Património Imaterial
Transumância da Serra da Estrela inscrita no Inventário Nacional do Património Cultural Imaterial

O Património Cultural, IP aprovou o registo da Transumância da Serra da Estrela no Inventário Nacional do Património Cultural Imaterial (INPCI), conforme Despacho do Presidente do Conselho Diretivo, João Soalheiro, datado de 12 de maio de 2025 e já publicado em Diário da República.
Com este procedimento, o Património Cultural, IP reconhece a relevância desta manifestação, destacando a importância da prática enquanto reflexo identitário das comunidades, grupos e indivíduos envolvidos, a relevância da sua dimensão histórica, social e cultural nas áreas territoriais em que se insere, o valor acrescido que transporta para o desenvolvimento sustentável nos territórios onde se pratica, o atual contexto de transmissão dos conhecimentos associados e a necessidade de medidas de salvaguarda com vista à sua viabilidade futura.
A transumância da Serra da Estrela é vertical e essencialmente de verão, sendo tecnicamente conhecida como transterminância. Esta prática consiste no deslocamento do rebanho para os termos de um território contíguo dentro de uma mesma região geográfica. Na Serra da Estrela, caracteriza-se por um movimento inferior a 50 quilómetros entre uma freguesia ou um município de sopé de serra e outro em altitude. Este movimento ocorre principalmente no Parque Natural da Serra da Estrela e envolve ovinos e caprinos de raças autóctones.
A transumância continua ativa na metade centro-sul da Serra da Estrela nos municípios de Seia, Gouveia, Manteigas e Covilhã, e organiza-se em quatro momentos principais: as romarias, a subida, a estada na serra e a descida. As romarias são celebrações religiosas de bênção do gado que marcam o início do ciclo. A subida é o momento de partida de pastores e rebanhos transumantes para o alto da serra, que pode durar até dois dias de caminhada e alcançar 40 quilómetros. O percurso faz-se principalmente por veredas e canadas.
A transumância pode ser coletiva ou individual. A subida, contudo, é sempre operada de forma colegial. A presença de todos os pastores, muitas vezes também de familiares, amigos, empregados e aprendizes, é necessária para guiar tantos animais. As principais áreas de pastagens em altitude são a Senhora do Espinheiro, o Vale do Rossim, a Lagoa Comprida, a Nave de Santo António, as Penhas da Saúde e a Torre.
A permanência dos rebanhos e pastores na serra durante o verão é o período mais importante da transumância. Os rebanhos ficam geralmente de 10 a 40 dias, mas esta fase pode alargar-se a quatro meses.
Os pastores consideram a transumância necessária, por contribuir para o bem-estar dos animais e a vitalidade dos solos. Os animais desfrutam na altitude de temperaturas mais amenas, pastagens mais frescas, água mais pura e ar mais limpo do que nas pastagens do sopé de serra. As terras baixas, enquanto isso, podem descansar ou ser lavradas. Trata-se de um ritual cíclico de purificação dos animais e regeneração dos solos.
Esta prática envolve uns 30 a 50 pastores anualmente, além de familiares, amigos, empregados e aprendizes. Os pastores transumantes são principalmente homens, que se dedicam à atividade pastoril ao longo do ano, enquanto menos de cinco mulheres pastoras praticam a transumância com alguma regularidade na Serra da Estrela. Embora a comunidade pastoril seja envelhecida, a faixa etária média dos pastores transumantes situa-se entre 40 e 60 anos.
O pedido de registo desta manifestação foi submetido pela Comunidade Intermunicipal das Beiras e Serra da Estrela, resultado de um processo de investigação no terreno conduzido em estreita colaboração com as comunidades envolvidas.