"É de Cultura como instrumento para a felicidade, como arma para o civismo, como via para o entendimento dos povos que vos quero falar"

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Folklore

A exposição apresenta desenhos de grande dimensão de Pedro Barateiro, feitos nos últimos dois anos, explorando a paisagem e o gesto

11 Set a 16 Out 2025

Appleton - Associação Cultural
R. Acácio de Paiva 27 r/c, 1700-004 Lisboa
Preço
Entrada livre
O último discurso de Marcello Caetano na Assembleia Nacional aconteceu no dia 8 de Março de 1974. As primeiras palavras do Presidente do Conselho do Estado Novo foram as seguintes: "Nenhuma dúvida pode haver de que o mais grave problema que presentemente se põe à nação portuguesa, é o Ultramar. Normalmente, nunca o Ultramar constituiria um problema para Portugal. Portugal, desde há cinco séculos, é uma nação dispersa pelos vários continentes. Está na África, na Ásia, na Oceânia como na Europa, e encontrará sempre, no génio natural do seu povo, e na experiência tradicional dos seus contactos, as soluções adequadas ao desenvolvimento harmónico de todas as suas parcelas, à convivência fraterna de todos os seus filhos, à fusão enriquecedora de todas as suas culturas. Mas na hora actual, essa evolução de uma sociedade pluricontinental e multiracial, é perturbada por crescente pressão internacional adversa."

Marcello Caetano vivia no bairro de Alvalade quando foi para o exílio no Brasil. As suas declarações são as de alguém que sempre viveu num regime autoritário e totalitário, que ele próprio ajudou a criar, alguém que perdeu a noção da realidade pela sua devoção cega e abstracta às leis que ele próprio tinha definido. O seu discurso reflecte a apatia de uma classe política diminuída, governada por interesses particulares, descendente de uma república atrofiada que nunca se tinha concretizado. Ouvir estas declarações nos nossos dias agudiza, mas torna claro, o sentimento de incapacidade dos actuais governantes que continuam a discorrer sobre narrativas identitárias, onde não falta o tom épico, mas falha na substância.

A exposição reúne um conjunto de desenhos a guache e grafite sobre papel-os maiores alguma vez feitos por Pedro Barateiro-durante os dois últimos anos, nos Ateliers do Coruchéus, aqui no Bairro de Alvalade. A série de obras foi-se definindo por uma abordagem à paisagem que está presente desde sempre no seu trabalho. O formato horizontal ao qual agora volta, não era trabalhado há bastante tempo, uma decisão consciente, pelo carácter histórico e evocativo que têm. As composições foram feitas sem plano definido. O papel continua a ser um dos suportes mais constantes no trabalho do artista pela possibilidade de uma acção directa e performativa-por vezes violenta-do acto de desenhar. O registo dos movimentos do corpo na superfície são um embate com o mundo e com o presente que se tenta propagar para lá das paredes do espaço onde se apresentam.

Uma outra possibilidade para um texto introdutório como este seria colocar uma citação ou um poema que demonstrasse a capacidade do artista articular o seu trabalho num campo poético que permita ao espectador entrar de forma transversal e cómoda na obra. Mas tal não é relevante no presente. O lugar onde nos encontramos revela sempre as suas camadas. Continuamos no bairro de Alvalade. De um lado a igreja, do outro a Biblioteca Nacional, guardiões da tradição, da escrita, onde os livros mudos relatam a história de um país que se entorpece e emaranha.

O actual estado da política e dos seus discursos, revelam a mesma falta de noção do passado, uma altivez em relação ao estado da sociedade em geral, e tornam o gesto artístico um acto necessário de questionamento do mundo e das narrativas que se vão construindo. Saber articular um discurso não deve ser motivo para convencer os outros das nossas crenças. Por vezes, o nosso reflexo, o ego, não nos permite ver de fora, de nos confrontarmos com o ridículo da vida, ou o quão perene tudo é. O exercício é não abandonarmos o pensamento crítico, e não nos perdemos-pelas ruas e pelos jardins que outros ajudam a construir-a capacidade de empatia e de cuidar dos outros, sem achar que sabemos o que é pior ou melhor para eles.
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