"É de Cultura como instrumento para a felicidade, como arma para o civismo, como via para o entendimento dos povos que vos quero falar"

Conferências

Conferência “Fotografia, História e Arquivo”

No próximo dia 9 de outubro, pelas 10h30, no Auditório A102 do Colégio Almada Negreiros (CAN) da Universidade NOVA de Lisboa, o Instituto de Comunicação da NOVA - ICNOVA e o Instituto de Filosofia - IFILNOVA, unidades de investigação da NOVA FCSH, promovem a conferência “Fotografia, História e Arquivo”.

9 Out 2019  |  10h30

Colégio Almada Negreiros
Nova FCSH - Campus de Campolide 1099-085 Lisboa
Preço
Entrada livre

 

O evento pretende abordar as tensões a respeito dos conceitos de história, memória e arquivo por meio de atravessamentos em campos das ciências humanas como a cultura visual, a arte, a história, a antropologia e a filosofia. Propondo a fotografia como objeto de intercessão entre estas áreas, estimula-se a pensar sobre sua participação na construção de narrativas e contra narrativas, suas estratificações temporais, e suas possibilidades simultaneamente estéticas e discursivas.

A participação da fotografia na construção de um sentido histórico assume diversos aspetos que percorrem sua propriedade material e simbólica, e sua capacidade tanto historiográfica como ficcional. Nesse sentido, o arquivo, conforme trabalhado por autores como Jacques Derrida e Walter Benjamin, funciona como lócus de abertura para a fabulação de possíveis futuros, a reorganização do mundo sensível, e a emergência de narrativas contra hegemónicas.

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PROGRAMAÇÃO

:: Mesa 01 – 10h30 – 12h00
Mauricio Lissovsky (45’ + 15’) & Nélio Conceição (25’+5’)
Moderação: Margarida Medeiros)

:: Mesa 02 – 12h00 – 13h00
Lorena Travassos (20’) & Inês Ponte (20’) (+ 15’ de discussão geral)
Moderação: Ana Gandum

13h00 | Almoço

:: Mesa 03 – 14:45h – 16:15h
Teresa Flores (25’), Vitor Flores (25’) & António Carmo (25’) (+15 discussão geral)
Moderação: Filipa Vicente

16h15 | Coffee Break

:: Mesa 04 – 16h30 – 17h30
Trabalhos artísticos: Ana Gandum e Carimbaria – Keli Freitas (cartas e cartões postais portugueses no Brasil)
Moderação: Filippo de Tomasi

RESUMOS


Mesa 01

Professor convidado externo: Maurício Lissovsky (UFRJ / UFPE, Brasil)

AVENTURAS DE UM FOTÓGRAFO DA MADEIRA NA CORTE IMPERIAL DO BRASIL

A partir da descoberta de quatro retratos na coleção do Arquivo Nacional brasileiro, investigamos a trajetória de Diogo Luis Cipriano (1820-1870), nascido na Ilha da Madeira, um dos primeiros daguerreotipistas a se estabelecer no Rio de Janeiro. Procuramos descrever as tensões e os conflitos entre pintores, miniaturistas e fotógrafos por prestígio e sucesso comercial na capital do Império do Brasil, entre 1850 e 1870. E observar como na arena pública das páginas dos jornais e das movimentadas esquinas da Corte confrontam-se técnicas, medem-se talentos e, principalmente, disputam-se os signos de modernidade e o monopólio da saudade.

Nélio Conceição (IFILNOVA / CultureLab)

DA VISIBILIDADE E DOS OMBROS PESADOS

O que é que poderão ter em comum o primeiro daguerreótipo tirado no Brasil, uma sanzala em Belo Horizonte, as fotografias de escravos de Christiano Jr. tiradas num estúdio do Rio de Janeiro, os álbuns de família dos colonos portugueses em África e a zona ribeirinha de Lisboa?

A minha apresentação parte desta pergunta e parte também da consciência da dificuldade da resposta, senão mesmo da suspeita de que uma resposta direta, sem desvios e zonas de sombra, será impossível. Trata-se, afinal, de avaliar o peso que alguns assuntos históricos, na sua materialidade e na sua interpenetração entre cultura e barbárie, depositam sobre os nossos ombros. Uma imagem de Walter Benjamin (que pode também ser vista como a enunciação de uma tarefa) pode vir em nosso auxílio: sacudir os tesouros que se acumulam nos ombros da humanidade para ficar com alguns deles na mão. Como se trata de um contexto fotográfico poderemos também dizer: sacudir a história das imagens e da cultura para melhor compreendermos os assuntos da visibilidade.

