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Seis anos do Trindade dão um festival de antestreias

A partir de domingo o Cinema Trindade celebra o sexto aniversário com uma programação de exceção, apontando sobretudo ao risco. Filmes novinhos em folha com a assinatura de cineastas como Marco Martins, Ali Abbasi, Jerzy Skolimowski ou Lucretia Martel. O cinema está em festa no Porto!

São seis anos a mudar a face de exibição do Porto e a reformular nacionalmente uma maneira de mostrar o chamado cinema de arte & ensaio. Este domingo começa um programa especial para assinalar o aniversário. Um programa que mais parece um festival de cinema, onde não faltam sobretudo antestreias, focos e conversas com os cineastas.

Uma festa de cinema que é organizada por Américo Santos, o programador e proprietário das duas salas da Baixa portuense, alguém que nas últimas décadas tinha ganho experiência a dirigir um dos mais criteriosos festivais de cinema em Portugal, o Luso-Brasileiro de Santa Maria da Feira. Ou seja, está-lhe no sangue esta ideia de sessões únicas. Aliás, a dinâmica destas duas salas é ao longo do ano experimentar este desígnio constante de programação com debates, sessões exclusivas e muitos filmes novos semana fora.

Ainda assim, Américo é prudente nessa ideia de "festival": "Este programa de aniversário é uma afirmação daquilo que pretendemos propor ao nosso público. Nesse sentido, o sinal mais forte é a secção Expectativa 23, na qual se apresenta uma antestreia por dia (12 ao todo) e que funciona como uma antecipação dos filmes que vamos mostrar até à primavera. Embora contendo uma evidente componente de estreias, não deixa de ser o oposto daquilo que faríamos enquanto festival de cinema. Explicando melhor: no âmbito de um festival, teríamos sempre como prioridade programar filmes fora do raio de ação das distribuidoras, logo nunca levaríamos em conta realizar antestreias de filmes que, mais tarde ou mais cedo, vão estar à disposição do público. Convém lembrar que somos um cinema de programação diária, pelo que, para nós, faz todo o sentido apostar nesta antecipação de filmes que, provavelmente, vão marcar o ano cinematográfico."

E olhando para o programa, há polos de atração fortes e é seguro que, mesmo para quem não é do Porto, estes dias de aniversário sejam uma tentação para uma peregrinação ao Trindade, sobretudo tendo em conta algumas das secções que arrumam este programa.

Para além da Expectativa, há um foco em duas cineastas: a argentina Lucretia Martel e a portuguesa Cláudia Varejão. e sessões Made in Porto, compostas por filmes feitos na região da Invicta.

Mas os filmes mais mediáticos poderão estar nas antestreias integradas na "marca" Portugal Cinema, como são os casos dos bem recomendáveis Great Yarmouth: Provisional Figures, de Marco Martins, e Nação Valente, de Carlos Conceição, dois exemplos de obras que foram bem recebidas em festivais internacionais de Lista A.

Sobre este foco na produção no Porto, o compromisso é claro: "Pretende dar voz e visibilidade ao cinema feito na cidade. Num momento em que os apoios à produção no Porto, concedidos pela Filmaporto, estão a permitir o aparecimento de estruturas ligadas ao cinema, é fundamental encontrar salas de cinema para mostrar e afirmar o cinema feito na cidade. O Cinema Trindade está empenhado em fazer parte desta equação, até porque muitos dos novos cineastas são frequentadores assíduos das nossas sessões. No fundo, da nossa parte, além das relações de proximidade com esses novos cineastas, sentimos a necessidade de garantir o Cinema Trindade como montra desta geração".

Américo Santos revela ao DN que a abertura recente do Batalha - Centro de Cinema ainda não parece trazer efeitos à circulação cinéfila na cidade: "É necessário dar tempo ao tempo para que o trabalho de formação de públicos apresente resultados. Mas, no imediato, a expectativa é de que contribua bastante para a circulação de públicos na Baixa do Porto."

Destaques:

LETRUX - VIVER É UM FRENESI, de Marcio Debellian (dia 5, 8, 11, 12)
Trata-se de um dos títulos mais esperados deste ciclo: é uma estreia mundial. Um documentário que traça o percurso do fenómeno pop brasileiro, Letrux, de seu nome verdadeiro Letícia de Pinheiro Novaes, alguém que também é conhecida por ter pertencido ao duo Letuce. Mais uma vez, o sotaque brasileiro com primazia no Cinema Trindade.

TORI E LOKITA, dos irmãos Dardenne (dia 6)
Luc e Jena-Pierre Dardenne mais pessimistas do que nunca neste drama sobre dois emigrantes africanos numa Bélgica impiedosa. Foi o vencedor do Prémio dos 75 Anos do Festival de Cannes e faz da sua tensão um espetáculo minimalista. Não saímos iguais após os créditos finais. Uma tragédia realista para meter respeito...

AS BESTAS, de Rodrigo Sorogoyen (dia 7)
Antes de chegar aos cinemas em março, eis um dos filmes mais aplaudidos em Cannes. Cinema espanhol com o majestoso Denis Ménochet, aqui no papel de um emigrante francês na Galiza ameaçado por locais pouco hospitaleiros. Nunca a sombra de Deliverance, de John Boorman, foi tão bem replicada...

SAINT OMER, de Alice Diop (dia 12)
O cinema francês também estará bem representado neste drama vencedor em Veneza do Grande Prémio. A primeira ficção da documentarista Alice Diop é um olhar sem carecer de frieza sobre um processo judicial contra uma mãe que assassina um bebé. Um filme de uma estranheza perturbante, mas que certamente vai inflamar amores e ódios.

PACIFICTION, de Albert Serra (dia 16)
Outra das pérolas desta celebração, porventura o melhor Albert Serra: uma viagem até ao Taiti com um dos grandes atores franceses do nosso tempo, Benoit Magimel. Está multinomeado aos Césares e é uma complexa discussão sobre o poder de sedução de uma câmara de cinema e de um lugar. Uma experiência delirantemente inclassificável...

HOLY SPIDER, de Ali Abbasi (dia 10)
No Irão contemporâneo, um fanático religioso anda a assassinar prostitutas. Ali Abbasi, depois dos ogres de Na Fronteira, filma os monstros do seu Irão num filme que desconstrói as fronteiras do género policial. Seguramente, um dos acontecimentos da temporada. Importa seguir este cineasta radicado na Suécia até ao fim do mundo... 

 


por Rui Pedro Tendinha in Diário de Notícias | 2 de fevereiro de 2023
Notícia no âmbito da parceria Centro Nacional de Cultura | Jornal Diário de Notícias

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