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Nuno Portas (1934-2025)
O Centro Nacional de Cultura apresenta sentidas condolências à família e a seus amigos e homenageia o mestre e amigo.

Próximo do Centro Nacional de Cultura desde os anos cinquenta, Nuno Portas demonstrou preocupação constante com os direitos dos cidadãos à moradia digna e à cidade. Foi secretário de Estado de Habitação e Urbanismo em 1974, após o 25 de Abril. Criou o Serviço de Apoio Ambulatorial Local, para atender necessidades crônicas e urgentes, criadas por anos de ditadura. Manteve, ao longo de toda sua obra e de toda sua vida a ferrenha defesa pelo “direito à cidade”.
Nuno Rodrigo Martins Portas, uma das figuras de referência na cultura portuguesa, nasceu em 23 de setembro de 1934, em São Bartolomeu, concelho de Vila Viçosa, distrito de Évora, e dividiu-se ainda muito jovem entre as paixões por cinema e arquitetura. Com uma carreira multifacetada, Portas conciliou atividade acadêmica, produção teórica, intervenção cívica e prática profissional, após concluir o curso de arquitetura em 1959, nas Escolas de Belas Artes de Lisboa e Porto. A trajetória profissional começou em 1957, na Rua da Alegria, em Lisboa, no ateliê de Nuno Teotónio Pereira (1922-2016), considerado um dos mais notáveis arquitetos portugueses de sua geração, e um dos exemplos de admiração que Nuno Portas citou diversas vezes, em entrevistas. Nuno Portas tornou-se figura ativa no meio cultural, associando-se à revista Arquitectura, da qual foi diretor, e onde publicou textos distinguidos, nomeadamente com o Prémio Gulbenkian de Crítica de Arte em 1963. Foi um dos primeiros a escrever sobre a obra do arquiteto Álvaro Siza, tanto em Portugal quanto em revistas especializadas na Espanha e na Itália. Entre 1962 e 1974 desenvolveu pesquisa no Laboratório Nacional de Engenharia Civil, onde coordenou o Núcleo de Arquitetura, Habitação e Urbanismo, atividade que é tida no meio como contribuição decisiva para o pensamento crítico sobre o espaço urbano e a habitação em Portugal. Como vimos, desde cedo, demonstrou preocupação com os direitos dos cidadãos à moradia digna e à cidade, o que transpareceu na defesa de modelos cooperativos de moradia e na criação do Serviço de Apoio Ambulatorial Local (SAAL), quando foi Secretário de Estado da Habitação e Urbanismo, em 1974.
A carreira docente começou na Escola de Belas Artes de Lisboa, onde lecionou a cadeira de Projeto entre 1965 e 1971. Em 1983, integrado ao corpo docente da Escola de Belas Artes do Porto, participou da fundação da Faculdade de Arquitetura da Universidade do Porto, onde viria a se tornar professor catedrático em 1989. Depois, com estatuto de professor jubilado, manteve influência intelectual na academia pelo seu legado, do qual faz parte a estruturação do primeiro mestrado em Planeamento e Projeto do Ambiente Urbano. A atividade académica de Nuno Portas estendeu-se internacionalmente, com passagens por instituições de prestígio como a Escola Técnica de Arquitetura de Barcelona, o Instituto de Urbanismo de Paris, o Politécnico de Milão, a Universidade de Ferrara, em Itália, e a Universidade Federal do Rio de Janeiro, no Brasil. Ainda no plano internacional, liderou o Planeamento Intermunicipal de Madrid (1980-1983), onde viveu nesses três anos, e foi consultor dos planos estratégicos municipais de Barcelona e Santiago de Compostela. Profundamente humanista, afirmou: “Hoje a arquitetura tem a obsessão das invenções e despreza a memória. Mas não há linguagem sem memória”, comentou, também em entrevista, defendendo que o “património deveria ser respeitado mas acrescentado, o que os antigos sempre fizeram”, sustentando que aquela disciplina consiste “numa arte de grandes permanências e de responsabilidade”. Entre os projetos mais relevantes, destacam-se o plano do ‘campus’ da Universidade de Aveiro, o primeiro Plano Geral da Expo 98 e os estudos de requalificação de Chelas e do centro histórico de Guimarães.