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Apresentação do livro "Júlio/Saúl Dias um Destino Solar"
A primeira e já histórica monografia de Maria João Fernandes, Edição Imprensa Nacional, será apresentada próximo domingo, 7 de abril, pelas 17h no Museu Tavares Proença Júnior de Castelo Branco, fechando a exposição Tarde Azul, que aí decorre, comissariada pela autora e pelo poeta Gonçalo Salvado.

7 Abr 2024 | 17h00
O livro marca o encontro do artista, nome maior do século XX português e precursor da sua modernidade, com a crítica de arte e poeta que desde a sua juventude tem vindo a dar expressão ao seu universo. O título da 1ª edição, é aliás, significativamente: Julio/Saúl Dias o Universo da Invenção.
A segunda edição a apresentar pela Professora Doutora Maria de Lurdes Barata, pela autora e pelo poeta Gonçalo Salvado abre com um Prefácio do reconhecido crítico espanhol e Diretor da Fundação Cupertino de Miranda, Perfecto Cuadrado. Reúne cartas de Julio a Maria João Fernandes, nas quais o artista se refere à sua crítica, como “um admirável e poético roteiro da sua obra”.
Por sua vez Perfecto Cuadrado no seu prefácio realça a dupla faceta de poeta e crítica de arte da autora, na abordagem da “poesia plástica” e da “poesia verbal” de Julio/Saúl Dias: “É nessa conjunção de linguagens artísticas e d(os) olhares críticos que eu coloco o ponto de encontro entre a obra de Julio/Saúl Dias e a de Maria João Fernandes (…)Foi dessa conjunção que nasceu o meu interesse por este livro que nos oferece um olhar crítico e simpático (no sentido etimológico do termo), ao contrário de algumas práticas críticas que acabam derivando em textos meta críticos cada vez mais longe do seu objeto e da sua função essencial. (…) E é através desse olhar crítico tão pessoal, que Maria João Fernandes sabe recolher e aprofundar os pontos de vista dos (poucos) críticos que já se tinham debruçado sobre a obra de Saúl Dias e tinham já reivindicado a sua importância e a sua diferença, e sabe também abrir novos caminhos para uma interpretação conjunta dos poetas, plástico e verbal, em diálogo paralelo e em sucessivo e paralelo empenho em descobrir na realidade real uma realidade poética que a venha reabilitar (como dizia Cesariny) até acabar por substitui-la definitivamente.
“(…) talvez por isso possamos concluir transferindo para a crítica de arte Maria João Fernandes, aquilo que Branquinho da Fonseca disse do pintor Julio: “Quanto mais o pintor é um poeta, mais o poder da sua expressão vem duma memória profunda, duma realidade perfeita na sua consciência, por onde, sem olhar o modelo, chega à verdade da vida exterior.”
Indo ao encontro das palavras de Perfecto Cuadrado, um poema de Joana Lapa, pseudónimo/heterónimo de Maria João Fernandes, dedicado a Julio, introduz poeticamente desenvolvido ensaio que aborda sucessivamente a pintura de Julio e a poesia de Saúl Dias, abordagem que reflete a vertente de crítica literária de Maria João Fernandes em relação com a sua formação e percurso universitários, na Faculdade de Letras de Lisboa e mais tarde na Universidade de Paris X, Nanterre, na Universidade Aberta e na Universidade de Évora onde lecionou uma disciplina de Crítica de Arte que pela primeira vez existiu no nosso País.
No final da sua detalhada análise, simultaneamente crítica e poética da obra de Júlio/Saúl Dias, Maria João Fernandes conclui: “Julio sondou os abismos da alma humana e manteve as suas asas de menino, guardando-as no tesouro do imaginário poético-plástico que a sua obra afirma, sugerindo (…) Encontrar uma simpatia, uma empatia, relação de amor partilhado, é um dos aspetos que a felicidade assume neste mundo. A esse amor, Julio deu uma dimensão cósmica, universal e individual, que não exclui a evocação-invocação do mistério. Captou a ressonância da infinitude, da alegria, imagem da semelhança com um além, referente indizível e total. (…) Julio faz-nos descobrir outros mundos possíveis, outras realidades tão reais como a que os nossos olhos às vezes pobremente descortinam. Realidade musical. Luz. Vibração.”
A obra apresenta ainda um diálogo selecionado entre alguns poemas de Saúl Dias e desenhos e pinturas de Julio e uma antologia organizada por Gonçalo Salvado de poemas que lhe foram dedicados por diversos reconhecidos autores, como José Gomes Ferreira, António Ramos Rosa e Sophia de Melo Breyner. Para concluir uma extensa fotobiografia, à data inédita, dá conta dos aspetos do percurso biográfico, plástico e poético do artista.
A abrir a sessão que incluirá um breve recital de poemas dedicados a Julio (da referida antologia inserida no livro) será visualizada a curta metragem de Manoel de Oliveira, com música de Carlos Paredes e texto de José Régio: “As Pinturas do Meu Irmão Julio”.
Na ocasião serão oferecidas pelos Comissários da Exposição, para figurarem no espólio do Museu Tavares Proença Junior, a antologia poética, Tarde Azul, de desenhos e poemas de amor de Julio/Saúl Dias, organizada por Maria João Fernandes e Gonçalo Salvado e a 1ª monografia sobre o artista, da autoria de Maria João Fernandes: Julio/Saúl Dias Um Destino Solar.
Será ainda oferecida pelo Centro Português de Serigrafia ao Museu Tavares Proença, e em nome dos seus responsáveis, uma serigrafia realizada a partir de uma aguarela da “série poeta” de Julio, como registo e lembrança desta histórica exposição que chega ao seu termo, e que representa um grande contributo da edilidade de Castelo Branco para a celebração dos 120 anos do nascimento de um nome maior do século XX português e precursor da sua modernidade.