Mesa 02

Inês Ponte (ICS – ULisboa)

UMA FOTO-ETNO-GRAFIA AFRICANISTA SEDIMENTADA AO LONGO DO ESTADO NOVO PORTUGUÊS

Nesta comunicação proponho olhar para a trajetória de Charles Estermann (1895-1976), um missionário tornado etnógrafo tornado fotógrafo, que construiu a sua carreira científica, sediado na então colónia de Angola durante o período da ditadura do Novo Estado Português (1928-1974). Aproprio-me da fotografia como um dispositivo precioso para compreender a forma como um cientista autodidata navegou as diversas fases de um longo regime político e, simultaneamente, para compilar a sua história com a fotografia para fins científicos.

Lorena Travassos (ICNOVA, Lisboa)

A “FOTOGRAFIA SENSÍVEL” E O OLHAR PARA O OUTRO

O trabalho apresenta uma análise da representação do corpo brasileiro por alguns representantes da fotografia contemporânea portuguesa. Foram abordados aspetos da cultura, identidade e subjetividade para, então, compreender como a fotografia pode também ser vista como ferramenta de superação de ideias coloniais. Esta observação tornou-se possível a partir de uma sensibilidade levinasiana, ou seja, a partir do entendimento da fotografia como resultado de um encontro entre um sujeito ético e um outro sujeito que evoca uma ética.

Mesa 03

Teresa Mendes Flores (ICNOVA / Photo Impluse)

RISCAR NO PAPEL E FOTOGRAFAR NO CHÃO: ASPETOS SOBRE AS FOTOGRAFIAS DE FRONTEIRA NOS TERRITÓRIOS AFRICANOS DE OCUPAÇÃO PORTUGUESA

Esta comunicação apresenta algumas das problemáticas emergentes da prática fotográfica no contexto das missões de delimitação de fronteira em Moçambique e Angola, no final do século XIX e primeiras décadas do século XX, numa época anterior ao uso da fotografia aérea na cartografia. Centraremos a nossa apresentação nas características comunicacionais dos álbuns fotográficos oficiais, produzidos como parte dos relatórios das missões: abordaremos aspetos como o seu potencial comunicativo enquanto media, as narrativas visuais apresentadas página após página, os códigos visuais mais presentes na representação de povos e territórios, o papel destes álbuns na geopolítica colonial de construção de fronteiras, e os diversos momentos históricos que conseguimos estabelecer ao longo do período estudado. Esta apresentação desenvolve-se no âmbito do projeto Photo Impulse (PTDC/COM-OUT/29608/2017) com apoio da FCT.

António Carmo Gouveia (CFE, UC, Coimbra)

HERBORIZAR E ENXUGAR PLANTAS: PROVAS FOTOGRÁFICAS DE INTERMEDIÁRIOS INDÍGENAS NA PRODUÇÃO DE CONHECIMENTO BOTÂNICO

“Recolher plantas, acondiciona-las, e desenha-las, são tarefas que pedem suas intermissões de tempo (…), porque tão somente estando a Expedição substada (…), posso eu herborizar, e escrever, os Desenhadores, desenhar, os Índios enxugar plantas, o Herbário, &.a.” - Alexandre Rodrigues Ferreira descreve assim a distribuição do trabalho de campo na sua expedição ao Brasil, frisando claramente o papel de elementos das populações locais no processo de herborização de plantas para expedição e estudo na Europa. Estes assistentes de campo, executores de tarefas científicas e para-científicas, intermediários e mediadores do conhecimento indígena, são uma presença constante (ainda que muitas vezes anónima e velada) em descrições, relatos, gravuras e fotografias, não estando ainda sistematizada a importância do seu trabalho e saber para o avanço do conhecimento científico das regiões tropicais e o seu papel fundamental nas narrativas das explorações europeias na África Subsariana. No entanto, algumas ilustrações do séc. XVIII e as fotografias do séc. XIX convocam a sua omnipresença e papel fundamental no conhecimento e catalogação da diversidade biológica dos seus territórios. A partir de imagens fotográficas faremos um breve assomo a este assunto, apenas um clique numa cronologia muito mais longa.

Vitor Flores (Ulusófona, Lisboa)

A CURADORIA DIGITAL DAS FOTOGRAFIAS ESTEREOSCÓPICAS DE CARLOS RELVAS. A PREPARAÇÃO DE UM CATÁLOGO RAISONNE?

