Teatro
Centenário de "A Casaca Encarnada"
Quem hoje se veste com uma casaca encarnada? Ou, por outras palavras, quem hoje iria escrever uma peça intitulada “A Casaca Encarnada”? Esperemos que ninguém o faça sem remeter ao século anterior, para citar designadamente “A Casaca Encarnada” de Vitoriano Braga, publicada em 1922, exatos 100 anos decorridos, o que justificará uma referência cronológica.

Mas neste caso, haverá outra razão marcante: pois “A Casaca Encarnada” representa uma abordagem do teatro que, insiste-se, um século decorrido, reflete a situação social e psicológica da época, mas com rigorosa qualidade cénica e literária e com aspetos que sociologicamente também perduram.
Pois a verdade é que, independentemente da qualidade cénica, a peça em si mesma não perde atualidade. E mais: como já escrevi, consubstancia de certo modo um dos mais sólidos suportes desse teatro.
Independentemente de outras características, nela encontramos (como já escrevi e agora cito) a situação de um pianista fraudulento, que acaba num cabaret da época, vestido precisamente com uma casaca encarnada a ganhar a vida como pianista de jazz: E não obstante um século decorrido, a peça, tal como refiro na “História do Teatro Português” é perfeitamente fraudulenta no seu enredo. A falência fraudulenta do protagonista Evaristo Fernandes serve de contraponto as suas aspirações como pianista.
E como já escrevi, “A Casaca Encarnada” é o mais sólido suporte da obra teatral de Vitoriano Braga.
Comporta uma muito bem armada descrição do ambiente especulativo da economia e da sociedade portuguesa da época. E a densidade e veracidade psicológica adequam-se à ambientação. A promiscuidade da atividade económica concilia-se com o ambiente social e representam a Lisboa desse tempo…
É adequada pois esta breve evocação!...
Duarte Ivo Cruz