Música
Concerto Scarlatti y Nebra: Stabat Mater
No próximo dia 8 de outubro de 2025, La Grande Chapelle apresentará, no Palácio Nacional de Mafra, um programa dedicado a Domenico Scarlatti e José de Nebra, dois compositores ligados à corte madrilena do século XVIII.

8 Out 2025 | 20h30
O concerto reúne os seus Stabat Mater juntamente com duas Salve Regina, num repertório que permite redescobrir a música sacra da época borbónica e os vínculos culturais entre Espanha, Itália e Portugal.
Este concerto excecional é organizado pelo Centro de Estudos Europa Hispânica (CEEH) e pelo Centro Europeu de Música (CEM), em colaboração com a Câmara Municipal de Mafra. Faz parte de um projeto que inclui igualmente a gravação e produção de um CD intitulado «Domenico Scarlatti e José de Nebra: Stabat Mater», integrando-se também no programa pan-europeu Via Scarlatti do CEM.
P R O G R A M A
Stabat Mater
a 10 (ca. 1715)
Domenico Scarlatti (1685-1757)
Stabat Mater
Cuius animam gementem
Quis non posset
Eia Mater, fons amoris
Sancta mater, istud agas
Fac me vere tecum flere
Iuxta crucem
Inflammatus
Fac ut animae
Amen
Salve Regina
para soprano, com violinos, viola e baixo em Lá maior (ca. 1756)
Domenico Scarlatti
Salve Regina
Ad te clamamus
Eia ergo
Nobis post hoc
O clemens
Amen
Salve Regina
a 4 com violinos (1751)*
José de Nebra (1702-1768)
Stabat Mater
a 4 com violinos e flautas (1752)
José de Nebra
Duração total: ca. 65:00 (sem intervalo)
*Recuperação musicológica e estreia em tempos modernos
Scarlatti e Nebra na corte
Domenico Scarlatti (1685–1757) e José de Nebra (1702–1768) encontraram-se na corte de Madrid a partir de 1733, quando o primeiro acompanhou a princesa portuguesa D. Maria Bárbara de Bragança, sua discípula de cravo, por ocasião do casamento com o futuro rei Fernando VI.
Scarlatti, formado na tradição napolitana e ativo durante alguns anos em Roma, manteve uma estreita relação artística com D. Maria Bárbara desde a sua chegada a Lisboa em 1719 até ao fim dos seus dias. O aragonês José de Nebra, por seu lado, era já desde 1724 organista da Capela Real, instituição onde anos mais tarde viria a ser vice-mestre.
Ambos partilharam protetores numa Madrid cosmopolita, onde confluíam as correntes musicais mais modernas da Europa. Scarlatti compôs, desde a sua época italiana, um corpus imenso de sonatas que renovaram a técnica e a expressividade do cravo. Nebra, por seu lado, destacou-se na cena madrilena com zarzuelas e comédias, incorporando formas tradicionais espanholas e elementos da ópera italiana. Simultaneamente, foi o grande artífice da renovação da música sacra após o incêndio do Alcázar em 1734.
Em torno de Scarlatti e Nebra formou-se toda uma geração de músicos da Capela Real, entre os quais se salientam Antonio Soler ou José Lidón, que receberam o seu magistério. A sua convivência na corte de Fernando VI e D. Maria Bárbara reflete um momento excecional da cultura musical da Península Ibérica, no qual tradição e inovação dialogaram de modo singular. O concerto centra-se na produção religiosa e mariana de ambos os músicos.
Stabat Mater
O Stabat Mater de Domenico Scarlatti, para dez vozes e contínuo, é geralmente considerado a sua obra religiosa mais importante. É atribuído ao período romano do compositor, quando assumiu o cargo de mestre da Cappella Giulia de S. Pedro em Roma em 1714. A partitura combina secções em stile antico, tributárias da tradição litúrgica, com passagens em stile misto, onde o contraponto se funde com a expressividade melódica do barroco tardio, alcançando uma das sínteses mais logradas da sua produção sacra.
José de Nebra, por seu lado, compôs a sua versão da sequência em 1752. Conserva-se na Catedral de Ávila e a sua formação — quatro vozes (duas sopranos, contralto e
tenor), violinos, flautas e baixo contínuo — corresponde provavelmente a uma adaptação local de uma obra proveniente do Palácio Real de Madrid hoje desaparecida.
