Património
Vila Real: Obra de Nadir Afonso em risco de demolição
O movimento cívico "Pró Nadir" alerta para o “risco iminente de demolição” da antiga panificadora projetada pelo arquiteto e artista transmontano. O edifício pertence a um privado e está em avançado estado de degradação.


O edifício da Panreal, a Panificadora de Vila Real, um dos poucos construídos pelo arquiteto e artista plástico Nadir Afonso, pode estar em risco iminente de demolição. A denúncia é feita pelo movimento cívico "Pró Nadir".
“Foi-nos comunicado pela Secretaria de Estado da Cultura que houve um pedido de parecer para uma obra de ampliação de uma superfície comercial, e essa obra de ampliação implica a demolição total da panificadora”, conta à Renascença Marta Vasconcelos Leite, do Movimento "Pró Nadir".
A jurista recorda que o parecer agora emitido abre as portas à demolição da antiga panificadora e ignora o pedido de classificação como imóvel de interesse municipal entregue à Câmara de Vila Real, em dezembro.
“É uma machadada no edifício especialmente porque reconhece que o edifício é importante, reconhece o valor do artista e depois propõe que se coloquem réplicas da obra do autor no supermercado”, acusa Marta Vasconcelos Leite.
A jurista do movimento Pró Nadir considera, por isso, que “se é o edifício que é importante esta proposta parece-nos um bocadinho caricatural no mínimo”, argumentando que “a ampliação do supermercado não precisa necessariamente de querer dizer que o edifício venha abaixo”.
“O edifício é moderno, de pendor humanista, com muitas utilizações possíveis e quem sabe uma delas não pode ser a ampliação de um supermercado”, defende, observando que “o que é importante para nós é proteger o edifício, reabilitá-lo porque ele não está num estado digno de se preservar, mas proteger o desenho original, a traça original”.
O Movimento Pró Nadir tem tentado sensibilizar as pessoas para o valor do edifício da antiga panificadora de Vila Real e está a preparar “uma carta aberta à ministra da cultura, que neste momento já reúne a assinatura de grandes nomes, como os arquitetos Siza Vieira e Souto de Moura”, e está disponível “para recorrer aos mecanismos legais” para defender e preservar uma das poucas obras construídas daquele que será um dos mais importantes artistas portugueses do século XX.
A Direção Regional de Cultura do Norte (DRNC) confirmou à agência Lusa que “emitiu um parecer favorável ao projeto de ampliação do empreendimento comercial adjacente à panificadora de Vila Real”, depois de ter avaliado o impacto do projeto no âmbito do quadro da zona especial de proteção que decorre da classificação do Alto Douro Vinhateiro.
No entanto, ressalvou que “o autor e a obra devem ser objeto de valorização na envolvente e no próprio empreendimento, para o que deverá ser elaborado um projeto a submeter a parecer da tutela”.
A Panificadora de Vila Real foi construída entre 1965 e 1966 segundo planos de Nadir Afonso, sendo um dos poucos edifícios que o arquiteto e artista plástico deixou construídos. Esteve em funcionamento até aos anos 1990, altura em que o negócio de panificação entrou em falência, tendo desde então estado ao abandono.
O edifício pertence a um proprietário privado. A Direção-Geral do Património Cultural arquivou em abril de 2018 o pedido de classificação do edifício. O Movimento Pró Nadir já interpôs um pedido de classificação como imóvel de interesse municipal junto da Câmara Municipal de Vila Real.
Nadir Afonso foi um artista português pioneiro da arte cinética, que estudou arquitetura e trabalhou ao lado dos fundamentais Le Corbusier e Oscar Niemeyer. Tendo projetado edifícios mas visto poucos construídos, o seu trabalho edificado neste campo é reduzido, fazendo a Panificadora de Vila Real parte desse grupo. Morreu com 93 anos, em 2013.
por Olímpia Mairos in Renascença | 8 de abril de 2019
Notícia no âmbito da parceria Centro Nacional de Cultura | Rádio Renascença