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"Arquitetura Timorense: Miniaturas do Mundo"

Esta exposição constitui uma homenagem à investigação de Ruy Cinatti (1915-1986), Leopoldo Castro de Almeida (1932-1996) e António de Sousa Mendes (*1921) sobre os sistemas de construção tradicionais de Timor-Leste.

24 Set a 19 Fev 2017

Museu Nacional de Etnologia
Avenida Ilha da Madeira, 1400-203 Lisboa

 

Dessa investigação resultou a obra Arquitetura Timorense, agora reeditada pelo Museu Nacional de Etnologia em parceria com o Camões – Instituto da Cooperação e da Língua, IP.

Tomando por referência os sete tipos de habitação tradicional que aquela equipa considerou como emblemáticos de outras tantas áreas de distribuição, a exposição apresenta uma seleção de objetos de diversas coleções do Museu relativas a Timor-Leste, de que se destaca o conjunto de elementos arquitetónicos recolhidos por Ruy Cinatti.

Tem igual destaque aqui o conjunto de maquetes de habitações e construções de uso ritual da autoria de Pedro Tolentino, com a colaboração de João Tolentino, que constituem reproduções à escala de alguns dos modelos de construções documentadas pela belíssima fotografia e pelo desenho, rigoroso mas quente, publicados naquele livro.

Evidenciando a grande diversidade de técnicas construtivas em Timor-Leste, a exposição remete-nos também para o complexo simbolismo de que se reveste a habitação timorense, quer como expressão da organização social, quer como microcosmos e reflexo da conceção do universo e das relações do Homem com o Sagrado.

 

Bobonaro 

Nesta região montanhosa predomina o povoamento disperso e os aldeamentos de 6 a 20 casas, edificados em zonas de difícil acesso. A habitação é de planta retangular, assente em numerosos prumos, tendo c. de 11m  de comprimento por 7m de largura.

A sua cobertura é suportada por dois grandes pilares – o «pilar da terra» e o «pilar do mar fundo» –, a que se atribuem propriedades sagradas e que compartimentam três espaços fundamentais da casa. São estes a varanda de entrada, uma grande sala central, de pavimento sobrelevado em relação às restantes divisões, e uma eventual segunda varanda, caso a dimensão do agregado familiar o exija.

A maior ou menor sofisticação do remate da cobertura distingue nesta região os dois principais tipos de casas, correspondentes a distintos estatutos sociais: a uma-kakaduk, com remate mais complexo, associada ao estrato social superior, e a uma-rabi, com remate mais simples, utilizada pelas famílias comuns.

 

Maubisse 

Nesta área do centro-oeste, o povoamento é constituído por pequenos núcleos compostos de duas a quatro habitações, e respetivas dependências, que se distribuem irregularmente desde o topo das montanhas aos vales mais ensombrados.

A habitação tradicional mambai caracteriza-se pela sua cobertura elíptica ou semi-piramidal, com inclinação acentuada, que desce abaixo do pavimento sobrelevado, com vista a proteger o interior dos ventos frios das montanhas e impedindo a sua visibilidade a partir do exterior.

A casa organiza-se num único compartimento, no qual se dorme, cozinha e consomem as refeições. Sobre esse compartimento distribuem-se diversos tabuados, utilizados para armazenamento de roupas, géneros alimentares e utensílios diversos.

 

Baucau 

Tendo a aparência de uma construção de piso térreo, o que se deve à parede de palapa, revestimento vegetal que envolve todo o seu perímetro, a habitação tradicional da área de Baucau desenvolve-se, de facto, em três planos de pavimento. Estes são sobrelevados respetivamente a 0,8m, a 1m e a 2m de altura, utilizando-se ainda o sótão para armazenamento de géneros e objetos diversos, incluindo os sagrados ou lulic.

A estrutura da casa é definida por dois conjuntos de pilares: oito, na periferia, que conferem à construção a planta octogonal visível do exterior; quatro, no interior, que organizam os dois pisos superiores e suportam as paredes destes. Este tipo de casa caracteriza-se ainda pelo revestimento da sua cobertura, denso e espesso, cujos c. de 50 cm constituem um forro protetor da chuva e do calor.

