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Vila do Conde: Desenhos a tinta-da-china ilustram sátira e noites boémias dos anos 20, 30 e 40
A exposição “Palpitações Óticas / 3 espasmos musculares”, patente na Galeria Júlio e Centro de Estudos Júlio/Saúl Dias, em Vila do Conde, foi prolongada até 28 de setembro, mantendo acessível ao público um dos momentos mais relevantes do ciclo expositivo dedicado à obra de Júlio Maria dos Reis Pereira.

6 Mai a 28 Set 2025
Com uma expressividade gráfica marcada pelo traço rápido, pela sátira e pela teatralidade, estas obras retratam cenas da boémia urbana - cafés, teatros, prostíbulos - habitadas por figuras caricaturais, masculinas e femininas, colocadas em ambientes de marginalidade, ironia e observação atenta do comportamento social. O conjunto agora apresentado foi selecionado a partir do extenso acervo do artista, composto por mais de 6.000 desenhos, conservado no Centro de Estudos Júlio/Saúl Dias, e integra-se numa linha de investigação crítica sobre o corpo, o olhar e os gestos desviantes, num diálogo com a performance arte.
A exposição inclui ainda uma obra de referência da pintura modernista portuguesa, “Noturno” (1929), pintura a óleo sobre tela, considerada uma das obras mais emblemáticas de Júlio, e que integrou, em 2018, a exposição internacional “Pessoa. Toda a arte é uma forma de literatura”, no Museu Reina Sofia, em Madrid.
Segundo o curador Juan Luis Toboso, esta seleção de desenhos pretende criar “uma conexão temporal entre os desenhos de Júlio ligados a representações da boémia, cafés, pessoas e personagens, burocratas, prostitutas e algumas relações com os ambientes boémios e noturnos dos cafés na Alemanha dos anos 20, 30, 40.” Esta leitura é acompanhada por textos críticos inéditos de Juan Luis Toboso e de Bernardo Pinto de Almeida, que propõem um reenquadramento atual da prática gráfica de Júlio, destacando a sua ironia, a liberdade formal e a pulsação do traço como afirmação estética e política.
Júlio Maria dos Reis Pereira (1902–1983), natural de Vila do Conde, foi um dos autores mais singulares da segunda geração do modernismo português. Pintor e poeta, assinava a sua obra visual como Julio, e os seus livros de poesia como Saúl Dias, pseudónimo sob o qual publicou uma obra lírica, sensível e profundamente visual. Estudou Engenharia Civil na Faculdade de Ciências da Universidade do Porto, frequentando em paralelo a Escola de Belas-Artes como aluno voluntário. Realizou a sua primeira exposição individual em 1935, na Sociedade Nacional de Bela Artes, tendo anteriormente participado na histórica Exposição dos Independentes de 1930, e desenvolveu uma carreira artística marcada pela singularidade do traço, pelo humor subtil e por uma relação profunda entre palavra e imagem.
A sua atividade artística estendeu-se também à cerâmica tradicional - trabalhou com oleiros do Redondo nos anos 60 - e ao colecionismo de arte popular, com especial destaque para a sua vasta coleção de bonecos de Estremoz. Ainda jovem, foi autor de capas de jornais locais e revistas literárias, revelando desde cedo um domínio gráfico fora do comum e uma atenção à cultura visual do seu tempo.
A exposição pode ser visitada até 28 de setembro, de terça a domingo, entre as 10h00 e as 18h00 (último acesso: 17h15). Aos sábados e domingos, o espaço encerra entre as 13h00 e as 14h30. A entrada tem o custo de 2 euros, sendo gratuita ao domingo de manhã. Está prevista a realização de uma visita orientada e o lançamento de um catálogo sobre o ciclo expositivo, que fixará os contributos curatoriais e críticos desenvolvidos ao longo do último ano. Patente no primeiro piso do Centro de Memória de Vila do Conde, a Galeria Júlio integra a Rede Portuguesa de Arte Contemporânea e constitui hoje um espaço de referência nacional para o estudo e valorização da obra de Júlio/Saúl Dias.
Galeria Julio | Centro de Estudos Julio – Saúl Dias
Até 28 de setembro
Ter–Dom, 10h00–18h00
2 euros | Grátis domingo de manhã