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Olhares do Mediterrâneo, o festival da resistência feminina
Está esta terça-feira de volta a Lisboa, para a sua 12ª edição, o Olhares do Mediterrâneo – Women’s Film Festival, firme no compromisso com temas da atualidade e perspetivas das mulheres realizadoras.
Poucos festivais se caracterizam, como este, por uma identidade bem definida, uma forma única de observar as geografias humanas, e, mais precisamente, por uma proposta enquadrada numa determinada região. Ao fim de 12 edições, o Olhares do Mediterrâneo – Women’s Film Festival renova o impulso e o desejo de construir consciências e resistências a partir de filmes realizados por mulheres mediterrânicas, que contêm não apenas uma “sensibilidade feminina” (se é que isso sequer existe), mas sobretudo leituras íntimas da realidade, ângulos não padronizados. A partir de hoje, dia 28 de outubro, até 6 de novembro, as salas do Cinema São Jorge e Cinemateca, em Lisboa, acolhem o festival que este ano passa também pelo Museu do Aljube, Casa do Comum, ISCTE – Instituto Universitário de Lisboa e Goethe-Institut.
Já esta segunda-feira, pelas 18h, no Museu do Aljube, há mesmo um primeiro ato assinalável, com a estreia mundial do documentário Mulheres, Terra, Revolução, de Rita Calvário e Cecília Honório, como o título sugere, um retrato da ruralidade no combate à ditadura e posterior vivência do 25 de Abril.
Para a sessão de abertura, dia 30, no Cinema São Jorge, o Women’s Film Festival escolheu, por sua vez, a primeira obra de uma cineasta tunisina, Amel Guellaty: Where the Wind Comes From segue um rapaz e uma rapariga, dois amigos de infância, que anseiam por algo mais do que uma existência modesta e amorfa, lançando-se à estrada para perseguir uma oportunidade única, enquanto testam o significado da expressão “ter sonhos”. Com um toque criativo, Guellaty vai-nos dando lampejos da imaginação fértil da rapariga, em interlúdios musicais ou visões de pessoas com cabeças de porcos, da mesma forma que o amigo liberta a criatividade nos seus desenhos artísticos, altamente profissionais... Eis um road-movie a ensaiar a vibração da juventude na paisagem.
Por falar em juventude, preste-se atenção ao vencedor do prémio de Melhor Documentário no Festival de Cannes de 2024, The Brink of Dreams, da dupla egípcia Nada Riyadh e Ayman El Amir, centrado num grupo de raparigas que forma uma trupe de teatro de rua numa pequena localidade conservadora do sul do Egito, em desafio direto aos termos do patriarcado (dia 31, 19h, São Jorge); e no encerramento (dia 2, 19h30), The Dreamer, ou L’Homme d’Argile, da francesa Anaïs Tellenne, traz uma delicada reflexão sobre o condicionamento do olhar dos outros, e o efeito de isolamento ou conexão que se molda a partir daí.
Palestina, natureza e intimidade
Como em anos anteriores, o Olhares do Mediterrâneo mantém o foco na situação da Palestina, através de filmes como Shrinking Space, das realizadoras espanholas Cristina Mora e Norma Nebot, que estarão presentes para uma conversa após a exibição desse documentário (amanhã, 18h, ISCTE-IUL), e uma curta-metragem, Palestine Islands, coprodução da França e Jordânia, assinada por Nour Ben Salem e Julien Menanteau, que integra uma sessão para as famílias (dia 1, 11h, São Jorge), composta por sete curtas, algumas de animação.
Contando com mais de seis dezenas de títulos, oriundos de 29 países, esta edição do Olhares compromete-se ainda, de forma explícita, com as questões da natureza, que se fazem sentir em filmes como Isto Não é um Jardim, de Marta Pessoa (dia 1, 19h), documentário em jeito de passeio “vegetal” pelas ruas de Lisboa, mas também num workshop – Can Cinema Help Save the Planet? – orientado pela argumentista e realizadora brasileira Fernanda Polacow, para o público em geral (dia 2, 10h30).
Apenas uma de diversas atividades paralelas às sessões de cinema, sendo de referir, nesse contexto, a parceria do Festival com a MUTIM – Mulheres Trabalhadoras das Imagens em Movimento, que apresenta um workshop de escrita, Intimacy Scriptwriting for Film & TV, com Teresa Olea Molina, coordenadora de intimidade (dia 3, no Goethe-Institut), e uma mesa-redonda intitulada “Como fugir a estereótipos na escrita de intimidade?”, com várias participantes (dia 6, também no Goethe).
Nos últimos dias do Olhares, há um programa especial a decorrer na Cinemateca – “Dois Olhares Sobre a Guerra” – protagonizado pela cineasta sérvia Mirjana Karanovi? e pela bósnia Jasmila Žbani?.
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