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Teresa Villaverde filma as feridas dos sobreviventes de Pedrógão Grande
"Justa" chega esta quinta-feira às salas de cinema. O filme nasceu da vontade de Teresa Villaverde de contar como os sobreviventes dos incêndios fatais de 2017 seguiram as suas vidas. Uma das protagonistas é a atriz brasileira Betty Faria.
Foi depois de ter percorrido as estreitas estradas de Pedrógão Grande, pretas de cinza um ano depois dos incêndios de 2017, que Teresa Villaverde quis levar para o cinema as histórias daqueles que sobreviveram aos fogos.
“Justa”, que esta quinta-feira chega às salas de cinema portuguesas, é um olhar para aqueles que são as outras vítimas dos incêndios que fizeram mais de 60 mortos. O filme conta as histórias de um conjunto de pessoas que perderam familiares próximos nos fogos.
Teresa Villaverde foi ao encontro das “pessoas que tinham perdido familiares, as suas casas com as memórias lá dentro”. Foi sem câmara ou gravador na mão que a realizadora viu as portas de várias casas abrirem-se e para tal contou com “a ajuda da Associação das Vítimas de Pedrógão Grande”.
Esta ficção baseada em histórias reais conta com a participação da prestigiada atriz brasileira Betty Faria que, aos 84 anos, interpreta o papel de uma mulher que perdeu o marido e a visão nos incêndios. “É uma enorme atriz que aqui faz um trabalho bastante diferente do que tem feito”, diz Teresa Villaverde.
“Ela poderia ser reticente em trabalhar com atores não profissionais e para ela não foi de todo uma questão. Foi uma grande ajuda para os outros atores”, explica a realizadora, que conta no filme com Madalena Cunha, Ricardo Vidal, Filomena Cautela, Alexandre Batista, Anabela Moreira, Robinson Stévenin, Francisco Nascimento ou João Pedro Vaz.
Uma das protagonistas é “Justa”, uma criança que perdeu a mãe nos incêndios e vive com o pai que guarda nas marcas do corpo o calor intenso dos incêndios. Esta criança tem “um olhar duro”, diz Teresa Villaverde. “Eu acho que ela culpa os adultos pelo que aconteceu”.
Mas há também um rapaz revoltado, “completamente perdido, que perdeu a sua família toda e não consegue mais encontrar o seu lugar”, explica a realizadora. Ele “vive completamente isolado”, diz Villaverde, que através desta personagem mostra as redes de solidariedade que se criaram entre os que sobreviveram à tragédia que em 2017 fez também 253 feridos.
Estas vidas dilaceradas pelas chamas que tentam caminhar em frente estão retratadas neste filme que a realizadora espera que volte a pôr as pessoas a pensarem nesta tragédia.
“Espero que seja útil”, afirma Teresa Villaverde. A realizadora diz querer que se volte a falar do tema. “Não ser só cada vez que faz um ano que aconteceu alguma coisa”, critica.
“Faz-se uma pequena homenagem aos mortos e quase nunca falamos dos vivos. É um pouco estranho. Esquecemos o que ficou para trás e as pessoas que ficaram para trás. É uma coisa que me interessa sempre muito e que me interessou muito neste trabalho.”
“Quando conhecemos pessoas que passam por estas coisas, essas pessoas sabem que a partir daquele momento ficaram diferentes. Nós podemos ser solidários, podemos interessar-nos, mas nós nunca vamos estar naquele lugar”, lembra a cineasta.
Filomena Cautela. Foto DR
por Maria João Costa in Renascença | 4 de dezembro de 2025
Notícia no âmbito da parceira Centro Nacional de Cultura | Rádio Renascença