A construção de uma base de dados que reúne pela primeira vez os negativos estereoscópicos em colódio húmido de Carlos Relvas (1838-1894) e os combina com as respetivas séries de provas foi o ponto de partida para um catálogo online que articula arquivos e coleções, tanto públicas como particulares, disseminadas por Portugal e pelo estrangeiro, com o objetivo de estudar e de divulgar a obra deste importante fotógrafo oitocentista português. Esta apresentação fará a síntese das vantagens do ambiente digital para investigar, mediar e otimizar coleções de fotografia antiga através de novas combinatórias de pesquisa e com a possibilidade de repor a materialidade das imagens históricas.

Mesa 04

Ana Gandum (ICS – ULisboa / ICNOVA)

COISAS DE LÁ / AQUI JÁ ESTÁ SUMINDO EU

Parte de duas investigações académicas distintas, com um universo de pesquisa comum: a circulação de coisas [objetos e fotografias] no contexto transnacional de migrações portuguesas para o Brasil. Num primeiro momento, o projeto consistiu numa instalação de objetos pessoais trazidos de Portugal para o Brasil, diários de campo, diapositivos, narrativas e impressões fotográficas. A instalação decorreu de 6 a 8 de outubro de 2016 na #8 Monográfica da galeria Saracvra, no Rio de Janeiro e foi acompanhada de uma publicação. Esta explorava o conceito de catálogo como elemento compósito, documental e classificatório das coisas em análise: objetos que circularam nas malas de portugueses em trânsito entre Portugal e o Brasil entre 2015 e 2017 / souvenirs fotográficos na trama de correspondência entre os dois países até inícios da década de 1970. A primeira das pesquisas é da antropóloga Daniela Rodrigues, a segunda da historiadora e fotógrafa, Ana Gandum. Qual fichário em aberto, a primeira versão da publicação previa o encarte de textos adicionais e a integração contínua de novos itens em fichas catalográficas. A 11 de março de 2017 uma versão ampliada com novas fichas foi lançada no Arquivo 237, no âmbito da FACA – Festa de Antropologia e Cinema, em Lisboa. Aí, um dos exemplares foi desmontado e as suas fichas catalográficas dispersas pelos visitantes. A terceira e última versão de coisas de lá / aqui já está sumindo eu foi lançada em Lisboa, em março de 2019. A esta foram acrescentados novos textos, sendo algumas das fichas anteriores substituídas ou alteradas. Nesta apresentação, uma das autoras, Ana Gandum falará da pesquisa destes materiais fotográficos tendo em conta a circulação de representações identitárias luso (e) brasileiras, transnacionais e, nomeadamente, o luso-tropicalismo.

Keli Freitas (PUC-Rio / FCSHNOVA)

FRAGMENTOS QUE EU CARIMBARIA

Keli Freitas, dramaturga e atriz, mestranda em Estudos Portugueses pela Universidade Nova de Lisboa (UCSH) e graduanda em Letras – Formação do Escritor pela PUC – Rio, apresenta parte da trajetória e do processo criativo do Projeto Carimbaria (coleção de frases encontradas em sua vasta coleção de cartas de anónimos).

Projetos de pesquisa a que se dedicou anteriormente, como “Correspondência e Diário – Rastreando escritas literárias”, desenvolvido na Puc – Rio entre 2016 e 2017, sob orientação de Marília Cardoso Rothier, “Museu Particular de Esquecimentos Privados”, desenvolvido como bolsista FAPERJ entre 2017 e 2018, sob orientação de Fred Coelho, e o espetáculo “Osmarina Pernambuco Não Consegue Esquecer”, que estrear-se-á em novembro no Teatro Nacional Dona Maria II, em Lisboa, também integram o desenvolvimento de sua pesquisa e criações artísticas a partir da escrita pessoal de anónimos.

 


 

BIOGRAFIAS RESUMIDAS 

 

Mauricio Lissovsky

Historiador e roteirista de cinema e TV, doutor em Comunicação. Professor da Escola de Comunicação da Universidade Federal do Rio de Janeiro. Pesquisador do CNPq. Publicou, entre outros livros, Escravos Brasileiros do século XIX na fotografia de Christiano Junior (Ex-Libris, 1988), A máquina de esperar (Mauad X, 2008), Refúgio do olhar (Casa da Palavra, 2013) e Pausas do destino (Mauad X, 2014). Atualmente e? professor visitante na Universidade Federal de Pernambuco.

