Curadoria de: Alexandre Melo
Inauguração a 18 de janeiro 2020, às 16h

No contexto de um mundo e de uma cultura em pleno processo de globalização torna-se necessário romper com noções estritas de identidade cultural baseadas numa pertença geográfica estrita, em míticos conteúdos substanciais ou essências simbólicas abstratas.

A falência das identidades fixas e substanciais é o resultado do impacto das migrações massivas, da estrutura planetária dos meios de comunicação social e das indústrias culturais, da natureza cosmopolita da criação artística mais dinâmica e da intensidade das trocas, confrontos e miscigenações culturais que resultam de todos estes fenómenos.

Trata-se de substituir uma conceção substancial da identidade como património por uma conceção dinâmica da identidade como processo, construída a partir de noções como as de tradução, travessia e diáspora. A identidade é negociação permanente. A identidade, hoje, já não é, talvez, uma identidade. Talvez nunca o tenha sido.

Os artistas, nomeadamente os artistas reunidos nesta exposição, devido à natureza das formas de imaginação e criatividade inerentes às suas atividades, oferecem-nos ocasiões privilegiadas para sair do nosso muito pequeno mundo quotidiano e aceitarmos o desafio de os acompanhar nas viagens e metamorfoses geográficas e metafóricas que animam os seus trabalhos e nos dão, a todos nós, ânimo para ver e viver o mundo para além de todas as fronteiras.

A defesa de uma posição política e teórica aberta e complexa, consentânea com a dinâmica global do mundo contemporâneo, passa por afirmar que todas as identidades se constroem e reconstroem, num processo de deslocação e ajustamento, em que somos simultaneamente nós mesmos e todos os outros, habitando um virtual lugar de tradução entre diferentes espaços, tempos, memórias e imaginações. Chamemos-lhe o lugar transoceânico da travessia.

TRANSOCEANEXPRESS
Alexandre Melo

Biografias 

Paulo Nazareth 
Paulo Nazareth (Governador Valadares, 1977) vive e trabalha pelo mundo.
Estudou linguística na Faculdade de Letras, Universidade Federal de Minas Gerais, no Brasil e terminou a licenciatura em Desenho & Gravura na Escola de Belas Artes, Universidade Federal de Minas Gerais.
O seu trabalho de performance e instalação é, frequentemente, inspirado nas suas raízes Africanas e indígenas, e ele coleciona vídeo, fotografia e objetos que documentam as suas viagens de auto-exploração.
O artista explora temáticas, muitas vezes, relacionadas com a raça, a ideologia e a distribuição desigual do desenvolvimento, numa prática que é tanto interdisciplinar como participativa. Nazareth procura personificar a ideia do artista como conector, descodificador e filósofo.
O seu trabalho pode ser encontrado na Boros Collection (Berlim, Alemanha), Thyssen-Bornemisza Art (Viena, Áustria), Pinault Collection (Paris, França), Pinacoteca do Estado de São Paulo (São Paulo, Brasil) e Rubbel Family Collection (Miami, EUA).

Runo Lagomarsino
Runo Lagomarsino (Lund, Suécia, 1977) vive e trabalha entre Malmö e São Paulo.
Estudou na Academy of Fine Art Valand, Gotemburgo, Suécia, em 2001, seguido de um mestrado em Belas Artes na Malmö Art Academy, na Suécia (2003).
Em 2008, participou no Whitney Independent Study Program em Nova Iorque, EUA.
Nascido na Suécia, com pais Argentinos exilados, descendentes de emigrantes italianos que fugiram da Europa durante a Primeira Guerra Mundial, a biografia de Lagomarsino estabeleceu as suas influências artísticas.
A obra de Lagomarsino encontra-se dentro de um projeto crítico e de descolonização. O seu trabalho apresenta perspetivas alternativas, relativamente, a relações de poder histórico, político e cultural. Frequentemente, ao empregar estratégias de deslocamento e transformação que questionam a história, especialmente no contexto da América do Sul, as suas instalações, esculturas, imagens, e filmes focam-se em como o ambiente político e social dos dias de hoje se tem desenvolvido através de processos históricos, e de como isto cria metáforas e imagens na história e na sociedade.
O seu trabalho faz parte de diversas coleções nacionais e internacionais, tais como, Cisneros Fontanals Art Foundation, Miami, EUA; Dallas Museum of Art, Dallas, Texas; Guangdong Museum of Art, Guangdong, China; Guggenheim Museum, Nova Iorque, EUA; Teixeira de Freitas’ Art Collection, Lisboa, Portugal; etc.

