Música
INTEGRAL DAS SINFONIAS DE SCHUMANN E DE BRAHMS
“OCP: Espírito Radical!” é o lema da Orquestra de Câmara Portuguesa para 2015, que vai celebrar, num ciclo de quatro concertos, a dupla integral das sinfonias de Schumann e Brahms.

28 Out 2015 | 21h00
6 Dez 2015 | 21h00
ORQUESTRA DE CÂMARA PORTUGUESA
PEDRO CARNEIRO direção musical
“OCP: Espírito Radical!” é o lema da Orquestra de Câmara Portuguesa para 2015, que vai celebrar, num ciclo de quatro concertos, a dupla integral das sinfonias de Schumann e Brahms. Dois artistas ímpares, de rasgado génio, mas com uma prática de composição e de trabalho radicalmente diferentes.
Schumann descreveu o momento de inspiração como a centelha absoluta da criação artística, que sendo espontânea (o compositor escreveu muita desta música em episódios maníacos) nasce da autoimposição de uma difícil disciplina. Brahms é o exemplo da perfeição da arquitetura musical e do seu refinamento absoluto: sempre acolhendo ideias espontâneas, mas como ponto de partida para uma viagem universal. Será através deste mote que Pedro Carneiro e a OCP se irão lançar a este enorme desafio: com toda a emoção, envolvimento, energia e espírito de descoberta.
15 janeiro 2015 | Grande Auditório | 21h
INTEGRAL DAS SINFONIAS DE SCHUMANN E DE BRAHMS 1
Robert Schumann 1810-1856 Sinfonia n.º 1, op. 38
Intervalo
Johannes Brahms 1833-1897 Sinfonia n.º 1, op. 68
29 março 2015 | Grande Auditório | 21h
INTEGRAL DAS SINFONIAS DE SCHUMANN E DE BRAHMS 2
Robert Schumann 1810-1856 Sinfonia n.º 2, op. 61
Intervalo
Johannes Brahms 1833-1897 Sinfonia n.º 2, op. 73
28 outubro 2015 | Grande Auditório | 21h
INTEGRAL DAS SINFONIAS DE SCHUMANN E DE BRAHMS 3
Robert Schumann 1810-1856 Sinfonia n.º 3, op. 97
Intervalo
Johannes Brahms 1833-1897 Sinfonia n.º 3, op. 90
6 dezembro 2015 | Grande Auditório | 21h
INTEGRAL DAS SINFONIAS DE SCHUMANN E DE BRAHMS 4
Robert Schumann 1810-1856 Sinfonia n.º 4, op. 120
Intervalo
Johannes Brahms 1833-1897 Sinfonia n.º 4, op. 98
Johannes Brahms
Sinfonia n.º 1
Nascido numa família pobre de Hamburgo, Brahms cedo mostrou ser um músico promissor. Por volta dos 13 anos, ajudava financeiramente a família ao tocar em bares e em casas de má fama. Mais tarde, em 1853, numa tentativa de se lançar na carreira de pianista, faz uma digressão com o violinista Eduard Reményi. É durante essa viagem que acaba por conhecer aqueles que iriam ser os seus amigos mais importantes: o violinista Joseph Joachim, o compositor Robert Schumann e a sua mulher, Clara (ela própria uma famosa pianista). Schumann ficou tão impressionado com as composições de Brahms, que escreveu um artigo efusivo proclamando-o herdeiro de Beethoven. Por um lado, esse facto deu à carreira de Brahms um impulso decisivo e imediato, por outro, acabou por colocar o peso da expetativa nos seus ombros. Quando Schumann sofre um esgotamento, Brahms viaja para Düsseldorf para ajudar Clara, desenvolvendo-se uma relação entre os dois que ainda hoje é fonte de muita especulação, uma relação que parece ainda mais forte após a morte de Schumann. Eram, sem dúvida, amigos íntimos, pois Brahms confia a Clara a primeira leitura dos seus maiores trabalhos. Brahms era cáustico e fazia frequentemente observações indelicadas, contudo, era possuidor de caráter sensível e ponderado, capaz de ser muito generoso com o seu tempo (e até dinheiro) e inspirar grande lealdade por parte dos seus amigos.
Como Schumann, Brahms escreveu quatro sinfonias, repartidas por nove anos e cronologicamente agrupadas aos pares (1876-1877 e 1883-1885). É importante notar que, antes de compor a sua primeira sinfonia, Brahms concluiu um concerto para piano, duas serenatas, e as Variações sobre um tema de Haydn. Além disso, a sua primeira sinfonia é terminada já depois dos 40 anos, e após uns longos 20 anos de maturação (a ideia de compor uma sinfonia surge logo depois do primeiro encontro com Schumann, ainda em 1854). Tudo isto indica o enorme respeito que sentia pelo género mas, acima de tudo, o peso da comparação com Beethoven. Contudo, se as referencias a Beethoven são evidentes, em particular na Sinfonia n.º. 1, as sinfonias de Brahms diferenciam-se também pela renúncia ao scherzo, tão importante em Beethoven, substituindo-o em geral por um andamento mais próximo do espírito de Schubert. A Sinfonia n.º 1 de Brahms foi estreada em Karlsruhe, a 4 de novembro de 1876, sob a direcção de Felix Otto Dessoff.
