"É de Cultura como instrumento para a felicidade, como arma para o civismo, como via para o entendimento dos povos que vos quero falar"

Teatro

Teatros do Parque Mayer - Breve Evocação

Distrito: Lisboa
Concelho: Lisboa

Tipo de Património
Teatro
Estilo(s)
Art Déco
Proprietário/Instituições responsáveis
Câmara Municipal de Lisboa
Descrição

Esta nota não se refere tanto ao Parque Mayer em si mesmo considerado, como recinto de diversões variadas sobretudo até aos anos 60/70 – da patinagem aos carrinhos de automóveis, da luta livre aos recintos de tiro – mas sim, à concentração e atividade de teatros – edifícios, companhias, espetáculos – que até hoje, mas hoje bem menos, marcam e simbolizam o recinto.

A partir de 1922 estreou-se no Parque Mayer com a revista “Lua Nova” de Ernesto Rodrigues, Félix Bermudes e João Bastos, um teatro “provisório”, depois progressivamente melhorado, ao qual se deu o nome da atriz Maria Vitória. Esse edifício ainda lá está, como estão os Teatros Variedades e o Cinema e Teatro Capitólio. Outros desapareceram, em especial um improvisado Teatro ABC dos anos 60. O Capitólio sofre há anos obras de alteração: e neste momento só o Variedades está em funções.  E no entanto, de acordo com Jorge Trigo e Luciano Reis, “o Maria Vitória foi sempre o mais popular do Parque Mayer e onde mais se representou o teatro de revista”.

Importa entretanto evocar uma tradição de espetáculos na zona urbana que se prolonga desde mais ou menos metade do que é hoje a Avenida da Liberdade, até aos Restauradores. Temos aliás referido essa continuidade, no tempo e na cidade, que passa pelo velho Teatro do Salitre, pelos sucessivos Teatros Condes que vêm do seculo XVIII, pelo Coliseu e Politeama que “absorveu” o Olimpia, pelo Tivoli de Raul Lino nos anos 20, pelos sucessivos Eden Teatro e depois Cinema, ou pelo São Jorge nos anos 50.

Sob o ponto de vista arquitetónico, o que vale hoje a pena recordar, e não obstante as posteriores decorações art déco do Maria Vitória, é o conjunto do Variedades e do Capitólio frente a frente na zona central do Parque Mayer. Mas por maioria de razão se evoca antes o pórtico de entrada do recinto, da autoria do arquiteto Luís Cristino da Silva. Data de 1930, e serviu e serve ainda hoje de ”antevisão” estilística do próprio Capitólio, também de Cristino, inaugurado como cinema no ano seguinte. E este, além das excelentes condições da sala, viria a introduzir uma inovação: o acesso ao primeiro balcão por meio de um tapete rolante. No Verão projetava filmes ao ar livre no terraço.

Em frente, o Teatro Variedades, projeto do arquiteto Urbano de Castro, mantém traços originais da decoração da fachada, muito própria da época na conjugação das curvas fechadas sobrepostas por um alçado retangular dominante.    

José Manuel Fernandes considera no entanto o Capitólio a mais interessante das construções do Parque Mayer. “Foi um verdadeiro acontecimento arquitetónico, que marca o início da arquitetura modernista em Portugal." (…) Era mais do que um cinema, incluindo music-hall, teatro e esplanada ao ar livre. E Félix Ribeiro assinala que o próprio Cristino terá transformado uma sala mais pequena, utilizada inicialmente em espetáculos de “variedades” como na altura se dizia, no 2º balcão da sala principal. O primeiro balcão era enquadrado por camarotes.

Mas o projeto inicial já potenciava, através de um palco de boas dimensão e de espaços e equipamentos adequados, uma vocação de cineteatro, ou mesmo de Teatro Nacional e internacional. Tal como refere Marina Tavares Dias “o Capitólio (…) evidenciava (…) o chamariz que o parque se tornara para a cidade inteira”: e de facto, com o tempo, o Parque Mayer ganha novas valências de espetáculo. Mesmo no que diz respeito ao teatro, não só deixou de ser exclusivo da revista como se transforma num vasto recinto de variadas atividades recreativas, algumas hoje insólitas: basta recordar as enchentes dos torneios de luta livre, suspeitando no entanto parte do público que estaria antecipadamente tudo combinado entre os lutadores!

No ponto de vista da atividade teatral, salientamos dois momentos específicos do Capitólio. Em 1960, instalou-se a Companhia de Teatro de Maria Della Costa e Sandro Polónio, vinda diretamente do Rio de Janeiro para uma estadia prolongada. Foi aliás um ano rico em espetáculos de companhias estrangeiras em Lisboa – a também brasileira companhia de Cacilda Becker, uma companhia espanhola no Trindade, duas companhias francesas no Tivoli: e para fechar a temporada, “La Leçon” e” Les Chaises” de Ionesco no Festival de Sintra com a presença do autor, que tivemos ensejo de acompanhar numa detalhada visita a Lisboa.

Mas no que refere o Capitólio, Maria Della Costa estreou “A Alma Boa de Se-Tsuan” de Brecht: e um grupo de espetadores, devidamente programados, na primeira sessão contestou o espetáculo com interrupções e vaias, o que motivou, na sessão seguinte (a que assistimos) uma intervenção prévia de Sandro Polónio, devidamente aplaudida…

Outra grande fase teatral do Capitólio ocorreu em 1967, quando albergou a Empresa Rey Colaço-Robles Monteiro, vinda do segundo incêndio dos Teatros – o Nacional de D. Maria II em 1964 e o Avenida em 1967.

Tal como já noutro lado escrevemos, arquitetonicamente, e não obstante as sucessivas alterações, o Capitólio marca efetivamente uma expressão inovadora, por exemplo na fachada dominada pela coluna ou torre central.

E num estudo recente, Margarida Acciaiuoli analisa o historial do Capitólio e do próprio Parque Mayer no ponto de vista arquitetónico e urbanístico, assinalando, no que se refere especificamente ao cinema-teatro que “é possível defender que a ideia que nele se efetiva não só destronou certos códigos convencionais que vigoravam na conceção dos cinemas, como também fixou algumas das premissas  que o modernismo trazia”.
Vamos ver como fica depois das obras em curso.

Morada
Travessa do Salitre (Av. da Liberdade)
Lisboa
Telefone
213426361
Fonte de informação
Duarte Ivo Cruz
Bibliografia
Jorge Trigo e Luciano Reis - “O Parque Mayer” vol. I;
José Manuel Fernandes - “Cinemas de Portugal” 1995;
Felix Ribeiro - “Cinemas de Portugal” 1978;
Marina Tavares Dias - “Lisboa Desaparecida” vol. IX 2003;
Duarte Ivo Cruz - “Teatros de Portugal”  2005; “Teatros em Portugal – Espaços e Arquitetura” 2008;
Margarida Acciaiuoli - “Os Cinemas de Lisboa – Um Fenómeno Urbano do Século XX” 2012.
Data de atualização
25/11/2020
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