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Três peças curtas de Ionesco para "decifrar" nas Leituras no Mosteiro
Ricardo Pais – que, em 1998, estreou "As Lições" a partir do texto do dramaturgo franco-romeno – é o convidado da sessão.



21 Fev 2017 | 21h00
Depois da leitura de Rinoceronte (1959), em janeiro, e antes da “descoberta” de Macbett (1972), a 21 de março, as Leituras no Mosteiro dedicam uma sessão para ler três peças em um ato de Eugène Ionesco, dramaturgo franco-romeno que está em destaque no primeiro trimestre do ano da iniciativa promovida pelo Teatro Nacional São João (TNSJ). A leitura informal de O Futuro está nos Ovos, O Mestre e A Menina Casadoira está agendada para terça-feira, dia 21 de fevereiro, às 21h00, no Centro de Documentação do TNSJ, que se localiza no Mosteiro de São Bento da Vitória. Ricardo Pais que encenou, em 1998, no TNSJ, As Lições – a partir de A Lição, de Eugène Ionesco –, é o convidado da sessão.
Escritas entre 1953 e 1957, as peças O Futuro está nos Ovos, O Mestre e A Menina Casadoira são três (bons) exemplos de uma escrita delirante em que Eugène Ionesco tentava construir com rigor maníaco um teatro de boulevard em adiantado estado de decomposição. Em O Futuro está nos Ovos (1957), o dramaturgo arrisca um peculiar drama de família que impõe a sua “conceção” de vida, vendo o casamento e a “multiplicação” como mecanismos de produção. Aqui, os ovos traduzem-se na procriação e na habilidade de fecundar novas gerações que irão garantir a sobrevivência e tradição.
Já em A Menina Casadoira (1953), Eugène Ionesco utiliza uma linguagem musical para descobrir um mundo virado do avesso, cómico mas atroz, onde a rapariga afinal poderá ser um homem “com uma voz forte”. Um mestre que não tem cabeça, “embora tenha chapéu e muito génio”, é a personagem central de O Mestre (1953). Trata-se de uma peça com um enredo bizarro, onde as ações não são realistas, e é ainda um texto altamente simbólico, com os temas da despersonalização e perda de identidade como os mais aparentes, já que as personagens nunca têm um nome, apenas “títulos”.
As Leituras no Mosteiro têm coordenação de Paula Braga e Nuno M Cardoso e são de entrada gratuita. O Centro de Documentação do TNSJ foi fundado no ano 2000. O espaço integra um Arquivo, um núcleo essencial para os investigadores dos campos cénicos e para a preservação de documentos como registos vídeos de espetáculos, textos de teatro, dossiês fotográficos ou materiais promocionais das peças do TNSJ. Localizado no Mosteiro de São Bento da Vitória, contempla ainda uma Biblioteca considerada a melhor em Portugal no que toca às artes performativas. Disponibiliza gratuitamente a consulta de cinco mil livros, além de compilar vídeos, filmes e documentários sobre teatro e dança, óperas dirigidas por encenadores relevante, e ficheiros de teatro radiofónico. O Centro de Documentação está aberto ao público de segunda a sexta-feira, entre as 14h30 e as 18h00.