Sinfonia n.º 2
Esta sinfonia foi estreada em Viena, a 30 de dezembro de 1877, sob a direção de Hans Richter. Composta imediatamente após a conclusão da Primeira Sinfonia e acabada rapidamente, no decurso do verão de 1877, passado em Portschach, na margem do Wörtersee, na Caríntia. Esta sinfonia conheceu desde a estreia um êxito considerável, superior ao da Primeira. Ela é certamente de abordagem mais fácil, e de uma sedução sonora mais imediata, sobretudo no seu primeiro andamento. Podemos encontrar nesta Segunda Sinfonia numerosos episódios da sombria força nórdica que caracteriza Brahms. Por outro lado, também nela se revelam os laços que unem Brahms ao classicismo.
Sinfonia n.º 3
Esta sinfonia foi estreada em Viena, a 2 de dezembro de 1883, sob a direção de Hans Richter. Projetada desde 1880, foi escrita no essencial no verão de 1883, passado em Wiesbaden. O êxito foi imediato, rapidamente conhecida e admirada em toda a Europa e até nos Estados Unidos. Hans Richter dera-lhe o sobrenome de “Heroica” – por associação evidente do seu número com o da Sinfonia de Beethoven. No entanto podemos com segurança dizer que o heroísmo está presente nesta sinfonia, designadamente no primeiro andamento. Contudo, como sempre em Brahms, o conjunto da obra oferece uma mistura de sentimentos muito complexa.
Sinfonia n.º 4
Esta sinfonia foi estreada a 25 de outubro de 1885, em Meiningen, sob a direção do próprio Brahms. Os dois primeiros andamentos foram compostos em 1884 e os dois últimos em 1885. Trata-se de uma das últimas obras orquestrais de Brahms, uma Sinfonia de “Outono”, imagem que traduz bem o seu humor, ao mesmo tempo atormentado, fogoso, por vezes rude e solitário. A Quarta é considerada a mais clássica das sinfonias de Brahms, o que é verdade para a forma, sobretudo para o finale em forma de chacona. Mas nos dois primeiros andamentos é impossível não descobrir acentos “dvorakianos”, anunciadores da Sinfonia do Novo Mundo e do Concerto para Violoncelo, do músico checo. Por sua vez, o ultimo andamento da Quarta, apesar de recorrer à forma de chacona, não é, de forma nenhuma, um exercício de estilo, mas traduz a assimilação perfeita e natural de uma técnica tradicional alimentada pela inspiração. Este modelo permite a Brahms construir um dos mais prodigiosos conjuntos de variações de toda a sua obra sinfónica, tomando como ponto de partida um coral da Cantata BWV 150 de Johann Sebastian Bach. Tanto o encanto dos dois primeiros andamentos, como a vitalidade do terceiro, a riqueza e a envergadura deste andamento final fazem da última sinfonia de Brahms a mais estimada das quatro.
Robert Schumann
Sinfonia n.º 1
Apresentada pela primeira vez no dia 31 de março de 1841, a Sinfonia n.º 1 de Robert Schumann foi composta em apenas dois meses: é esboçada em apenas quatro dias, ainda em janeiro de 1841, e terminada a 20 de fevereiro. A estreia teve lugar no Gewandhaus de Leipzig sob a direção de Feliz Mendelssohn e contou com um acolhimento tão caloroso, que o compositor sentiu-se inspirado a compor o tríptico Abertura, Scherzo e Finale e, pouco depois, uma segunda sinfonia, que viria a ser mais tarde a Sinfonia n.º 4. Schumann vivia então um dos seus momentos mais felizes. Acabara finalmente por se casar com Clara, tendo ultrapassado todas as barreiras levantadas pelo pai de Clara que não aprovava a relação. Dizia Robert: A Sinfonia valeu-me muitas horas de alegria… Dou graças ao espírito benfazejo que me permitiu levar tão facilmente a bom porto, em tão pouco tempo, uma obra desta importância… Contudo, a composição de uma obra desta envergadura acabou por causar, como é natural, alguma ansiedade no compositor, tendo desabafado: Estou tentado a quebrar o meu piano… ele torna-se demasiado estreito para conter as minhas ideias. Pode-se dizer que esta sinfonia obedeceu a uma tripla motivação: seguir os conselhos de Clara e procurar novas formas de expressão; seguir os passos do seu amigo Mendelssohn; ultrapassar, por fim, os mestres clássicos e tratar a sinfonia como “música romântica”, para citar o próprio compositor.
