Património Imaterial
Procissão de Triunfo de Lamego classificada como património cultural imaterial

A Procissão de Triunfo é um evento de carácter eminentemente religioso. O culto à Senhora dos Remédios remonta ao século XVI, nele participando todos os indivíduos (crentes ou não) do concelho e de outras localidades da Diocese de Lamego.
A procissão realiza-se a 8 de setembro, praticamente sem interrupções desde 1894, e insere-se num contexto mais amplo, que são as tradicionais e multiseculares festas em Honra de Nossa Senhora dos Remédios. Esta festividade encerra um ciclo regional de romarias, que se organizam um pouco por toda a região.
Meses antes da procissão, a Irmandade de Nossa Senhora dos Remédios dá início ao processo, com a abertura das inscrições para figurantes, contando com a colaboração do “homem-chave” desta realização – o Padre Albano Cardoso. É ele que, nos últimos 25 anos, tem mantido este evento, liderando uma equipa multidisciplinar e desenhando a procissão, de acordo com a liturgia desse ano e/ou de acordo com acontecimentos nacionais ou locais de índole religiosa, como aconteceu em 2023 com as Jornadas Mundiais da Juventude.
Nos bastidores trabalha uma equipa de carpinteiros, que verifica os carros-andores, que os prepara e os transporta semanas antes para o local onde a procissão se inicia, na Igreja do Mosteiro das Chagas . Neste local os carros-andores são ornamentados, de acordo com as orientações recebidas. Um conjunto alargado de pessoas, profissionais e entusiastas amadores, de forma abnegada e altruísta, ajudam à construção dos andores até ao seu remate e retoque final.
Um dos fatores mais peculiares deste evento é a presença dos bois no transporte dos andores. Ao contrário do que é habitual, os andores não são levados ao ombro pelos fiéis. Na Procissão de Triunfo os andores são assentes sobre aquilo que se designa por trans (chassis), pertencentes a coches do tempo da monarquia que foram devidamente adaptados. Do ponto de vista arquitetónico possuem relevante interesse patrimonial e histórico. Os trans de coche que vigoram ainda hoje na “Procissão de Triunfo” são os originais de 1894, minuciosamente revistos e anualmente retificados.
Outro dos aspetos importantes e diferenciadores da procissão é o facto de estarem presentes pessoas nos carros-andores, o que se define como “figurado vivo”, ou seja, crianças que se envolvem nos quadros ou temas bíblicos apresentados em cada um dos carros. Desde a primeira “Procissão de Triunfo” até aos nossos dias, a presença nos carros de figurado-vivo foi sempre uma constante.
Na manhã do dia da procissão, os participantes recolhem o seu vestuário e recebem informações da forma como se deve usar. Os carros-andores saem um pouco antes das 16:00, e neles são colocados os “nossos anjinhos” (figurado-vivo). Os bois comandam e compassam a procissão e milhares de lamecenses, forasteiros e turistas assistem ao ato.
A “Procissão de Triunfo” termina na Igreja de Santa Cruz, do extinto Convento dos Lóios, onde os militares têm o seu aquartelamento (RI9 – Regimento de Infantaria 9, na atualidade C.T.O.E. – Centro de Tropas de Operações Especiais) sendo eles que fazem a receção do cortejo processional.
Hoje não há nenhuma família em Lamego em que os seus avós, os seus pais e os seus filhos não tenham participado pelo menos uma vez na “Procissão de Triunfo”: como anjinho (figurado vivo) nos carros-andores ou como figurantes, nas diversas corporações que ela integra, ou nas bandas de música que acompanham os andores.
Esta proposta de inscrição foi apresentada pela Irmandade de Nossa Senhora dos Remédios, tendo por base o trabalho de investigação e documentação do investigador Fernando Cabral, realizado com recurso a recolhas no terreno junto da comunidade.
A inscrição no INPCI reflete os critérios constantes no artigo 10.º do Anexo ao Decreto-Lei n.º 149/2015, de 4 de agosto, com destaque para a importância da manifestação enquanto prática religiosa identitária da comunidade lamecense e das comunidades dos concelhos vizinhos, também na sua relação com as Festas em Honra de Nossa Senhora dos Remédios, complexo festivo ao qual se associa.