"É de Cultura como instrumento para a felicidade, como arma para o civismo, como via para o entendimento dos povos que vos quero falar"

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Maravilhoso ensaio filosófico de Ortega y Gasset

Na tradução, o que é preferível, a feia fiel ou a bela infiel? É este o dilema fundador de Miséria e Esplendor da Tradução, um dos grandes textos da filosofia da linguagem no século XX e uma contribuição continuamente fecunda para o pensamento sobre o ato de traduzir.

Escrito em 1937, durante o exílio do filósofo espanhol José Ortega y Gasset em Paris, este é um diálogo fictício entre o autor e determinados professores no Collège de France, no qual ambicionava dar palestras que nunca aconteceram. Os franceses não lhe deram o devido valor, mas os argentinos sim, e o ensaio foi publicado, em cinco artigos –que correspondem aos cinco capítulos da obra–, no jornal La Nacíon. Mais tarde o génio do pensador espanhol viria a ser reconhecido um pouco por todo o mundo e Miséria e Esplendor da Tradução tornou-se num dos ensaios de língua espanhola mais citados de sempre. É, por isso, e pela ligação que o autor viria a ter com Portugal, incompreensivelmente que este livro nunca tenha sido traduzido para português. Lacuna que praticamente nove décadas depois, a Guerra e Paz colmata com uma edição inédita traduzida por Pedro Ventura. 

Um dos maiores filósofos e ensaístas espanhóis e europeus do século XX, José Ortega y Gasset não foi bem acolhido pela elite académica parisiense aquando do seu exílio na capital francesa, na década de 1930. Na falta de um tão ansioso convite como palestrante, o autor ensaiou, no livro Miséria e Esplendor da Tradução, uma presumível transcrição de uma sessão no Collège de France, num modelo inspirado nos diálogos platónicos.

Nele, o autor afirma ser um utopismo, crer que duas palavras em duas línguas diferentes se refiram ao mesmo objecto. Ortega procede então à distinção entre dois tipos de utopismos, personificados pelo bom e pelo mau utopista. Na introdução desta edição inédita em Portugal, que agora se apresenta, o tradutor Pedro Ventura, resume o que em Ortega y Gasset difere ambos os utopistas: «Quando o homem se põe a falar, fá-lo porque crê que ao falar manifesta exactamente aquilo que pensa, mas que isto é ilusório e próprio do mau utopista. A linguagem não dá para tanto e diz apenas uma parte daquilo que pensamos».

Remetendo para a famosa «traição do tradutor, Traduttore, traditore», o autor sublinha esse carácter inverosímil da tradução com total fiabilidade. Igualmente curiosa é a indelével inspiração em Esplendores e Misérias das Cortesãs, de Balzac, para a escolha do título. Decisão que relaciona duas das profissões mais antigas do mundo, num elo que se funda na necessidade e na impossibilidade que ambas colmatam.

Por fim, o autor propõe aos tradutores, em reacção aos massacres da Alemanha Nazi, às purgas de Moscovo e à Guerra Civil Espanhola, uma missão: salvarem a Europa, que precisava que nela voltasse a imperar uma autêntica filosofia, traduzindo os clássicos gregos e romanos. Essa é «a única viagem absoluta no tempo que podemos fazer. E este género de excursões é o que de mais importante actualmente pode ser tentado para a educação do homem ocidental.»

Absolutamente intemporal, Miséria e Esplendor da Tradução chega às livrarias de todo o país, numa edição Guerra e Paz que inclui introdução e notas do tradutor Pedro Ventura. O livro será incluído na colecção «Livros Brancos» que se distingue pela sobriedade gráfica em tudo correspondente à singularidade da obra. 

Miséria e Esplendor da Tradução
José Ortega y Gasset
Não-Ficção / Filosofia
58 páginas · 15x20,5 · 12,00 €
Nas livrarias a 23 de janeiro de 2024

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