Miguel Nabinho

A artista portuguesa Luisa Cunha está este mês em destaque nas "Studio visits" da 34.ª Bienal de São Paulo, com uma visita ao ateliê que não tem, e a antevisão da obra que vai apresentar.

"Só pode dar uma coisa, o espaço vazio em si mesmo, ou seja, arquitetura pura, e o espaço que uma pessoa percorrerá, quando aquele espaço se torna o espaço de uma bienal", disse Luisa Cunha sobre o trabalho para o Pavilhão Ciccilo Matarazzo, que acolhe a principal exposição da Bienal de Arte de São Paulo, Brasil, a decorrer este ano de 04 de setembro a 05 de dezembro, depois de adiada, no ano passado, por causa das medidas de contenção da pandemia.

As "Studio visits" têm por objetivo reforçar o protagonismo dos artistas convidados, na contagem decrescente para a bienal, através de desafios e "provocações" lançados pela equipa de curadoria, liderada por Jacopo Crivelli Visconti.

No vídeo dedicado a Luisa Cunha, a artista conta que começou a dedicar-se à arte contemporânea apenas aos 37 anos. Explica por que motivo privilegia as obras sonoras e assegura que está "entregue ao presente", surgindo o seu trabalho artístico de forma espontânea e inesperada, "das banalidades do quotidiano, durante caminhadas e conversas com amigos".

"Nunca pensei que queria ser artista", afirma a criadora de "Hello!", uma das peças que mais interpela os visitantes da exposição "Tudo o que eu quero", patente na Fundação Calouste Gulbenkian, em Lisboa. "Tirei uma licenciatura em Filologia Germânica, e só fui tirar o curso de escultura aos 37 anos, no Ar.Co".

"Fui-me aproximando da arte porque, a certa altura, as palavras começaram a não me chegar", explicou. "É claro que uso a palavra. Mas uso a palavra de uma maneira visual".

A partir do momento em que a arte se impõe e realiza os primeiros trabalhos, a primeira 'performance', "o caminho estava definido". E então "foi simples, começaram a aparecer as obras sonoras".

A maioria delas, sublinha a bienal, "pertence ao domínio da conversa". São palavras pensadas, escritas, ditas, gravadas, repetidas, para cada pessoa que escuta. Em muitos desses trabalhos, a fala consegue, com poucas palavras, modificar "a perceção do contexto e da situação, no encontro entre a obra e o público".

É o caso de "É aqui" (2008), em que a sua voz pronuncia apenas as palavras do título, e de "A Artista à procura de si própria" (2015), em que chama repetidamente o seu nome.

Para Luisa Cunha, a fonte do seu trabalho está naquilo que é, no que viveu. O seu ateliê não existe. É onde está, garante.

"Faço grandes caminhadas pela cidade, e é aí que as obras vão surgindo [...]. O meu ateliê é por todo o lado onde estou", afirma. E a composição sonora é essencial nesse universo.

"Tudo o que sou e tudo o que acumulei ao longo da minha vida [...] é um manancial enorme que tenho dentro de mim", afirma no vídeo publicado pela Bienal de São Paulo. "Tudo o que vi, as pessoas que amei. As leituras que fiz. Os filmes que vi. Tudo isso é uma grande fonte. E é com essa fonte que produzo".

"O sentido do absurdo" é também um traço característico que aponta em si mesma. Assim como a vivência constante do momento presente.

"Costumo dizer que não gostaria de viver o milionésimo de segundo anterior a este instante. Claro que dentro de mim está o passado. O futuro, não me interessa. E quando digo isto, o que quero dizer é que não quero nada. Querer é uma força que não exerço. O futuro irá acontecer e viverei o futuro como presente", afirma, no vídeo da Bienal.

No trabalho para a Bienal de São Paulo, imprimiu imagens do pavilhão desenhado por Oscar Niemeyer, colou-as nas paredes, rodeou-se delas e tentou pensar no que poderia fazer para aquele sítio, especificamente. E concluiu que "só pode dar uma coisa, o espaço vazio em si, ou seja, arquitetura pura, [...] a ligação espaço-tempo, e o corpo".

Luisa Cunha percorreu então, num passo normal, todo o interior do edifício, da entrada até ao terceiro piso, como explica. "Demoro 37 minutos", garantiu. E deixa perceber que é nesse intervalo, que acontece a obra.

A página do evento dedicada a Luisa Cunha explica que a peça "1.680 metros" (2020) "foi concebida a partir das características únicas" do pavilhão desenhado por Niemeyer, sede histórica da Bienal de São Paulo.

"A artista conta-nos primeiro a sua própria altura e o tamanho do seu passo -- imediatamente nos comparamos com ela; somos mais altos ou mais baixos, andamos com passos mais largos ou estreitos, ou percebemos que nunca pensamos no tamanho do nosso andar. Na frase seguinte, Luisa Cunha calcula o tempo que demoraria para percorrer o pavilhão vazio - tentamos imaginá-lo -, e reflete sobre a impossibilidade de definir quanto levaria visitar uma exposição no mesmo lugar. Esta exposição, uma anterior, ou outra ainda".

"Devo dizer que a primeira espectadora da obra, quando é feita, sou eu", afirma Luisa Cunha no vídeo da Bienal. "E quando olho para o que fiz, começo a ver essa metalinguagem que a peça tem. Mas só depois da obra feita".

A página da Bienal para a artista portuguesa inclui ainda uma imagem de "Word for Gardens", instalação sonora que concebeu para a Bienal de Sidney, em 2004, com base num texto próprio, de observação, que esteve no jardim botânico da cidade australiana e que atualmente faz parte da coleção da Fundação de Serralves.

A presença portuguesa na 34.ª Bienal de São Paulo conta também com a dupla de artistas Mariana Caló e Francisco Queimadela.

O anúncio da participação de Luisa Cunha na Bienal de São Paulo foi feito em novembro do ano passado, quando participou na mostra coletiva "Vento", na cidade brasileira, apresentada depois do anúncio do adiamento.

Em abril deste ano, Luisa Cunha foi distinguida com o Grande Prémio de carreira da Fundação EDP Arte 2021.

A 34.ª Bienal de São Paulo, que toma o verso de Thiago de Mello "Faz escuro, mas eu canto" para título, tem curadoria geral de Jacopo Crivelli Visconti, e estava inicialmente agendada para setembro de 2020.


por Lusa e Diário de Notícias | 6 de agosto de 2021
Notícia no âmbito da parceria Centro Nacional de Cultura | Jornal Diário de Notícias

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