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Exposições

Menez em exposição em Cascais

MENEZ evidencia a excecionalidade da obra daquela que é um dos expoentes da arte portuguesa do século XX. A mostra é uma iniciativa da Fundação D. Luís I e da Câmara Municipal de Cascais no âmbito da programação do Bairro dos Museus e poderá ser vista entre 10 de março e 2 de outubro de 2022 na Sala Zero do Museu Casa das Histórias Paula Rego.

Sem título, 1986. Tinta acrílica sobre tela. 156,5 x 192 cm. Col. Millennium BCP. Foto: Pedro Aboim © Millennium BCP

10 Mar a 2 Out 2022

Casa das Histórias Paula Rego
Av. da República, 300 2750-475 Cascais


Comissariada por Catarina Alfaro, curadora e coordenadora do núcleo de Programação e Conservação da Casa das Histórias Paula Rego, a exposição retrospetiva “MENEZ” dá a conhecer quatro décadas da obra da artista, permitindo uma compreensão abrangente das suas diferentes fases e práticas, através de uma cuidadosa seleção de 29 trabalhos que transitam do abstracionismo ao figurativismo.

Maria Inês da Silva Carmona Ribeiro da Fonseca (1926 – 1995), ou Menez, como é conhecida artisticamente, foi uma artista portuguesa nascida em Lisboa e que durante anos viveu em várias cidades do mundo, como Buenos Aires, Estocolmo, Paris e Roma.

Antes disso, foi na Suíça, para onde se mudou com a família com apenas dois anos, onde cumpriu a maior parte do seu percurso escolar. Regressou a Portugal aos vinte anos, ao que se seguiria uma estadia de dois anos em Washington, D.C., nos Estados Unidos.

Começou a pintar ainda na infância, mas foi aos vinte e seis anos que elegeu a pintura como a sua ocupação regular. Sem formação académica na área, a sua prática é fruto da sua aptidão para a expressão artística, estimulada pelo seu contato com as artes visuais nas numerosas viagens que realizou.

Como todo o artista autodidata, Menez aprendeu pintando. Mas a sua obra, tal como a curadoria desta nova exposição evidencia, não é exclusivamente dedicada à pintura – abrange trabalhos em desenho, gravura, azulejo e tapeçaria. A receção positiva da sua obra pela crítica especializada e pelo público é confirmada pelas frequentes exposições individuais e coletivas que apresentou desde a década de 1950 e pela presença das suas obras em coleções de relevo, tanto institucionais portuguesas quanto privadas.

Como observa a curadora no texto que acompanha a mostra, “a originalidade e o difícil enquadramento estilístico da sua pintura muito se devem à sua compreensão desta disciplina como um processo de afirmação pessoal, capaz de transmitir a sua visão do mundo”.

Menez nunca dava título aos seus quadros nem gostava de falar do seu trabalho e raramente concedia entrevistas. Acreditava que a pintura tem que falar por si, sem recorrer a palavras ou explicações.

Os seus primeiros trabalhos, um conjunto de guaches apresentado em exposição na Galeria de Março em Lisboa, em 1954, e cujo catálogo continha um texto de Sofia de Mello Breyner, já evidenciam a sua preferência por composições que privilegiam a luz como elemento determinante na construção espacial – executadas “a partir de um jogo de ocultação e revelação entre interior e exterior, entre abstração e figuração” – valores que permanecerão e definirão a sua obra. À época, o historiador de arte e crítico Rui Mário Gonçalves afirmaria que “a luz e a sensualidade cromática permanecem as qualidades essenciais desta pintora de notável intuição”.

As obras que produziria nas décadas seguintes, e após a sua passagem por Londres na década de 1960, revelam uma artista que se propõe à exploração visual da representação figurativa entre formas abstratas, num exercício de “fantasia formal” que culmina numa ambiguidade inusitada e que imprime às suas obras um intricado e denso volume cromático. O resultado é uma obra enigmática e repleta de nuances.

A exposição também apresenta obras realizadas a partir dos anos de 1980, fase em que a artista transpõe para a tela representações de ambientes cenográficos internos, como ateliers, onde habitam, num isolamento dramático, as suas figuras femininas. Em algumas dessas obras, a pintora parece autorretratar-se, “numa encenação do ato de pintar onde ela própria é o objeto da pintura”, observa a curadora.

É o seu modo de “pintar a pintura”, numa projeção do seu imaginário e numa extensão do seu muito particular modo de “habitar” o espaço dentro e fora da arte. Os ambientes estranhamente familiares dos ateliers que retrata quase sempre se abrem para espaços externos, como jardins, ou para vistas do Tejo, evocando uma atmosfera onírica e revelando uma interioridade que é íntima, particular, cuidadosamente modelada através da luz, da cor e dos reflexos.

Numa das suas raras entrevistas, Menez afirmou que “o figurativo tem a ver com uma coisa íntima, minha”. Ao discorrer sobre a exposição, a curadora sugere que “aceitar o silêncio das suas obras, a absoluta imobilidade das suas figuras e a descontinuidade, que por vezes dá lugar à sobreposição, temporal e espacial, onde estas se inscrevem” é a melhor maneira de estabelecer uma relação com a obra da artista, que agora se descortina ao público num percurso expositivo que preenche oito salas da Casa das Histórias.

Desde 2019, a Casa das Histórias Paula Rego iniciou um novo ciclo de exposições com o objetivo de apresentar a obra de artistas cujas trajetórias se tenham cruzado com a de Paula Rego. Menez foi bolseira da Fundação Calouste Gulbenkian em Portugal em 1960, e também em Londres, nos anos 1964–65 e 1969, altura em que se tornou amiga da pintora Paula Rego e do marido, e de outras personalidades como Mário Cesariny e João Vieira. Nick Willing, filho de Rego, recorda a presença habitual de Menez na casa da família em Londres, e a relação de amizade e admiração entre as artistas que perdurou por várias décadas.

Cabe ainda pontuar que a exposição “MENEZ” é acompanhada por um catálogo bilíngue, em português e inglês, com textos sobre o percurso da artista e com reproduções a cores de todas as obras expostas.

Abertura ao público: terça-feira a domingo | 10h00 – 18h00 (última entrada às 17h40)   

Admissão:
Público Geral: 5 euros
Residentes / Seniores a partir dos 65 anos / Estudantes: 2,5 euros
Crianças até aos 18 anos / Funcionários da Câmara Municipal de Cascais / FDL / Empresas e Associações Municipais / Membros do ICOM e da IACA com cartão válido / Guias turísticos credenciados: GRATUITO
Escolas, Associações Sem Fins Lucrativos, Jornalistas em Exercício de Funções: Mediante comunicação prévia.

Nota: Para preços reduzidos e gratuidade, é necessária a apresentação do respetivo comprovativo.

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