Exposições
Tarde Azul, o Universo Amoroso de Julio/Saúl Dias
Numa organização conjunta da Câmara Municipal de Castelo Branco e da Galeria Julio Centro de Memória da Câmara Municipal de Vila do Conde, detentora do espólio do artista, terá lugar no Museu Tavares Proença Júnior de Castelo Branco, uma exposição encerrando as comemorações dos 120 anos do nascimento do Pintor Julio, o poeta Saúl Dias (1902-1983).

25 Nov a 7 Abr 2024
:: VISITA GUIADA ::
NA LIÇÃO DE FERNANDO ANTÓNIO BAPTISTA PEREIRA
A 23 de fevereiro, sexta-feira (15h30)
A exposição é comissariada pela crítica de arte e poeta Maria João Fernandes e pelo poeta Gonçalo Salvado, ambos autores da primeira antologia de poesia de amor de Saúl Dias e de desenhos de Julio com a mesma temática: Tarde Azul (2008), que dá o título à atual mostra e que está na sua origem. A antologia será apresentada durante a mostra.
Maria João Fernandes é autora da primeira monografia editada em 1984 pela Imprensa Nacional/Casa da Moeda sobre o artista: Julio Saúl Dias, o Universo da Invenção, reeditada em 2004 com um novo título: Julio Saúl Dias, Um Destino Solar. Em 2013 e como Comissária da grande exposição: Artistas Poetas e Poetas Artistas Poesia e Artes Visuais no Século XX em Portugal, levou Julio à Fundação Calouste Gulbenkian de Paris, integrado no contexto dos maiores nomes desta tendência marcante da cultura portuguesa e europeia.
Nesta mostra, reúnem-se alguns do melhores desenhos, aguarelas e pinturas de temática amorosa de Julio, e com a componente narrativa que o próprio autor reconheceu existir no seu trabalho, em diálogo com a poesia de Saúl Dias, ambas as vertentes: pintura e poesia, dando forma ao universo do artista considerado como o expoente do lirismo do século XX em Portugal.
A este respeito pronuncia-se Maria João Fernandes: “Julio oferece-nos a vibração uníssona com os arquétipos de uma simplicidade mágica que floresce apenas ao sol e à luz do amor. Diálogo da palavra e do arabesco, expressão alquímica de mágica síntese, a sua obra apresenta-se uma vez mais, como a resposta do sonho, alternativa aos erros da civilização, para ser vivida e amada, como só os grandes criadores, e raros o foram ou o são, nos oferecem. Primavera da alma, florescendo ainda, sempre, sem perder nada do seu perfume e da sua intocada luz.”
Segundo Gonçalo Salvado Comissário-Adjunto da exposição, esta pretende tornar “mais visíveis, depurando-as, as linhas de força da sua essencialidade, um amor nunca totalmente carnal, mas orientado para a transcendência, marca fundamental do lirismo português com raízes profundamente platónicas e bíblicas. No imaginário de Julio/Saúl Dias a mulher surge na sua pura e sã carnalidade e ao mesmo tempo transfigurando-se em aparição e epifania, dom supremo da própria vida, sinal de radiosa presença, sempre inalcançável. Demanda perene de um paraíso que nunca se perdeu porque só no sonho verdadeiramente se revelou.”
De desenho para desenho e no conjunto das suas pinturas representadas pode verificar-se como na obra de Julio a figura feminina tem um papel central, sobretudo no contexto do envolvimento amoroso de que é protagonista, juntamente com o jovem poeta que vai envelhecendo ao correr das décadas, sem que ela perca a sua juventude e a sua beleza. Por milagre da evocação e da poesia que eterniza o amor que ela soube despertar com a atmosfera que a este se liga, a de uma eterna Primavera. Justamente a atmosfera da Tarde Azul, que a presente exposição evoca.
A mostra tem como novidade alguns aspetos originais e inéditos que importa realçar: o diálogo da arte contemporânea com as artes tradicionais, representadas por uma Tapeçaria de Portalegre realizada sobre uma aguarela da “série Poeta” de Julio, pela primeira vez exposta, e por uma Colcha de Castelo Branco, presente em fundo, na reconstituição do atelier do artista onde se encontrava, e estabelecendo o vínculo da sua estética com a cidade que acolhe a exposição. A lembrar que Castelo Branco foi recentemente distinguida por causa das suas colchas, como “cidade criativa da Unesco”.
No contexto de uma mostra bibliográfica da coleção particular do poeta Gonçalo Salvado, serão expostas as primeiras e raras edições da poesia de Saul Dias, com destaque para aquela que o artista dedicou a seus Pais.
Um aspeto ainda a destacar é a ênfase para o tema do “nu feminino” com grande tradição na arte ocidental e recorrente na obra de Julio, pela primeira vez reunido numa perspetiva cronológica.
Por outro lado, será pela primeira vez exposto, com merecido destaque, o desenho de Julio que ilustrou a capa da Obra Poética de Saúl Dias, distinguida ex com António Ramos Rosa em 1980 com o Prémio da Crítica.
A exposição integra-se no conjunto de homenagens a grandes mestres da arte portuguesa do século XX português já patentes no Museu Tavares Proença Júnior de Castelo Branco, de Alfredo Keil e Vieira da Silva a Nadir Afonso e Costa Pinheiro. Neste caso trata-se da celebração da obra, nas palavras de David-Mourão Ferreira, de “um dos mais delicados (…) produtores de encantamento que se nos deparam em toda a longa história do lirismo português.”