A composição organiza-se em secções diferenciadas que seguem as dez estrofes do poema, encadeadas de forma contínua. A sua escrita reflete de modo particular os recursos dramáticos que Nebra havia desenvolvido nos palcos madrilenos.
As Salve Regina
O programa completa-se com duas antífonas marianas. A Salve Regina em Lá maior de Domenico Scarlatti, composta em Madrid por volta de 1756, está escrita para voz solista com acompanhamento de cordas. Alterna secções líricas com passagens de grande virtuosismo vocal, revelando a influência do âmbito operático.
Também conservada na Catedral de Ávila, a Salve Regina de Nebra, a quatro vozes e datada de 1751, será interpretada pela primeira vez em tempos modernos. Trata-se de uma obra breve, escrita com clareza e eficácia, que reflete a simplicidade e a graça compositiva de Nebra, já então nomeado vice-mestre da Capela Real.
O Palácio Nacional de Mafra
A escolha de Mafra como cenário sublinha o vínculo histórico entre Portugal e Espanha. O Palácio-Convento, fundação de D. João V, esteve diretamente ligado a D. Maria Bárbara de Bragança, filha do rei português e discípula de Scarlatti. O concerto evoca assim a circulação de músicos e repertórios na Península Ibérica do século XVIII, unindo património português, italiano e espanhol num mesmo programa.
O Palácio Nacional de Mafra é um sítio inscrito na Lista do Património Mundial da UNESCO desde 2019, constituindo um importante centro patrimonial e musical na Europa.
La Grande Chapelle
La Grande Chapelle é um conjunto vocal e instrumental de música antiga com vocação europeia, dirigido por Albert Recasens, cujo objetivo principal é oferecer uma nova leitura das grandes obras vocais espanholas dos séculos XVI a XVIII, com especial predileção pela produção policoral do Barroco. Ao mesmo tempo, pretende contribuir para a urgente tarefa de recuperação do repertório musical hispânico.
La Grande Chapelle atuou nos principais ciclos de Espanha e em festivais como os de Cervantino de Guanajuato, Radio France, Saint-Michel en Thiérache, Saintes, Lyon, Herne, Cremona, Estocolmo, La Valetta (Malta), Resonanzen de Viena, Utrecht, etc., ou nas temporadas da Cité de la Musique de Paris, UNAM do México, deSingel (Antuérpia), Teatro Mayor (Bogotá), Gran Teatro Nacional de Lima, entre outros.
Desde a sua fundação em 2005, e animada pela vontade de difundir o património musical hispânico, criou o seu próprio selo, Lauda, com o qual edita cuidadas gravações de grande interesse musical e musicológico, a partir de uma posição independente. Pela sua qualidade e solvência artística, os discos de La Grande Chapelle / Lauda obtiveram galardões e prémios nacionais e internacionais de prestígio reconhecido no mundo da música antiga, como dois “Orphées d’Or”, “5 de Diapason”, “Excepcional” de Scherzo, “Choc de Classica”, “Preis der deutschen Schallplattenkritik” (PdSK), “Editor’s Choice” e “Critic’s Choice” de Gramophone, entre outros.
Sobre os organizadores
Centro de Estudos Europa Hispânica
O Centro de Estudos Europa Hispânica (CEEH) é uma entidade que fomenta o hispanismo internacional através de publicações, documentários, congressos e exposições. Promove igualmente a difusão e recuperação da música espanhola mediante concertos e gravações. O seu catálogo editorial, com mais de cento e cinquenta títulos em várias línguas, recebeu numerosos prémios e distinções nacionais e internacionais.
Centro Europeu de Música
O Centro Europeu de Música (CEM) é uma instituição privada cuja missão é situar a música no centro da sociedade e revelar os seus múltiplos benefícios em todos os domínios da atividade humana.
O CEM, primeiro ecossistema pan-europeu que desenvolve uma visão holística e transdisciplinar da música, inscreve-se no quadro da Agenda 2030 das Nações Unidas e tem por missão impulsionar projetos musicais com vocação societal que explorem o poder transformador da música, a fim de amplificar o seu impacto positivo e lançar pontes entre o património tangível e intangível, bem como entre as gerações.