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Exposições

38º Aniversário da Galeria Ratton e exposição "Correspondências"

Com Correspondências comemoram-se 38 anos de caminho, festejando este projecto iniciado em 1987 por Ana Maria Viegas ao qual me juntei definitivamente em 2006 mergulhando de corpo inteiro, porque só assim era possível acompanhar na continuidade a dedicação sem limite e de entrega total.

22 Out 2025  |  18h00

Galeria Ratton
Rua Academia das Ciências, 2C, 1200-004 Lisboa
exposição | exhibition
CORRESPONDÊNCIAS
2025
com | with
Graça Morais
Virgínia Fróis
Júlio Pomar . Pedro Tamen
Menez
 
texto exposição | exhibition text
Sílvia Chicó
 
dia 22 outubro
das 18h às 22h
aniversário 38 birthday
às 19h30
improvisos de guitarra | guitar improvisations

Rogério Pires
Guitarrista e compositor, nasceu em Pinhel (Guarda) em 1960. Licenciatura em Filosofia pela Faculdade de Letras da Universidade Clássica de Lisboa e Curso de Viola Dedilhada do Conservatório Nacional de Lisboa na classe do Professor José Diniz.

A par de ser professor-acompanhador de dança contemporânea na Escola de Dança do Conservatório Nacional, em Lisboa, desenvolve o seu percurso artístico tanto como guitarrista a solo, com as suas composições próprias, como em banda com João Afonso, Michel - Cadernos de Viagens, José Medeiros, Grupo Normal, sendo um músico eclético, capaz de abordar diversos estilos musicais. Mais recentemente, igualmente acompanha à guitarra os cantautores Francisco Fanhais e Manuel Freire.

No campo da música improvisada e contemporânea, tem experiência em espectáculos de poesia sonora com o colectivo Ó da Guarda, Américo Rodrigues e José Medeiros. Também participou como guitarrista nos projectos Trio de Guitarras Tactus e Coro dos Tribunais.

INFORMAÇÃO | INFORMATION
Com Correspondências comemoramos 38 anos de caminho, festejando este projecto iniciado em 1987 por Ana Maria Viegas ao qual me juntei definitivamente em 2006 mergulhando de corpo inteiro, porque só assim era possível acompanhar na continuidade a dedicação sem limite e de entrega total.

Esta exposição poderia ter outro nome Correspondências e Cumplicidades, e claro está, sempre no Azulejo, porque é sempre no e com o azulejo que vamos construindo este grande Mural no Tempo, provocando diálogos entre gerações e expressões artísticas.

Com a “Anunciação” primeiro painel de Graça Morais de 1989, convidámos Virgínia Fróis, artista ceramista com quem há muito tempo queríamos trabalhar, que nos permite este mágico diálogo com duas peças “Ovo” e “Fuso” trazendo para as três dimensões o imaginário de um começo - que se constrói vindo da terra misturada com o ar, a água e o fogo que congrega.

“Meninas a subir às árvores” painel de Menez de 1990, volta a ligar-nos à terra que nos dá o alimento. A apanha dos frutos que a terra nos oferece e os tanques da agua que vai faltando, lembra-nos a importância dos elementos fundamentais à vida.

“Cães”, painel original de Graça Morais de 1997 e “Caracóis”, azulejos múltiplos de Júlio Pomar de 1993, permitem-nos regressar a Pedro Tamen, voltando a mostrar os seus poemas em diálogo estreito com os azulejos de Graça Morais e Júlio Pomar.

Festejamos entre amigos este aniversário ao som da flauta do "Palhaço" primeiro painel de Júlio Pomar e dos improvisos na guitarra do nosso amigo Rogério Pires porque aqui acontecem sempre as Cumplicidades.
Tiago Montepegado
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“Cães Parietais”
Não são profissionais da caça, mas muitos a fazem.

Nem peritos da corrida, mas muitos têm de correr se lhes sai ao caminho a sorte macaca.

Não vão buscar o jornal ao dono. (Nem, aliás, o dono ao jornal.)

Ninguém os leva à rua: Quando muito, às vezes, alguém lhes permite uma casa. A sua única habilidade é serem hábeis. Mourejam duro pelos friskies que não têm.

Fraldiscam, cheiricam.

Esgueiram-se pelos atalhos ou pelas bermas do caminho mais largo, para que nada os perturbe na sua interminável tarefa de reconhecer um mundo que é sempre o mesmo, mais árvore menos árvore, mais poste menos poste, mais pedra menos pedra – mas que nunca está terminado, salvo com eles terminados. (O que obviamente acontece, mas sabe-se lá como.)

Passam da aldeia à orla do mato com a mesma novidade nos olhos. Pulguentos por isso mesmo humaníssimos como nenhuns outros. Entregues à modorra, que pouco se adianta à espera do toque do relógio da fome. (Sonhando então? Claro. Mas não de mais, porque isso os tornaria ansiosos.) Gordos, só por maleita. Magros nem sempre. Uma ou outra ferida, mas só no couro exterior: os sentimentos são invulneráveis. Cheiram, cheiram, cheiram: pinheiro, esteva, um despejo da véspera, um osso arqueológico, papel, saco de plástico, cu fraterno.

Os cães. Digo: Estes cães de Graça Morais.

Como tudo o que lhe passa ou passou pelo pincel – mulheres, frutos, santos de capela aldeã, objectos avulsos, seja o que for ou tenha sido -, eles são pequenos artífices, humildes engrenagens de um amado universo de anonimato. «Que a morna brisa aquece», sim, mas vivos, vivos de uma vida que tende a passar ao lado de quase tudo, a começar por nós.

Lá vão eles: esgueiram-se.

Ora vejamos…

© Pedro Tamen . Maio de 1997
.
“Caracóis”

No chão do mundo roça
O seu sapato húmido
e faz silêncio.

Desliza, liso
Pé, lisa palma
Sobre a ruga da pedra
- suave, lima obstinada.

Mais agarrado à terra
Não há que o caracol:
Anteu tranquilo.

O caracol conhece pouco mundo,
Mas é colado a ele
Que o conhece.

Colado ao mundo,
Calado sobre o mundo.

© Pedro Tamen . 1992
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