Nélio Conceição
Licenciou-se em Filosofia na Universidade de Coimbra em 2005 e, em 2013, doutorou-se em Estética, na FCSH-UNL, com uma tese que desenvolve as relações entre filosofia e fotografia. É investigador contratado pela FCSH, pertencendo ao IFILNOVA – Instituto de Filosofia da Nova, instituto no qual é membro do grupo “Arte, crítica e experiência estética” (CultureLab). Trabalha no âmbito da estética, da filosofia da fotografia, da filosofia contemporânea e da experiência estética da cidade. Atualmente desenvolve um projeto de investigação no âmbito da estética, concentrando-se nos conceitos de jogo, espaço de jogo e experimentação, bem como nas ramificações filosóficas e artísticas da obra de Walter Benjamin. Co-coordena o projeto de investigação financiado pela FCT “Fragmentação e reconfiguração: a experiência da cidade entre arte e filosofia”.

Lorena Travassos
Fotógrafa e Doutorada em Ciências da Comunicação, especialidade em Fotografia, pela Universidade Nova de Lisboa. Investigadora na área da História da Fotografia no projeto Photo Impulse, FCT.

Inês Ponte
Antropóloga, investigadora de pós-doutoramento com uma Bolsa Individual Marie Curie, onde desenvolve o projeto Mobilising Archives: photography in Southwest Angola. Combinando trabalho de arquivo em Portugal e de terreno em Angola, o projeto incide sobre o desenvolvimento da fotografia com intenção etnográfica através de coleções criadas numa mesma região entre as décadas de 1930 e 1990.

Teresa Mendes Flores
Doutora em Ciências da Comunicação pela Universidade Nova de Lisboa e investigadora do Instituto de Comunicação na mesma universidade. Possui a investigação voltada para o campo da História da Fotografia e da Cultura Visual. Investigadora principal do projeto Photo Impulse, financiado pelo FCT.

António Carmo Gouveia
É investigador no Centro de Ecologia Funcional da Universidade de Coimbra, Cátedra UNESCO em Biodiversidade e Conservação. Concluiu o doutoramento em biologia, especialidade Ecologia em 2007, pela UC. Os seus interesses de investigação abrangem a história da botânica, a diversidade e ecologia das plantas e a comunicação da ciência. Coordenou o projeto “No trilho dos naturalistas” do qual resultou uma série documental de quatro episódios sobre a história das expedições botânicas da UC nas ex-colónias portuguesas em África, e a ecologia e a biodiversidade tropical de Angola, Moçambique e São Tomé e Príncipe.

Victor Flores
Doutorado em Ciências da Comunicação pela Universidade Nova de Lisboa e é Professor Associado na Universidade Lusófona de Humanidades e Tecnologias, em Lisboa.
Enquanto investigador da história cultural dos media visuais no Centro de Investigação em Comunicação Aplicada, Cultura e Novas Tecnologias (CICANT) é organizador da conferência internacional Stereo & Immersive Media: Photography and Sound Research, e é o editor principal do International Journal on Stereo & Immersive Media.
Atualmente é o coordenador do projeto de investigação Carlos Relvas Full 3D. The Stereo Catalogue e está a implementar a criação de um Laboratório dedicado aos Early Visual Media no CICANT. Leciona em cursos de licenciatura e de doutoramento unidades curriculares de História da Fotografia Portuguesa, Cultura Visual, Análise de Imagem e História Social das Imagens Técnicas.

Keli Freitas
Dramaturga e atriz, mestranda em Estudos Portugueses pela Universidade Nova de Lisboa (UCSH) e graduanda em Letras – Formação do Escritor pela PUC – Rio.

Ana Gandum
Historiadora e fotógrafa. Formou-se em História pela FCSH/ UNL e pela Université Paris 8 Saint-Denis, e concluiu recentemente um Doutoramento em Estudos Artísticos - Arte e Mediações também na FCSH/UNL. Tem participado nos últimos anos em exposições e publicações em diferentes países e escrito textos independentes e académicos. Faz pesquisa de fotografia vernacular em vários contextos, refletindo a partir desta sobre o conceito de arquivo. É atualmente investigadora no projeto “Mobilising Archives – Photography in Southwest Angola”, no ICS – ULisboa, coordenado por Inês Ponte e financiado pela Comissão Europeia (Marie-Curie Action).

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