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Um livro de Cardoso Pires e o argumento de António-Pedro Vasconcelos num filme sobre um país a preto-e-branco
“Lavagante” chega às salas de cinema esta quinta-feira, dia em que José Cardoso Pires faria 100 anos. O filme do realizador Mário Barroso baseado no romance do escritor tem como protagonistas Júlia Palha, Francisco Froes, Nuno Lopes, Diogo Infante e Rui Morrison. A música original é de Mário Laginha.

“Lavagante” estreia no dia em que se assinala o centenário do nascimento de José Cardoso Pires. O filme, que tem por base o romance homónimo do escritor português, conta com argumento do realizador também já desaparecido, António-Pedro Vasconcelos.
Mário Barroso pôs de pé esta missão de realizar o filme. Escolheu contar esta história de um país em ditadura, a preto-e-branco. O ator Francisco Froes diz que “o preto-e-branco acaba por trazer muito ao filme”.
“É muito engraçado, porque às vezes o preto-e-branco pode-nos afugentar um pouco de um filme por sentirmos que possa ser um filme mais parado. Não é! É um filme com um ritmo muito bom, em que estamos sempre a tentar desvendar um bocadinho o mistério do que se passa. O preto-e-branco traz muito à fotografia”, indica.
O filme traça um retrato do país que já fomos, do ambiente opressivo que se vivia em plena ditadura, nos anos 60, com a PIDE e a censura a marcarem a espuma dos dias. Além de Froes, o filme é protagonizado pelos atores Júlia Palha, Nuno Melo, Diogo Infante e Rui Morrisson.
Em pano de fundo está uma história de amor, explica Francisco Froes. “É de facto, uma história de amor que se passa na altura de Salazar e, portanto, está muito presente a PIDE e a pressão da censura, mas também da luta estudantil que houve nessa altura”, explica o ator.
O protagonista destaca o facto de o filme ter uma aura de mistério. “Nesta fase havia muitas suspeitas de quem possa ou não possa estar com o regime. Tentava-se esconder qualquer tipo de comentário que fosse contra o regime e, portanto, há muito secretismo e muita coisa a acontecer”, refere.
Não é por isso uma típica história de amor, diz Francisco Froes. Entre perseguições e prisões políticas, o filme acompanha o romance de um médico opositor ao regime e de uma jovem estudante.
“Diz-se muito que há três histórias. Há a história original do guião. Há a história que nós filmamos e depois há a história final que se faz na edição. Houve obviamente ajustes, mas está lá muito da base do que era este romance do José Cardoso Pires”, faz questão de destacar o ator.
Com música original de Mário Laginha, este filme produzido por Paulo Branco mostra um país vigiado. Trata-se de um passado que um ator como Francisco Froes, já nascido em democracia, apenas pode experienciar na ficção.
Contudo, o protagonista de “Lavagante” considera importante filmes com esta temática da ditadura perante o atual contexto do país. “Na História as coisas passam-se por ciclos. Parece que estamos a entrar aqui num ciclo diferente e acho que é importante não darmos como garantido certas liberdades e certos privilégios que temos”, alerta o ator.
Francisco Froes considera que há o perigo de “aquilo que achamos que é impossível acontecer, volte a acontecer. Estamos a um passinho”, diz preocupado. “De facto, vive-se aqui um clima de tensão com guerras e com muitos extremismos. É preciso um pouco de paz e empatia”, remata.
O ator, que entrou em séries televisivas como “Morangos com Açúcar” e que se estreou no cinema pela mão de António-Pedro Vasconcelos, considera que protagonizar "Lavagante" é também uma forma de homenagear o realizador, que morreu em março de 2024.
“Tenho uma ligação muito especial ao António-Pedro Vasconcelos. O meu primeiro filme como protagonista foi para o António-Pedro, foi o ‘Parque Mayer’. O António-Pedro foi uma pessoa muito importante, foi quase um avô para mim. Acreditou em mim. Aprendi muito com ele sobre realização, sobre estar no set e sobre sermos bons. Porque era isso que o António-Pedro era, uma pessoa muito boa”, recorda Francisco Froes.
O ator considera que o autor do argumento de “Lavagante” “lutou muito pelo cinema” português. “Quando recebi o convite para fazer o filme, o António-Pedro já não cá estava e foi muito emocionante para mim saber que ia ter esta oportunidade de poder honrá-lo”, conclui o ator Francisco Froes.
por Maria João Costa in Renascença | 2 de outubro de 2025
Notícia no âmbito da parceira Centro Nacional de Cultura | Rádio Renascença