A construção deste tipo de habitação desenvolve-se ao longo de 3 a 4 meses, sendo concluída por um ritual que assegura a transferência das almas dos antepassados do antigo para o novo lar.

 

Lautém

Na região de Lautém, no extremo oriental de Timor-Leste, predomina o povoamento concentrado, em aldeamentos de 40 a 50 casas cada. A casa emblemática desta região caracteriza-se pela sua alta cobertura de quatro águas, quase piramidal e inclinação muito acentuada, elevando-se por vezes a 12m do solo.

Nas casas dos chefes, o remate da cobertura é profusamente decorado por cones ornamentais de gamúti, traves esculpidas, cordões de búzios e outros símbolos de poder. O pavimento, elevado a 3m do chão, assenta num complexo sistema de vigamento, por seu turno suportado em apenas quatro pilares. As paredes exteriores são constituídas por painéis de madeira profusamente insculpidos e pintados com motivos diversos.

Tal como se lhe refere a obra Arquitetura Timorense, «É, sem dúvida, a casa […] que mais surpreende em todo o Timor [e na qual] o sentido arquitetónico ultrapassa de longe o seu imediato utilitarismo».

 

Viqueque 

Na área de Viqueque, em que predomina a língua tétum, o povoamento é disperso e cada núcleo habitacional, pertencente a um mesmo grupo familiar, é constituído por duas a dez casas, organizadas em torno de uma clareira aberta na floresta.

A habitação de Viqueque distingue-se dos restantes tipos de arquitetura vernacular de Timor-Leste, em particular pela grande área que ocupa (c. de 15m de comprimento por 7m de largura) e pela sua cobertura de três águas, a menor das quais situadas sobre a entrada principal.

A estrutura que suporta o pavimento é independente da que sustenta a cobertura. Internamente subdivide-se em três compartimentos – o quarto das mulheres, o quarto dos homens e a cozinha –, sobre os quais se localizam espaços de arrecadação.

 

Suai 

A área de Suai caracteriza-se pelo povoamento concentrado, distribuindo-se as casas por espaços amplos e delimitados por sebes. A habitação, assente em estacaria, é de planta quadrangular e tem cobertura de quatro águas, que se prolonga em relação ao núcleo central da casa, até c. de 2 m do solo, protegendo as varandas laterais.

O pavimento desenvolve-se em três planos, sobrelevados respetivamente a 0,8m, a 1m e a 1,5m de altura. A plataforma intermédia reparte-se em três varandas cobertas, protegidas do sol e do acesso exterior por esteiras, como a que se apresenta na entrada desta exposição.

O compartimento mais elevado, o único com paredes, constitui o coração da casa, no qual se cozinha e dormem os donos e os mais velhos. Suspensas de traves do teto, sobrepõem-se neste espaço largas prateleiras, para armazenamento de géneros alimentícios e utensílios de cozinha.

 

Oecussi 

No enclave de Oecussi, localizado na costa norte da parte ocidental da ilha de Timor, distinguem-se dois tipos de habitações tradicionais. O interior montanhoso, de povoamento disperso, caracteriza-se pelas casas cónicas, de piso térreo, que a obra Arquitetura Timorense considera como «as mais primitivas em todo o Timor».

Contudo, nas planícies do litoral, de povoamento concentrado, ocorre um tipo de habitação desenvolvida por influência dos povos de língua tétum, e com «flagrante parentesco» com a arquitetura vernacular das áreas de Viqueque e de Suai.

Trata-se esta de uma casa de planta quadrangular (c. de 10m x 7m), assente sobre pilares, com cobertura espessa (50 cm ou mais) de quatro águas, em cujo interior se organizam três zonas distintas: uma varanda, profunda e que ocupa toda a largura da casa, e duas divisões com paredes. Esta casa singulariza-se ainda pelas suas paredes externas, duplas, resultantes da aplicação de diferentes técnicas a dois tipos de materiais vegetais.

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