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Teatro

Breve nota sobre o Teatro Maria Matos de Lisboa

Há cerca de um ano referimos aqui o Teatro Maria Matos e a grande artista que em boa hora é evocada na denominação da sala de espetáculos, destacando a expressão de modernidade artística do Teatro, dado o historial da sala em si mas também o historial da grande atriz que em boa hora se consagra.


Recorde-se que o Teatro Maria Matos foi inaugurado no final de 1969 e municipalizado em 1982. Integra-se na linha de construção/renovação de edifícios culturais e de espetáculo, que não sejam só cinemas, em zonas urbanas mais recentes por esse país fora, e que adotaram a funcionalidade do espetáculo a nível dos rés-do-chão de edifícios de vocação comercial e /ou habitacional: teatros “de bolso”.

Tal como temos então aqui visto, tratava-se na época -se de uma certa inovação, mas sobretudo, de uma rentabilização de investimento, muito positiva em si mesma: como bem se sabe, são muito numerosos os teatros, construídos no seculo XIX ou mesmo os cineteatros, estes a partir dos anos 20 do seculo passado, que pela sua implantação em zonas centrais de vilas e cidades, foram progressivamente demolidos para dar lugar a construções mais rentáveis no ponto de vista de investimento, e quantas vezes menos adequadas à implantação em centros históricos e à arquitetura correspondente. De alguns, temos aqui dado noticia, aliás sem pôr em causa a qualidade arquitetónica de muitos deles.

E quando os chamados teatros “de bolso” independentemente da respetiva estrutura interna e lotação, se implantam em zonas mais modernas das cidades, então só há que elogiar a iniciativa e procurar garantir a viabilidade económica e a qualidade artística, o que nem sempre é possível, como bem sabemos.

Recorde-se que o Teatro Maria Matos foi inaugurada num projeto complexo urbano. Tinha no início uma lotação de mais de 500 lugares em plateia e balcão, e uma sala de ensaios. E desde logo se notabilizou pela qualidade da sala e também pelas máscaras de Martins Correia e pelo painel de Maria Helena Madureira.

Maria Matos (1890-1952) foi na sua época e ainda é hoje um grande nome de qualidade e prestígio no meio teatral português. Era professora de Arte de Representar e Encenação no Conservatório Nacional.

Dada pois a sua carreira, é meritória e adequada a designação do Teatro Maria Matos, inicialmente concebido pelo arquiteto Fernando Ramalho. O projeto sofreu porém alterações já em fase de construção e o edifício, tal com foi inaugurado, deve-se aos arquitetos Aníbal Barros de Fonseca e Adriano Simões Tiago.

Na origem, o Teatro foi dirigido por Igrejas Caeiro, a quem cabe esse mérito indiscutível da iniciativa. E estreou com um texto de Aquilino Ribeiro, a partir de “O Tombo no Inferno”. O Teatro funcionou durante anos como desdobramento de companhias ligadas à RTP, sob a direção de Artur Ramos.

Estreou então numerosos textos portugueses importantes.  No meu estudo sobre “Teatros de Portugal” (ed. INAPA 2005) bem como  no texto que aqui publiquei em 2017, acima citado, remete-se para parte desse repertório, referido  num estudo abrangente e de grande qualidade e documentação, da autoria de Maria do Céu Ricardo, precisamente denominado “Teatro Maria Matos (1969-2001) – Um Teatro com História”(ed. CML). 

Duarte Ivo Cruz

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