Sinfonia n.º 2
Esta é, cronologicamente, a terceira sinfonia: de facto, foi esboçada em dezembro de 1845 (após a conclusão do concerto para piano) e terminada no decurso do ano seguinte – na altura em que se manifestaram os primeiros sintomas da doença que seria fatal para o compositor. Posso dizer que é a resistência do espírito que aqui é manifestada e que procurei lutar contra o meu estado… Por isso esta é uma obra de dor e de vitória sobre essa dor. Daí o tom geral desta sinfonia: ora resignada, ora de uma alegria que extravasa. Dedicada a Oscar I da Noruega e da Suécia, esta sinfonia foi estreada em Leipzig a 5 de novembro de 1846.
Sinfonia n.º 3
A terceira Sinfonia foi escrita em dezembro de 1850, em Dusseldorf, onde foi igualmente estreada no ano seguinte, a 6 de fevereiro, sob a direção do próprio compositor. Apesar do seu número, é cronologicamente a segunda das quatro sinfonias de Schumann. O seu apelido “Renana” provém do subtítulo inicialmente previsto pelo compositor: Episódio de uma vida nas margens do Reno. Schumann desejava exprimir nesta obra tudo o que pudesse evocar o rio, as suas paisagens, as suas lendas na alma dos românticos alemães. Eminentemente poética, de inspiração popular e, ao mesmo tempo, inclinando-se para o devaneio, esta Terceira Sinfonia é sem dúvida uma homenagem à “Velha Alemanha”.
Sinfonia n.º 4
Segundo a ordem cronológica, esta sinfonia seria a segunda, contudo foi rearranjada em 1851, depois de estreadas as Segunda e Terceira Sinfonias. O título original de “Fantasia Sinfónica” sob o qual a obra foi executada a 6 de dezembro de 1841, em Leipzig manifestava a intenção de Schumann em ultrapassar as convenções sinfónicas usuais: os andamentos, de facto, encadeiam-se sem interrupções e os temas circulam através deles; é o levar à prática do princípio cíclico tão caro a César Franck e seus discípulos. Na verdade, um tema principal em forma de arabesco, que parece ter obcecado durante muito tempo o espírito de Schumann, une as partes extremas (exposto logo no inicio, atingirá o climax no finale). As outras figuras temáticas surgem igualmente de uma ponta à outra da partitura, fixando firmemente a atenção do ouvinte. A estreia da versão definitiva, teve lugar em Dusseldorf em 1853, com grande sucesso.
PEDRO CARNEIRO
Pedro Carneiro é cofundador, diretor artístico e maestro titular da Orquestra de Câmara Portuguesa, que dirigiu no City of London Festival, em 2010. Considerado pela crítica internacional como um dos mais originais músicos da atualidade, foi bolseiro da Fundação Gulbenkian na Guildhall School (Londres), concluiu as licenciaturas em percussão e direção de orquestra, com distinção. Seguiu os cursos de direcção de Emilio Pomàrico, na Accademia Internazionale della Musica, Milão.
Aclamado internacionalmente como um dos mais importantes percussionistas de hoje, Carneiro apresenta-se regularmente como solista convidado de algumas das mais prestigiadas orquestras internacionais: Los Angeles Philharmonic, Seattle Symphony Orchestra, BBC National Orchestra of Wales, Helsinki Philharmonic e Finnish Radio Symphony Orchestra, Iceland Symphony Orchestra, English Chamber Orchestra, Vienna Chamber Orchestra, Orquestra Sinfônica do Estado de São Paulo, Leipzig Radio Symphony Orchestra. Swedish Chamber Orchestra – sob a direção de maestros como Gustavo Dudamel, Oliver Knussen, John Neschling, Christian Lindberg, entre muitos outros.
Tocou, em estreia absoluta, mais de uma centena obras, e trabalha regularmente com prestigiados instrumentistas, orquestras e compositores, assim como os quartetos Tóquio, Xangai, Chilingirian, Nova Zelândia e Latino-americano. Em particular, a sua colaboração estreita com o quarteto Arditti está fixada em dois registos discográficos. Carneiro compõe para teatro, dança e cinema. Da sua extensa discografia, destaca-se a monografia de Xenakis (2004) e dois discos concertantes no selo germânico ECM (New Series).
Apresenta-se regularmente como chefe de orquestra (por vezes dirigindo a partir do teclado da marimba) em diversas orquestras nacionais, como a Orquestra Gulbenkian, Orquestra Sinfónica Portuguesa, Orquestra Clássica da Madeira, Orquestra do Algarve e Fundação Orquestra Estúdio, e internacionais, como a Orquestra Sinfónica da Estónia, sendo maestro convidado no Round Top Festival, no Texas, EUA e no FEMUSC (Festival de Música de Santa Catarina, Brasil).
