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Alberto I do Mónaco e D. Carlos: dois soberanos, a mesma paixão pelo mar

A amizade entre o rei português e o príncipe monegasco é homenageada na mostra O amigo oceanógrafo Alberto I do Mónaco e Portugal 1873-1920, no Museu da Marinha.


Quando em 1863 D. Carlos nasceu no Palácio da Ajuda, um Alberto I do Mónaco de 15 anos estudava em Paris, no Colégio Stanislas. Mas nem a diferença de idades impediu, anos mais tarde, a amizade entre o rei de Portugal e o príncipe monegasco, alimentada pela paixão comum pelo mar. É essa relação que é agora homenageada na exposição O amigo oceanógrafo Alberto I do Mónaco e Portugal 1873-1920, que inaugura amanhã no Museu da Marinha, em Lisboa, onde estará patente até 18 de dezembro (todos os dias, das 10h00 às 18h00).

"A oceanografia portuguesa estava a dar os primeiros passos e Alberto I foi um pouco o catalisador desta ciência dos oceanos. De tal forma que D. Carlos se tornou seu aluno", explica Thomas Fouilleron, um dos quatro curadores da exposição, em conversa por Zoom com o DN. Para o também diretor dos Arquivos e da Biblioteca do Palácio do Mónaco, "o exemplo do rei levou a que a ciência portuguesa estudasse melhor os seus mares, a ver o seu potencial e a necessidade de preservar o ambiente e a biodiversidade". Preocupações atuais, passado mais de um século, mas que não chegam para Fouilleron classificar Alberto I e D. Carlos como pioneiros da ecologia. "Evitemos anacronismos, mas sim, havia uma preocupação do soberano monegasco que contaminou D. Carlos. Sobretudo com os stocks, evitar a sobrepesca que põe em causa a renovação das espécies", admite.

Organizada pelo Comité Albert I - 2022 e coincidindo com o centenário da morte do soberano monegasco, a exposição será inaugurada pelo príncipe Alberto II do Mónaco, bisneto de Alberto I, e pelo Presidente da República Portuguesa, Marcelo Rebelo de Sousa.

Composta por três partes, a primeira irá focar-se na amizade entre os soberanos oceanógrafos. "Como nasceu esta amizade, como se materializou através de uma correspondência intensa e contínua, ao mesmo tempo pessoal, mas também científica e sábia. Os seus interesses noutras temáticas, a caça, por exemplo. A amizade também através das respetivas mulheres, a princesa Alice e a rainha D. Amélia", explica Thomas Fouilleron.

A segunda parte é dedicada aos trabalhos oceanográficos de Alberto I nos mares portugueses. "Chamámos a esta parte, em latim, Ex abyssi ad alta, ou seja, Das profundezas às alturas. Era a divisa que o príncipe Alberto I adotou para o Museu Oceanográfico do Mónaco, que ele criou para recolher, juntar e conservar os resultados das suas campanhas oceanográficas. E isso corresponde à sua obra portuguesa, porque ele trabalhou no oceano, nas profundezas, mas também, graças à meteorologia, nos ares, nas alturas. Por exemplo com o seu Projeto Meteorológico nos Açores", explica Fouilleron, lembrando que o Observatório da Horta tem o seu nome desde 1923. Aqui o visitante vai poder ver objetos científicos de Alberto I, vindos do Museu Oceanográfico do Mónaco, e também de D. Carlos, vindos do Museu da Marinha ou do Aquário Vasco da Gama.

E a terceira parte, chamada O Mapa e o Território, retoma, zona por zona, as campanhas oceanográficas do príncipe Alberto I na Madeira (onde, além do mais, conheceu a segunda mulher), Açores, Cabo Verde (importante devido à descoberta do fenómeno da anafilaxia, que valeu o Nobel da Medicina a Charles Richet) e Lisboa.

Nesta parte da mostra, vão também estar em exibição fotografias de natureza etnográfica. "O príncipe Albert não olhava só para os mares, interessava-se também pelas pessoas. Tem observações muito interessantes sobre as populações dos Açores, da Madeira. É um testemunho precioso, também para Portugal, sobre os usos e tradições de finais do século XIX, início do XX", garante Fouilleron.

Apelidado de "Príncipe Útil" por "não querer ser um monarca ocioso, que se aproveita da sua posição", Alberto I não só transformou o principado de monarquia absoluta em monarquia constitucional como, também nas palavras de Fouilleron, "o seu génio foi fazer do Mónaco, um rochedo com dois km2 e um Exército de 150 carabineiros, um pouco a capital da Oceanografia Mundial".

Quanto à relação com Portugal, foi muito além da amizade com D. Carlos, assassinado em 1908, dois anos antes do fim da monarquia. Na sua última viagem ao nosso país, Alberto I recebeu uma homenagem da República Portuguesa. Passado mais de um século, Fouilleron relembra que "em 2017, quando o Mónaco quis recomeçar um ciclo de explorações a exemplo de Alberto I, financiando campanhas oceanográficas, as primeiras explorações aconteceram na Madeira". E o curador acredita que entre o Mónaco e Portugal pode haver hoje "uma aliança, como no tempo de D. Carlos e Alberto I, de um pequeníssimo país europeu com um país um pouco maior, mas com extensas zonas marítimas".


por Helena Tecedeiro in Diário de Notícias | 13 de outubro de 2022
Notícia no âmbito da parceria Centro Nacional de Cultura | Jornal Diário de Notícias

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