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Exposições

Uma exposição inédita interroga o "primitivismo" a partir de Portugal

CIAJG - Centro Internacional das Artes José de Guimarães inaugura nova exposição, com um programa que inclui concertos e dj sets em lugares inesperados do museu.

Verso de uma máscara identificada como “cópia”, produzida pelos escultores do Museu do Dundo.   Relatório Mensal do Museu do Dundo de 1957. Diamang Digital – Universidade de Coimbra.

18 Mai 2024  |  17h00

Centro Internacional das Artes José de Guimarães
Av. Conde Margaride, 175 4810-535 Guimarães
Preço
Entrada livre

“Problemas do Primitivismo – a partir de Portugal” é o título da próxima exposição do CIAJG - Centro Internacional das Artes José de Guimarães, um museu que se quer pensar a si mesmo e propõe sentidos críticos sobre o passado a partir do presente.

Com inauguração marcada para 18 de maio, às 17h00, a exposição aborda os contextos da ditadura, da colonização, do anticolonialismo e do pós-colonialismo, e problematiza a invenção do «primitivo» e a sua persistência até à contemporaneidade. Fá-lo através de uma montagem expositiva experimental, que dá a ver uma “máquina visual” impregnada de imagens e referências artísticas e culturais.

De cunho investigativo e sem pretensão de esgotar o assunto, a proposta curatorial convoca todo o museu para uma abordagem crítica através de uma polifonia de várias vozes e participantes. Mais de setenta artistas, autoras e autores, de diversas proveniências e inscrições culturais, colaboram nesta exposição com obras de arte, originais e reproduções, textos e citações.

Com curadoria de Mariana Pinto dos Santos e Marta Mestre, “Problemas do Primitivismo – a partir de Portugal” é uma exposição que resulta de um mergulho em arquivos e coleções portuguesas e que incorpora muitas perspetivas e pesquisas recentes, na área da história e crítica da arte, antropologia, museoglogia, etc.

Para Marta Mestre, diretora artística do museu e cocuradora da exposição: “o CIAJG quer ocupar um lugar de referência nos debates sobre o futuro dos museus, incorporando sentidos críticos nas exposições que realiza. Esta exposição analisa o primitivismo num tempo-espaço amplo e situado. Se, para a modernidade, o primitivismo cumpriu a função de espelho invertido do racionalismo, e gerou uma utopia sobre as origens e sobre outras culturas que não a europeia, essa operação produziu uma desigualdade, posicionando-as à distância.”

Segundo Mariana Pinto dos Santos, cocuradora da exposição, investigadora do Instituto de História da Arte: "esta é uma exposição-montagem com material visual sobretudo da história do século XX em Portugal, posto em diálogo e tensão com uma história cultural, política e artística mais vasta. Aborda o problemático termo "primitivismo", presente nas práticas artísticas e nas narrativas da modernidade, mas que assenta, em grande medida, na colonização. Esta exposição procura mostrar como os três termos interligados modernismo-primitivismo-colonialismo operaram a partir do contexto português, sem descurar outras valências do termo primitivismo."

Seis palavras-chave, permeáveis entre si, organizam os diversos espaços da exposição que ocupa três pisos no CIAJG: “Civilização”, “Museu”, “Ingénuo”, “Mar Português”, “Jazz-Band” e “Extração”.

“Civilização” refere-se à distinção entre «civilização» e «barbárie», ou «primitivo», que estabeleceu uma hierarquia entre povos, argumentando-se que a Europa teria uma suposta «missão civilizadora» que serviu de justificação para ocupar, explorar, extrair, pilhar.

“Museu” aponta para algumas histórias materiais em torno de museus portugueses e exposições. “Ingénuo” diz respeito à associação da arte popular e da arte africana ao ingénuo ou ao infantil, com um sentido pejorativo que as primeiras vanguardas do século XX tornaram positivo. “Mar Português” alude ao imaginário primitivista exótico de lugares e culturas distantes, quer em contexto colonialista e celebratório – como em exposições de propaganda do império –, quer denunciando o colonialismo. “Jazz-Band” aborda a conquista do espaço da modernidade por corpos negros, considerando que a figura da mulher negra se tornou imagem de cosmopolitismo, paradoxalmente reforçando, e ao mesmo tempo combatendo, estereótipos racistas e machistas. “Extração” traz a relação entre o período colonial e o atual quanto à exploração das terras e das pessoas, hoje de proporções alarmantes, devido ao esgotamento dos recursos naturais e à concentração desses recursos e de mão de obra barata no Sul Global. O núcleo “Extração” convoca o trabalho dos artistas contemporâneos Uriel Orlow, Ilídio Candja Candja, Elo Veja e Rogelio López Cuenca e Ludgero Almeida, que estabelecem um diálogo passado-presente que mostra persistências e ecos dos problemas do primitivismo no presente.

Através das seis palavras-chave, dá-se a ver, não uma cronologia fixa, mas percursos e correlações diagramáticas, fluxos, tensões e sinapses entre textos e imagens, bem como a interação entre «alta» cultura e cultura de massas, entre a história, a história da arte, a política, a antropologia e a economia, bem como a estrutura ideológica, social e cultural sobre a qual assentou a disseminação de uma visualidade intensa relacionada com a ideia de «primitivo».

“Problemas do Primitivismo – a partir de Portugal” recorre a uma lista extensa de artistas, autores e autoras, como António Areal, Amílcar Cabral, Diogo de Macedo, Vera Mantero, Maria Archer, Almada Negreiros, Ernesto de Sousa, José de Guimarães, Amadeo de Souza-Cardoso, Cruzeiro Seixas, Franklin Vilas Boas, Oswald de Andrade, Júlio Reis Pereira, Achille Mbembe, Aimé Césaire Malangatana, Maria Keil, Felwine Sarr e Bénédicte Savoy, Marlene Monteiro Freitas, Mário Domingues, Mário Cesariny, Milly Possoz, Rosa Ramalho, Tarsila do Amaral, entre outros.

Participam também vários arquivos e museus nacionais através da cedência de obras, imagens e documentos, como a coleção da Fundação Millenium BCP, a Biblioteca de Arte Gulbenkian, a Fundação Cupertino de Miranda, a Diamang Digital – Universidade de Coimbra, a Casa Comum/Fundação Mário Soares e Maria Barroso, a BLX-Hemeroteca Municipal de Lisboa, a Sociedade Martins Sarmento, entre outros.

A concretização desta exposição contou com o apoio da Fundação Millennium BCP e a parceria do Instituto de História da Arte da Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade NOVA de Lisboa (IHA -NOVA FCSH /IN2PAST).

ANTIMUSEU ATÉ ÀS 02H00

Após a inauguração da exposição “Problemas do Primitivismo – a partir de Portugal”, marcada para as 17h00, o CIAJG volta a convidar a editora de música Revolve, conhecida por organizar o festival Mucho Flow, a apresentar o “antimuseu”, um programa pensado para o espaço do CIAJG que acontece em lugares inesperados, invertendo as posições convencionais dos corpos e dos objetos que o constituem. “antimuseu” é um dia/noite de intervenções musicais contínuas que explora o contexto arquitetónico e acústico, e estabelece novos parâmetros para a experiência do CIAJG. Depois da 1ª edição em 2022, o “antimuseu” regressa ao CIAJG afirmando-se como um momento de cruzamento entre a música exploratória e a arte contemporânea espelhado num programa de extensa catarse, das 19h00 às 02h00, com apresentações de nomes tão fulgurantes como Croatian Amor, DJ Lynce, DJ Veludo, Miguel Pedro, oqbqbo e Vanity Productions. A entrada é gratuita. 
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