Recebeu a Medalha de Honra da Cidade de Setúbal e o Prémio Gulbenkian Arte 2011.
ORQUESTRA DE CÂMARA PORTUGUESA
A direção artística da OCP é assegurada por Pedro Carneiro, que lidera a mais recente e virtuosa geração de instrumentistas de Portugal. O Centro Cultural de Belém acolheu a OCP, primeiro como Orquestra Associada, e desde 2008 como Orquestra em Residência. A OCP fez o Concerto Inaugural das temporadas CCB 2007/08, logo na sua estreia, e em 2010/11. A presença nos Dias da Música em Belém tem sido uma constante, abrindo espaço a novos solistas e maestros, como Pedro Amaral, Pedro Neves, Luís Carvalho, Alberto Roque e José Gomes.
A OCP já trabalhou com os compositores Emmanuel Nunes e Sofia Gubaidulina, e tocou com solistas internacionais como Jorge Moyano, Cristina Ortiz, Sergio Tiempo, Gary Hoffman, Filipe Pinto Ribeiro, Carlos Alves, Heinrich Schiff, Thomas Zehetmair, António Rosado, entre outros.
A internacionalização deu-se em 2010 no City of London Festival, com 4 estrelas no The Times.
A OCP abriu o 1.º Festival das Artes de Coimbra; apresentou-se em Almada, Castelo Branco e Vila Viçosa; nos festivais de Alcobaça, Leiria, Paços de Brandão e Setúbal; nos concertos de Natal nas Igrejas Lisboa, pela EGEAC, e Festival ao Largo do TNSC. Em 2013, participou no ciclo de concertos da DGPC “Música nos Mosteiros”, em Alcobaça, Batalha, Jerónimos e Convento de Cristo.
A OCP tem por visão tornar-se numa das melhores orquestras do mundo, afirmando-se como um projeto com credibilidade e pertinência social e cultural, que nasce de uma ação genuína de cidadania proativa. A OCP está a levar à prática diversos projetos de Responsabilidade Social: O meu amigo toca na OCP, a OCPsolidária, a OCPzero/Jovem Orquestra Portuguesa e a OCPdois.
A Linklaters Portugal é o primeiro patrocinador privado da OCP, ao apoiar o lançamento da OCPzero desde 2010. A OCPzero, agora OCPzero – Jovem Orquestra Portuguesa (JOP), é membro da EFNYO-European Federation of National Youth Orchestras (sede em Viena)-com candidatura aprovada por unanimidade na Assembleia Geral da EFNYO, realizada em maio de 2013, em Bucareste.
A estreia internacional da JOP, cuja digressão teve o apoio da Câmara Municipal de Lisboa e da Santa Casa da Misericórdia de Lisboa, verificou-se no passado dia 5 de agosto, no Festival de Música de Kassel – Kultursommer Nordhessen, resultando num êxito extraordinário. A JOP regressa a Kassel, em 2015, e estreia-se no Young Euro Classic, em Berlim.
Em 2012, a Fundação Calouste Gulbenkian associou-se à OCP, aprovando o patrocínio do projeto “Notas de Contacto - a OCPsolidária na CERCIOEIRAS”. Esta iniciativa OCP iniciada em 2009, em regime de voluntariado, tem agora o apoio trienal da FCG, permitindo o desenvolvimento e aprofundamento do programa, contando já com diversas apresentações públicas.
No último trimestre de 2013 a OCP deu início ao programa OCPdois com o projeto “A OCP t(r)oca música com miúdos e graúdos", em parceria com a Suggestus, envolvendo cerca de 140 músicos selecionados das bandas filarmónicas dos municípios de Gouveia, Ponte de Lima, Seia, Castelo Branco e Pombal. Em janeiro de 2014, arrancou novo projeto, a OCPdois@UL, uma parceria entre a OCP e a Universidade de Lisboa, para a constituição da Orquestra da Universidade de Lisboa, que teve a sua primeira apresentação em 21 de junho de 2014.
Até ao fim de 2014, a OCP usufruiu do apoio direto às atividades pela DGArtes, no âmbito dos apoios bianuais, estando neste momento em fase de nova candidatura. Além da continuada e consistente parceria com o CCB, desde a fundação da OCP em 2007, no âmbito das parcerias de setor, a consultora everis Portugal acompanha de perto a OCP desde que há 3 anos, elaborou um plano estratégico de gestão e desenvolveu o do atual site da OCP. A PwC presta à OCP o seu apoio pro bono como auditor, e desde janeiro de 2013, o Município de Oeiras, como Parceiro Institucional cedeu um espaço na antiga escola primária de Algés, onde a OCP tem a sua sede.