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Teatro

Outro centenário: Prista Monteiro

Sem querer transformar este blogue num caderno de evocações cronológicas e biográficas, pode ter interesse evocar-se agora o centenário de Prista Monteiro, isto, note-se bem, ainda antes dos 100 anos que serão celebrados em 2022, mas merecem já hoje uma primeira evocação.


Pois a verdade é que não é habitual celebrar com alguma antecedência este tipo de datas, mas de facto, no caso que agora nos ocupa, justifica-se a referência, dada a relevância do dramaturgo em si mesmo, e a adequação da vocação do centenário em si mesmo: pois com efeito, Prista Monteiro foi relevante na construção/renovação do historial do teatro português pelo que nos propomos já retomar o tema em artigos futuros.


E isto porque efetivamente Prista Monteiro merece a evocação, dada a relevância que o seu teatro atingiu numa época de renovo da dramaturgia portuguesa. Com feito, Hélder Prista Monteiro está hoje algo esquecido como dramaturgo: mas não se deve ignorar a qualidade da sua obra e a celebração dos 100 anos entretanto em decurso.

Recorro então ao que publiquei na “História do Teatro Português”, há exatos 20 anos, acerca da dramaturgia de Prista Monteiro.

Aí se lê que claramente inscrito no teatro do absurdo é, sem dúvida nenhuma, Prista Monteiro, não obstante eventuais oscilações da sua vasta dramaturgia - cerca de 18 textos numa constância exemplar, iniciada em 1959 com “Os Imortais”. A proposta assume por vezes uma toada realista de que são exemplos aí citados “O Candidato (1972) ou “A Caixa” (1980), transposta para o cinema por Manoel de Oliveira em 1995 que a evolução, expressa ou implícita dentro de cada texto, claramente contraria, mesmo quando não levada às últimas consequências.

De notar uma vocação cénica que conduz o autor a minuciosíssimas notas de ambientação e mesmo de interpretação, bem presentes por exemplo em “A Vila” (1985) notável e dura meditação sobre uma sociedade desumanizada. A “vila” é uma espécie de ilha no espaço e no tempo, onde o Homem, a Mulher e os casais vizinhos arrastam um simulacro existencial de sobrevivência, de trabalho intenso e sórdido, no terror de um comando ignoto que os subjuga. Nesse ambiente, o nascimento de um filho é, ao mesmo tempo, esperança de vida e tragédia que tem de ser evitada.

Mais elementos próximos de Beckett são as primeiras peças do autor, “Os Imortais,” já citada, mas também “A Rabeca” (1959), “A Bengala Folguedo do Rei Coxo” (1961) notável pela exasperação num quadro despejado de cortinados negros, “O Colete de Xadrez” (1963) “O Meio da Ponte” e “O Anfiteatro” (1966).

“O Fio ou as Doze Chávenas de Porcelana Chinesa da Dinastia dos Ming” (1978) segue uma linha semelhante, onde nos parece encontrar, talvez mais claros, os ecos de Ionesco; mas precisamente Bernardo Santareno, num interessante prefácio à edição, alerta para a originalidade deste teatro e para o sentido social numa raiz portuguesa. A partir de “O Mito” (1980) e de “Naturalmente Sempre” (1982) acentua-se novamente a expressão mais realista e mais social (sic) deste teatro, mas nunca se perde a marca do absurdo, tal como “Não é Preciso ir a Houston” E “De Graus” (editados em 1992) e “Auto dos Funâmbulos” confirmarâo”…

E assim se analisa o teatro de Prista Monteiro, ao qual voltaremos!

Duarte Ivo Cruz

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