João Pedro Vale + Nuno Alexandre Ferreira
João Pedro Vale (Lisboa, 1976), formou-se em Escultura na Faculdade de Belas-Artes de Lisboa, e estudou na Escola Maumaus. Nuno Alexandre Ferreira (Torres Vedras, 1973), estudou Sociologia na Universidade Nova de Lisboa. Ambos têm trabalhado em conjunto desde 2004, em diversos projetos nas áreas da escultura e fotografia, produção de espetáculos e teatro, performances e vídeos.
Na sua prática, eles recriam objetos, símbolos e citações relacionadas com as visões tradicionais e populares da História. Estas novas formas são reinventadas através de uma mudança radical nos materiais, contextos e nas conotações, que criam uma dicotomia entre os materiais básicos e efeitos opulentos, que ecoam o luxo e o kitsch. Existe um grande recurso de materiais modestos que sabotam a distinção entre o erudito e o vernacular, e referências sexuais através ferramentas não-convencionais que apelam a todos os sentidos.
Os seus trabalhos fazem parte de coleções privadas e públicas, tais como Tate (Londres), Fundação de Serralves (Porto), Museu do Chiado (Lisboa), Fundação Calouste Gulbenkian (Lisboa), Navacerrada Collection (Madrid). 

Wantanee Siripattananuntakul
Wantanee Siripattananuntakul (1974) vive e trabalha em Banguecoque, Tailândia. Terminou a licenciatura em Belas-Artes, na Universidade de Silpakorn, em 1999, e foi aluna de honra do Prof. Jean-François Guiton na University of Arts Bremen em 2007. É professora na Faculty of Painting, Sculpture and Graphics Arts da Universidade de Silpakorn, desde 2009. Wantanee Siri trabalha, principalmente, com multimédia e é reconhecida por explorar o potencial das obras de arte para levantar problemáticas e alertar sobre questões e dilemas sociais. Em 2007, foi selecionada para participar na 53ª Bienal de Veneza e ficou no Top 13 Thai de artistas emergentes, escolhidos por colecionadores de Banguecoque, em 2016. A maioria dos seus trabalhos são em formato de vídeo, escultura e instalação, com base na utilização de novas formas de media.

Nikolaj Larsen
Nikolaj Bendix Skyum Larsen (1971) vive e trabalha em Paris. Concluiu o mestrado em Belas Artes e Media na Slade School of Fine Art em Londres (2001) e terminou a licenciatura em Belas-Artes na Chelsea College of Art em Londres (1999).
Nikolaj Larsen utiliza uma variedade de formatos tecnológicos (foto, vídeo, instalações) para criar um envolvimento profundamente humanista no seu trabalho. Apesar do seu trabalho apelar a problemas políticos e sociais, a sua abordagem permanece sensível, prudente e envolvente.
O artista participou em diversas residências artísticas  - Qwatz, Calabria (Itália, 2014); PiST///, Istambul (Turquia, 2012); Santa Fe Art Institute (SFAI), Santa Fé (EUA, 2009); Al Mamal Foundation for Contemporary Art, Jerusalém (2006) – e o seu trabalho faz parte de coleções privadas e públicas, tais como Sharjah Art Foundation, Emirados Árabes Unidos; Museum of London, Reino Unido; Kunsten Museum of Modern Art, Aalborg, Dinamarca.